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Em Davos, banqueiros têm dificuldades em convencer elite

Em Davos, eles tentam convencer a elite de que o sistema financeiro está mais seguro que cinco anos atrás, quando mergulhou na crise

Davos: em uma votação durante o fórum, quase 40% dos 100 presentes na plateia disseram que os mercados ainda não estavam mais seguros (REUTERS/Ruben Sprich)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 10h54.

Milão e Londres - Os altos executivos bancários estão tendo dificuldades para convencer a elite empresarial do mundo em Davos de que o sistema financeiro está mais seguro que cinco anos atrás, quando mergulhou na crise.

No que se transformou em uma luta anual com sparring entre banqueiros e seus críticos, o presidente da HSBC Holdings Plc, Douglas Flint, e o CEO da Barclays Plc, Antony Jenkins, dois dos principais banqueiros britânicos, ontem enfrentaram críticas de Paul Singer, o gerente bilionário de hedge-fund que administra a Elliott Management Corp., com sede em Nova York, e do professor da Universidade de Stanford, Anat Admati, em um debate no Fórum Econômico Mundial.

“Não pode ser que essa segurança venha de melhorias relativamente modestas em certas métricas e de mais algumas meias medidas dos setores privado e político”, disse Singer, cujo hedge fund com sede em Nova York gerencia US$ 24 bilhões.

“Devido à incapacidade dos investidores para entender a condição financeira das principais instituições financeiras, eles não serão capazes de se equilibrar nas próprias pernas na próxima crise financeira”.

Cinco anos depois que o colapso da Lehman Brothers Holdings Inc. forçou os governos a resgatarem empresas financeiras e levou a uma recessão global, os banqueiros ainda estão lutando para convencer o público de que eles podem evitar uma crise semelhante.

Em uma votação no final do debate, quase 40 por cento dos 100 presentes na plateia em Davos disseram que os mercados ainda não estavam mais seguros. Os serviços bancários e financeiros são os menos confiáveis de todos os setores, segundo uma pesquisa da empresa de relações públicas Edelman, divulgada em 20 de janeiro.


Subsídios do governo

Para Singer, 69, os bancos ainda se beneficiam dos subsídios do governo, enquanto Admati, autor de “The Bankers’ New Clothes: What’s Wrong with Banking and What to Do About It” (“As novas roupas dos banqueiros: o que está errado com os bancos e o que fazer a respeito”, na tradução livre), comparou as revisões implementadas desde o final da crise a uma redução de 10 quilômetros por hora de um limite de velocidade de 140 quilômetros por hora e disse que dívida bancária excessiva e transparência inadequada continuam sendo uma ameaça.

Tanto Jenkins quanto Flint, cujas firmas não receberam resgate do governo durante a crise financeira, argumentaram que o sistema se tornou mais seguro.

“Seria uma reflexão chocante se não fosse assim”, disse Flint à plateia. Os bancos têm três a seis vezes mais capital do que antes da crise financeira, a qualidade de suas reservas melhorou e a supervisão regulatória foi reforçada, disse ele.

‘Sinceros agradecimentos’

Em 2010, em Davos, os políticos pressionaram os banqueiros para que aderissem rapidamente às novas regras, enquanto os executivos disseram que o melhor era proceder com cautela.


Um ano depois, os participantes da indústria financeira declararam que haviam encontrado coisas em comum com seus supervisores, apenas para que a ministra francesa das Finanças à época, Christine Lagarde, rejeitasse os “agradecimentos sinceros” pelos resgates do governo oferecidos pelo então CEO do Barclays, Bob Diamond.

No ano passado, o CEO do JPMorgan Chase Co., Jamie Dimon, defendeu os bancos da culpa pela crise e argumentou que as reguladoras estavam “tentando fazer muitas coisas e muito depressa”.

Neste ano, de volta a Davos como chefe do banco que fechou um acordo para pagar mais de US$ 23 bilhões em 12 meses em multas e liquidações, Dimon não programou aparições públicas. Em vez disso, ele escutou o debate de ontem em pé no fundo da sala.

A profundidade da crise e suas réplicas econômicas significam que “não surpreende” que os bancos ainda sejam alvo de desdém mesmo depois que reforçaram o capital, elevaram a liquidez, reduziram a alavancagem e se desfizeram de seus braços de operações com recursos próprios, disse o CEO do Morgan Stanley, James Gorman a Erik Schatzker e Stephanie Ruhle, da Bloomberg Television.

