Euro: o responsável do BID considerou que as reformas aplicadas pelo Executivo espanhol estão dando seus primeiros frutos. (Dan Kitwood/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2013 às 16h31.
Santiago do Chile - A América Latina constitui o "melhor exemplo" para a Espanha de que as crises econômicas podem ser superadas, afirmou nesta sexta-feira o economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o espanhol José Juan Ruiz, durante uma conferência realizada em Santiago do Chile.
"A melhor forma que a Espanha tem para recuperar a esperança é olhar para um continente que passou por muitas destas mesmas histórias e saber que dali se saiu", disse Ruiz durante o ato organizado pelo Conselho Empresarial para a Competitividade (CEC), que agrupa quinze das principais empresas espanholas.
O analista do BID, principal palestrante da conferência "Espanha, um País de Oportunidades", argumentou que os debates sobre a crise e a estratégia para superá-la já ocorreram na América Latina na segunda metade do século passado, quando grande parte dos países da região foram afetadas por agudas crises políticas e econômicas.
"América Latina deveria ter sido durante os últimos cinco anos uma fonte de experiência e de conhecimento partilhado", assegurou o economista.
Ruiz explicou que o Produto Interno Bruto (PIB) espanhol caiu 5% desde 2008, embora tenha frisado que o "problema real" da economia é o desemprego, que já supera seis milhões de pessoas, ou 27% da população economicamente ativa.
"Temos um problema de crescimento, mas o que de verdade temos é uma crise de emprego", disse Ruiz, lembrando que entre 2008 e 2010 foram destruídos 2,5 milhões de postos de trabalho na Espanha, a metade deles no setor da construção.
A Espanha aprendeu com os erros cometidos e chegou à conclusão de que o modelo de crescimento da década de 90 e dos primeiros anos deste século "não era sustentável".
O responsável do BID considerou que as reformas aplicadas pelo Executivo espanhol estão dando seus primeiros frutos.
O principal indicador desta tendência, disse, é a redução do déficit em conta corrente e a previsão de que a Espanha fechará 2013 com um superávit de 1% do PIB.
Esta subida se deve, principalmente, a um aumento "significativo" das exportações, que superaram os níveis prévios à crise graças ao aumento da competitividade e a um ajuste dos custos trabalhistas, sustentou Ruiz.
O economista lembrou que a Espanha registrou em 2007 um déficit em conta corrente de 10% do PIB, equivalente a cerca de US$ 150 bilhões, a maior taxa em nível mundial.
Ruiz aconselhou aos empresários que assistiram a conferência que se antecipem ao mercado e invistam "agora" na Espanha, e não quando o país voltar a ter um crescimento sustentado.
Em declarações à Agência Efe, o também gerente do departamento de pesquisa do BID disse que a Espanha foi "historicamente" um receptor de investimento estrangeiro direto e indicou que o marco regulador espanhol oferece segurança jurídica para o capital externo.
Ruiz sustentou que muitas empresas espanholas médias podem ser "um bom parceiro" para as companhias latino-americanas que buscam "entrar em mercados mais maduros" e se proteger da volatilidade de receita própria dos mercados emergentes.
"As empresas espanholas se internacionalizaram na América Latina há quinze anos, não há nenhuma razão para pensar que o processo não possa ser simétrico e que a Espanha possa ser a via de internacionalização de algumas empresas latino-americanas que têm músculo e tecnologia para ir para exterior", disse.
Segundo sua opinião, os setores da economia espanhola que oferecem maiores possibilidades são turismo, biotecnologia, agricultura, lazer e cultura.
O objetivo do encontro realizado em Santiago, do qual também participou o economista chileno Vittorio Corbo, era apresentar as conclusões do documento "Espanha, um país de oportunidades", elaborado pelo Conselho Empresarial para a Competitividade e que analisa as perspectivas da economia do país ibérico.
Corbo, que presidiu o Banco Central do Chile entre 2003 e 2007, destacou que a economia espanhola registrou "uma grande ganho de competitividade", algo que também foi reconhecido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Conselho Empresarial para a Competitividade é integrado por companhias espanholas como Telefônica, El Corte Inglés, Mango, Grupo Barceló, Banco Santander, Repsol, Acciona, La Caixa, BBVA, Inditex, Grupo Planeta, Mapfre, ACS, Ferrovial, Havas Media Group, Mercadona, Iberdrola e o Instituto de Empresa Familiar (IEF).