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Dois meses de campanha: real desvalorizado e volta da inflação

O último dia de funcionamento do mercado financeiro antes do final das eleições deve ser como outro qualquer. O clima é de véspera de feriado, o volume de negócios está baixo e alguns operadores até arriscam um ar de animação. Foram pouco mais de 60 dias de campanha política, cerca de 50 pesquisas de intenção […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h52.

O último dia de funcionamento do mercado financeiro antes do final das eleições deve ser como outro qualquer. O clima é de véspera de feriado, o volume de negócios está baixo e alguns operadores até arriscam um ar de animação. Foram pouco mais de 60 dias de campanha política, cerca de 50 pesquisas de intenção de voto, especulações de investidores, oscilações da moeda e até a inflação voltou a ser uma preocupação.

O saldo deste período, entretanto, é menos negativo do que se esperava há três semanas. Quem diria: a praticamente certa eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, foi assimilada pelo mercado. "Pelo menos por enquanto. Segunda-feira, depois de eleito, a história começa do zero novamente", diz um analista de um grande banco estrangeiro. Mesmo que o mercado já tenha precificado a vitória petista, com dólar e inflação mais altos e baixo volume de negócios nas bolsas.

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A campanha presidencial começou em junho, mas o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão teve início no dia 20 de agosto. De lá para cá, a taxa de câmbio foi a que mais sofreu alteração. De acordo com o Banco Central, o dólar comercial em 20/08 foi fechado para venda cotado a 3,09 reais. Ontem, a moeda americana seguindo a onda de baixa dos últimos dias fechou a 3,80 reais. Nestes dois meses, a alta do dólar e a conseqüente desvalorização do reaç foi de quase 23%. Esse fato pressionou o núcleo da inflação medida pelo Índice de Preços Amplo (IPCA), e indicador usado pelo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Em agosto, o IPCA foi de 0,65%. No mês seguinte, 0,72% e a estimativa do mercado para outubro é de 0,76%.

Se o câmbio trouxe de volta a inflação - e acabou de forma indireta influenciando a decisão do BC de elevar os juros de 18% ao ano para 21%-, outra sombra passou a fazer parte do dia-a-dia do mercado: a percepção do investidor estrangeiro. Como reagiriam com a possível ascensão do PT? E como aceitariam a ameaça da volta da inflação ao país? O risco-país, que ontem voltou a cair pelo quinto dia consecutivo, chegou ao final da campanha eleitoral a 1 826 pontos. Em 20 de agosto, era de 1 711. Piorou, mas continua abaixo da linha "psicológica" dos 2 000 pontos.

As remessas mensais de dólares ao exterior via contas CC5 -um indicador que pode mostrar a insegurança em relação à economia interna, já que é dinheiro enviado oficiamente pagando impostos- não teve alterações significativas. Em agosto de 2002 saíram do país 1,63 bilhões de dólares. Em outubro, até o dia 11, o volume era de 565 milhões. Também não houve grandes mudanças nas reservas internacionais, que passaram de 38 bilhões de dólares para 35,5 bilhões. Já o ingresso líquido de investimentos estrangeiros diretos foi de 1,2 bilhão de dólares em setembro, contra 882 milhões de agosto.

O mercado acionário -que também sofreu pressões das bolsas dos Estados Unidos, influenciadas negativamente pelo Iraque e pelas empresas americanas- encerra o processo eleitoral com menor volume de negociação. No dia 20 de agosto, o Ibovespa fechou em 10 455 pontos. Ontem, mesmo depois de cinco dias consecutivos em alta, a bolsa marcou 9 799 pontos.

Esta semana, a última antes do turno decisivo das eleições, foi marcada por boas notícias e altas expectativas. Alguns analistas ressaltam que, por isso, a primeira semana com o novo presidente eleito deve ser pior -independentemente do discurso do vencedor.

As declarações dos integrantes do PT reafirmam o compromisso com a manutenção da disciplina fiscal e a estabilidade dos preços. Tal postura pode ser formalizada com a indicação de nomes bem aceitos pelo mercado para ocupar a presidência do BC, do Ministério da Fazenda e do Desenvolvimento. "Isso influenciaria positivamente a retomada do otimismo pelo mercado", diz o relatório de conjuntura econômica do Lloyds TSB. Mas o reflexo positivo disso no preço dos ativos e na confiança do mercado só será concretizado a medida que Lula e PT passem do discurso à ação. E sejam bem-sucedidos.

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