Economia

Economistas apontam as raízes da turbulência no mercado brasileiro

Para Lídia Goldenstein, economista da consultoria paulista MB Associados, a economia brasileira está vivendo uma situação paradoxal. O principal problema, diz ela, é que sua capacidade de crescimento está comprometida. "A conjuntura atual permite apenas um crescimento econômico medíocre e não há sinais de mudança no curto prazo", afirma. Segundo Lídia, chegamos a essa situação […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h48.

  • Para Lídia Goldenstein, economista da consultoria paulista MB Associados, a economia brasileira está vivendo uma situação paradoxal. O principal problema, diz ela, é que sua capacidade de crescimento está comprometida.
  • "A conjuntura atual permite apenas um crescimento econômico medíocre e não há sinais de mudança no curto prazo", afirma.

    Segundo Lídia, chegamos a essa situação por causa do elevado endividamento externo. Como o país deve muito no exterior, ele está vulnerável a qualquer alteração no humor internacional.

    Isso impede o país de crescer. Qualquer crescimento econômico eleva as importações, pois o Brasil ainda é bastante dependente de insumos produzidos no exterior. O aumento das importações eleva a necessidade de dólares, o que aumenta a vulnerabilidade externa. "Chegamos a um paradoxo em que o país precisa crescer para reduzir sua vulnerabilidade externa, mas não pode crescer porque o crescimento o torna mais vulnerável", diz Lídia.

    Essa fragilidade ficou clara durante o primeiro semestre. O ano começou bem, com uma expectativa de crescimento do PIB de 2,5%. No entanto, a situação internacional não permitiu uma queda dos juros, como se estava esperando. Por isso, o crescimento não se confirmou.

    Para a economista, há poucas soluções possíveis. O grande desafio é conseguir voltar a crescer sem fazer explodir a vulnerabilidade externa ao mesmo tempo. Como fazer isso? "O Brasil precisa exportar", diz Lídia. O país tem uma relação insustentável entre dívida externa e exportações, e a indefinição política amplifica o problema. "Até agora, os partidos com chance de ganhar não têm uma proposta de política econômica que dê conta do recado."

  • O ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria paulista Tendências, Gustavo Loyola, acredita que o pânico que vem sendo demonstrado pelo mercado financeiro é uma reação ao aumento da incerteza.

    Segundo Loyola, a principal incerteza é se a política econômica do novo governo vai continuar a ser seguida em seus aspectos mais centrais: estabilidade monetária e disciplina fiscal, e dentro disso o regime de metas de inflação.

    O PT é visto como pouco comprometido com essas metas. Ele já tentou desmentir e acalmar esses receios, mas sem muito sucesso. "O partido tem uma tradição de pregar a ruptura, essa ruptura está em seu programa, e tem diferentes pessoas falando diferentes coisas", diz Loyola. Por exemplo, o Ricardo Carneiro fala contra a meta de inflação e a favor da extensão do crédito dos bancos públicos.

    Loyola, porém, critica a atitude do mercado financeiro que está usando as pesquisas como um indicador claro que Lula é o favorito, o que não é correto. "As pesquisas hoje dizem muito pouco sobre as verdadeiras escolhas que os eleitores farão em outubro, elas falam apenas do que o eleitor está esperando agora", diz Loyola.

    Essa incerteza chegou no pior momento possível. O mercado financeiro já estava de mau humor por causa da demora na aprovação da CPMF e da piora dos resultados fiscais. Esse ânimo ruim foi afetado por causa das perdas na Argentina, que tornaram os investidores internacionais muito mais avessos ao risco.

    Além disso, diz Loyola, há muita negociação com base no boato, no ruído, e não na informação. "Você vê todo mundo comprando dólar e compra também, o que acentua as tendências e gera muita volatilidade", diz Loyola.

  • Odair Abate, economista-chefe do Lloyds Bank TSB, afirma que essa volatilidade já era esperada, e não deveria surpreender os investidores.
  • Segundo Abate, este é um ano eleitoral, e esses são períodos tensos em países com as características do Brasil. Para o economista, o melhor exemplo é o que ocorreu no México em junho de 2000.

    Os dois candidatos que estavam disputando o 2º turno eram conservadores, o que teoricamente não oferecia muitos riscos ao mercado financeiro. "Mesmo assim", diz ele, "o peso apresentou uma grande flutuação pouco antes e logo depois da eleição, por causa da perspectiva de mudança no partido que dominava o país há muitos anos."

    O economista diz que o mercado financeiro brasileiro só deverá mudar de humor se houver um fato gerador para isso, e terá de ser necessariamente vinculado à sucessão. Mesmo que as raízes da turbulência sejam financeiras, agora o enfoque da situação mudou. "O que originou toda essa volatilidade pode até não ter tido uma origem política", diz Abate. "Só que foi discutido politicamente com tanta intensidade nas últimas semanas que tornou-se um fato político."

    O economista do Lloyds TSB ressalta que há uma contradição entre entre elementos macroeconômicos razoáveis e o perfil do mercado. "O cenário econômico é positivo", diz ele. Abate enumera os pontos a destacar: a meta com o Fundo Monetário Internacional (FMI) está sendo cumprida pela quarta vez consecutiva, há uma leve recuperação do nível de atividade, a inflação ainda está baixa e a balança comercial permanece superavitária.

  • O economista-chefe do banco BBV, Octávio de Barros, prefere olhar para os inúmeros fatos positivos da economia brasileira, e não para a incerteza eleitoral.
  • Barros destaca que a balança comercial está "no azul" há 14 meses seguidos, algo inédito no Plano Real. Além disso, o governo obtém um superávit primário "impecavelmente cumprido" há 14 trimestres. "A situação está tão boa que se não houvesse calendário eleitoral, os juros estariam em 16% ao ano."

    O que impede que essas boas notícias sejam refltidas nos preços do mercado financeiro é a incerteza eleitoral. Para Barros, mais do que qualquer emergente, o Brasil depende de previsibilidade de seus negócios. E isso vem faltando nos últimos tempos. "O ano de 2001 interrompeu um processo de recuperação cíclica", diz Barros. "Cinco crises dispararam quase que ao mesmo tempo: a quebra da Argentina, a queda da Nasdaq, a briga política no Senado, os atentados de 11 de setembro e a crise de energia."

    Quando o ano, enfim, acabou, foi a vez de os candidatos de oposição interromperem a previsibilidade. "Suas mensagens foram contraditórias com aquilo que o mercado financeiro queria ouvir." E o mercado reage mal, por antecipação, a qualquer candidato que não seja de continuidade. No entanto, Barros considera exageradas as preocupações do mercado.

    "Se quem quer que seja eleito der os sinais adequados ao mercado, a situação poderá melhorar rapidamente", diz Barros. "Afinal, não podemos nos esquecer que o crescimento foi de 4,5% no ano 2000 e que 2001 começou brilhantemente, até os prognósticos serem atropelados pelas crises."

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