Doações para iniciativas de combate ao coronavírus chegam a R$ 3 bilhões
Instituições financeiras foram as que mais contribuíram. Total de doadores ultrapassa 100 mil empresas, fundações e indivíduos
Rodrigo Caetano
Publicado em 20 de abril de 2020 às 09h06.
Última atualização em 20 de abril de 2020 às 09h49.
A filantropia no Brasil atingiu um novo patamar com a pandemia de coronavírus. As doações para iniciativas de combate à covid-19 alcançaram 3,18 bilhões de reais, segundo monitoramento da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR).
Em pouco mais de um mês, as entidades filantrópicas praticamente arrecadaram o mesmo valor registrado em todo o ano de 2018, quando a filantropia movimentou 3,25 bilhões no Brasil, de acordo com censo bianual realizado pelo Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), entidade que reúne 150 grandes doadores. O valor já é maior do que a média dos últimos cinco anos, que foi de 2,8 bilhões de reais, segundo relatório da Comunitas, organização social especializada em parcerias público-privadas.
O número de doadores, segundo a ABCR, ultrapassou os 100 mil, entre empresas, fundações e indivíduos. As instituições financeiras foram as que mais contribuíram: 1,62 bilhão de reais, o equivalente a 51% do total. O banco Itaú se destacou dos demais, com doações que somaram mais de 1,25 bilhão. O setor de mineração, graças a uma contribuição de 500 milhões feita pela vale, ficou na segunda colocação entre os maiores da filantropia, respondendo por 17% do total.
O papel da filantropia
Com a pandemia, a filantropia entra em uma nova etapa no Brasil. A cultura da doação, embora disseminada entre a população, que costuma contribuir com pequenos valores, nunca esteve enraizada na elite. Em média, o País destina 0,2% do PIB para ações filantrópicas, de acordo com o relatório Giving Report, produzido pela Charities Aid Foundation, entidade britânica de apoio à filantropia, e pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social. No Reino Unido, esse valor gira em torno 0,5% e, nos Estados Unidos, 1,4%.
Essa nova fase da filantropia não se limita aos valores doados. “Buscamos investimentos que sejam estruturantes”, afirma Claudia Politanski, vice-presidente do Itaú Unibanco. O objetivo é que as ações para o combate ao novo coronavírus deixem um legado para o País, especialmente em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS). A filantropia, diz ela, tem um papel importante no desenvolvimento econômico dos países, ao ocupar espaços em que o governo não consegue atuar, seja por incapacidade ou desconhecimento. “A filantropia não compete com o setor público, ela complementa”, afirma.
Na crise do novo coronavírus, a importância dessa complementaridade ficou evidente, por exemplo, nas favelas. O terceiro setor foi mais rápido que o governo em ajudar esses territórios. Somente a Central Única das Favelas (Cufa), organização não governamental que atua em mais de 400 municípios, distribuiu 7 mil toneladas de produtos doados, entre alimentos e material de higiene e limpeza, que beneficiaram 583 mil famílias.
Com ajuda da Fundação Unibanco, a Cufa também criou um programa de transferência direta de renda, o Mães da Favela. O projeto oferece uma bolsa de 120 reais, por dois meses, a 50 mil famílias. O pagamento é feito eletronicamente, por meio de parcerias com as empresas de pagamento VR, Ticket e PicPay.
A pandemia e a eficiente atuação do terceiro setor para mitigar os efeitos da crise também demonstram a importância de se investir na estrutura das ONGs. “No Brasil, existe essa ideia de que todo recurso deve ir para o projeto”, afirma Leonardo Letelier, fundador da Sitawi, organização social que desenvolve soluções financeiras para entidades filantrópicas. “Mas, não investir em profissionais e na estrutura da organização reduz a eficácia das ações”. Para Letelier, o terceiro setor sairá fortalecido dessa crise.