Pessoas de máscaras em São Paulo: mercado prevê queda de 5,6% do PIB em 2020 (Jonne Roriz / Bloomberg/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 13 de agosto de 2020 às 15h20.
Última atualização em 13 de agosto de 2020 às 15h33.
O Brasil, que enfrenta o surto de Covid-19 mais grave na América Latina, emerge com a recessão mais leve da região neste ano, graças à reabertura mais rápida da economia e medidas de estímulo temporárias.
Atrás apenas dos EUA como epicentro global do vírus, o país registrou desempenho acima expectativas de economistas em indicadores como produção industrial e vendas no varejo, em meio à retomada de operações das fábricas e bilhões em ajuda emergencial do governo.
Economistas que acompanham tendências de mobilidade na pandemia também veem evidências de que o país lidera a retomada. Gustavo Rangel, economista-chefe para a região do ING Financial Markets, aponta para dados de visitas aos locais de trabalho que mostram “recuperação mais rápida no Brasil” em comparação com países vizinhos.
“O Brasil se beneficiou por manter alguns setores da economia abertos”, disse Marco Oviedo, chefe de pesquisa econômica para a América Latina do Barclays. No entanto, ele advertiu que voltar ao trabalho não significa ignorar as recomendações de distanciamento social. “É preciso enviar uma mensagem de que isso é sério.”
Dados recentes levaram o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a considerar a previsão da própria instituição - queda de 6,4% do PIB em 2020 - muito pessimista. A pesquisa Focus indica retração de 5,6% neste ano. De qualquer forma, a estimativa é bem melhor do que as projeções para seus principais concorrentes regionais, México e Argentina, cujas economias devem encolher 9,8% e 12,5%, respectivamente.
A perspectiva não passou despercebida pelos investidores, e o Ibovespa acumula alta de 30% nos últimos três meses.
No entanto, economistas temem que a contínua propagação do vírus no país ainda possa atrasar a recuperação econômica. E muitos alertam que indicadores melhores do que o esperado podem ter mais a ver com programas de assistência do que flexibilização de restrições das quarentenas.
Além disso, o PIB por si só não determina a saúde de uma economia. O impacto do vírus no Brasil, com mais de 3 milhões de casos e mais de 100 mil mortes, leva até alguns dos políticos mais adeptos ao mercado a questionarem a insistência do presidente Jair Bolsonaro em colocar os empregos em primeiro lugar.
Enquanto Bolsonaro pressiona para reabrir empresas a qualquer custo, governos da América Latina enfrentam o dilema de saber até que ponto as economias devem permanecer abertas - e como mantê-las à tona quando fecham - ao mesmo tempo que combatem a propagação do vírus.
“Você tem todos esses experimentos diferentes na região com diferentes graus de quarentenas, mas com pouco sucesso”, diz Liliana Rojas-Suarez, diretora da Iniciativa para a América Latina do Centro para o Desenvolvimento Global. “O problema é que simplesmente não é viável.”
Salvar empregos é particularmente difícil na América Latina, onde mais da metade da força de trabalho está no mercado informal. O Barclays estima que mais de 27 milhões de empregos já foram perdidos.
Em outros países, os governos impuseram medidas muito mais rígidas.
As quarentenas ainda estão em vigor no Chile e na Argentina. Ambas as capitais, Santiago e Buenos Aires, tentaram suspender as quarentenas nos primeiros dias da pandemia, mas tiveram que implementá-las novamente. Colômbia e Peru mantiveram as economias fechadas até abril. E o México manteve os setores de construção e manufatura fechados até junho.
Dada a incerteza em relação ao combate ao vírus, economistas preferem não destacar uma estratégia vencedora, por enquanto. E como Alberto Ramos, chefe de pesquisa para a América Latina no Goldman Sachs, aponta, qualquer retomada é relativa.
“Como esses números vêm após um colapso tão grande, não há razão para uma volta da vitória”, disse.