A melhora da imagem pública do setor dependerá do fortalecimento das economias e de que não sejam cometidos novos erros, disse ele.

“O setor está fazendo bastante”, disse Gorman, ontem, em entrevista. “Eu não sei se você pode contar uma história para a audiência se ela não está pronta para ouvir”.

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No que se transformou em uma luta anual com sparring entre banqueiros e seus críticos, o presidente da HSBC Holdings Plc, Douglas Flint, e o CEO da Barclays Plc, Antony Jenkins, dois dos principais banqueiros britânicos, ontem enfrentaram críticas de Paul Singer, o gerente bilionário de hedge-fund que administra a Elliott Management Corp., com sede em Nova York, e do professor da Universidade de Stanford, Anat Admati, em um debate no Fórum Econômico Mundial.

“Não pode ser que essa segurança venha de melhorias relativamente modestas em certas métricas e de mais algumas meias medidas dos setores privado e político”, disse Singer, cujo hedge fund com sede em Nova York gerencia US$ 24 bilhões.

“Devido à incapacidade dos investidores para entender a condição financeira das principais instituições financeiras, eles não serão capazes de se equilibrar nas próprias pernas na próxima crise financeira”.

Cinco anos depois que o colapso da Lehman Brothers Holdings Inc. forçou os governos a resgatarem empresas financeiras e levou a uma recessão global, os banqueiros ainda estão lutando para convencer o público de que eles podem evitar uma crise semelhante.

Em uma votação no final do debate, quase 40 por cento dos 100 presentes na plateia em Davos disseram que os mercados ainda não estavam mais seguros. Os serviços bancários e financeiros são os menos confiáveis de todos os setores, segundo uma pesquisa da empresa de relações públicas Edelman, divulgada em 20 de janeiro.


Subsídios do governo

Para Singer, 69, os bancos ainda se beneficiam dos subsídios do governo, enquanto Admati, autor de “The Bankers’ New Clothes: What’s Wrong with Banking and What to Do About It” (“As novas roupas dos banqueiros: o que está errado com os bancos e o que fazer a respeito”, na tradução livre), comparou as revisões implementadas desde o final da crise a uma redução de 10 quilômetros por hora de um limite de velocidade de 140 quilômetros por hora e disse que dívida bancária excessiva e transparência inadequada continuam sendo uma ameaça.

Tanto Jenkins quanto Flint, cujas firmas não receberam resgate do governo durante a crise financeira, argumentaram que o sistema se tornou mais seguro.

“Seria uma reflexão chocante se não fosse assim”, disse Flint à plateia. Os bancos têm três a seis vezes mais capital do que antes da crise financeira, a qualidade de suas reservas melhorou e a supervisão regulatória foi reforçada, disse ele.

‘Sinceros agradecimentos’

Em 2010, em Davos, os políticos pressionaram os banqueiros para que aderissem rapidamente às novas regras, enquanto os executivos disseram que o melhor era proceder com cautela.


Um ano depois, os participantes da indústria financeira declararam que haviam encontrado coisas em comum com seus supervisores, apenas para que a ministra francesa das Finanças à época, Christine Lagarde, rejeitasse os “agradecimentos sinceros” pelos resgates do governo oferecidos pelo então CEO do Barclays, Bob Diamond.

No ano passado, o CEO do JPMorgan Chase Co., Jamie Dimon, defendeu os bancos da culpa pela crise e argumentou que as reguladoras estavam “tentando fazer muitas coisas e muito depressa”.

Neste ano, de volta a Davos como chefe do banco que fechou um acordo para pagar mais de US$ 23 bilhões em 12 meses em multas e liquidações, Dimon não programou aparições públicas. Em vez disso, ele escutou o debate de ontem em pé no fundo da sala.

A profundidade da crise e suas réplicas econômicas significam que “não surpreende” que os bancos ainda sejam alvo de desdém mesmo depois que reforçaram o capital, elevaram a liquidez, reduziram a alavancagem e se desfizeram de seus braços de operações com recursos próprios, disse o CEO do Morgan Stanley, James Gorman a Erik Schatzker e Stephanie Ruhle, da Bloomberg Television.

A melhora da imagem pública do setor dependerá do fortalecimento das economias e de que não sejam cometidos novos erros, disse ele.

“O setor está fazendo bastante”, disse Gorman, ontem, em entrevista. “Eu não sei se você pode contar uma história para a audiência se ela não está pronta para ouvir”.

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