Economia

Diretor de política monetária do BC pede demissão

O diretor de política monetária do Banco Central (BC) pediu exoneração do cargo hoje (28/7). Assim como o presidente do banco, Henrique Meirelles, o diretor Luiz Augusto Candiota foi alvo de denúncias de sonegação e enriquecimento ilícito em uma reportagem. Candiota e Meirelles estariam sendo investigados pelo Ministério Público e pela CPI (Comissão Parlamentar de […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h54.

O diretor de política monetária do Banco Central (BC) pediu exoneração do cargo hoje (28/7). Assim como o presidente do banco, Henrique Meirelles, o diretor Luiz Augusto Candiota foi alvo de denúncias de sonegação e enriquecimento ilícito em uma reportagem. Candiota e Meirelles estariam sendo investigados pelo Ministério Público e pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Banestado por suspeita de sonegação fiscal, evasão de divisas e omissão fiscal.

Em comunicado oficial, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, encaminhou, hoje mesmo, ao presidente Lula a indicação, em comum acordo com o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, do nome de Rodrigo Azevedo para substituir Candiota.

Azevedo é gaúcho de Porto Alegre, bacharel em economia pela Universidade de São Paulo, doutor em economia pela Universidade de Ilinois (EUA). Foi analista da Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo. Rodrigo é diretor executivo do Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston (CSFB), trabalhando na instituição desde 1994, quando ingressou no Banco de Investimentos Garantia S. A.

Candiota encaminhou o pedido de demissão em caráter irrevogável. Ele manifestou seu "desejo pessoal de retornar a vida privada ". Candiota estava no Banco Central desde março de 2003.

Leia a íntegra do pedido de exoneração de Candiota:

"Prezado Presidente do Banco Central do Brasil, Senhor Henrique Meirelles

Nesta data encaminhei ao Ilmo. Sr. Ministro de Estado da Fazenda meu pedido de exoneração imediata do cargo de Diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Sinto-me na obrigação de enunciar a V. Exa as razões de ordem pessoal que me levaram a esse gesto, solicitando que delas seja dada publicidade, em função da posição pública que ocupo.

Sempre militei na iniciativa privada, onde posso me orgulhar de ter desempenhado as atribuições que me foram cometidas com êxito e ter pautado minha conduta de forma ética e digna. Quando fui convidado por V.Exa para o honroso cargo de Diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil outra motivação não tive senão a de procurar servir ao meu país. E devo dizer que me encontro realizado profissionalmente pelo que fiz, ainda que sentindo não ter podido fazer mais em decorrência dessa interrupção a que me vi obrigado.

Quando em março de 2003, assumi a diretoria, junto com a equipe chefiada por V.Exa, encontramos, todos nós, um quadro de incertezas que colocavam a economia brasileira em um de seus momentos mais difíceis. A inflação em bases anuais beirava os 17% ªª, os juros estavam em 26,5% ªª, a volatilidade cambial era constante, as contas externas estavam ainda frágeis e aproximadamente 35% de nossa dívida pública interna estava atrelada à variação cambial.

Dezesseis meses depois, fruto da política implementada, cuja responsabilidade, como é óbvio, não deve ser atribuída somente a mim, que contribuí com pequena parcela, mas a V. Exa, a toda a equipe, ao Ministro Antonio Palocci, ao Presidente Luis Inácio Lula da Silva, ao governo e a sociedade como um todo, o índice inflacionário está em torno de 6% ªª, os juros decresceram gradativamente a 16% ªª, existe estabilidade cambial com saldos crescentes na balança comercial e a dívida interna indexada ao câmbio se restringe agora a 15% de seu total.

Os recentes indicadores de recuperação de emprego e da atividade econômica estão a demonstrar que conseguimos recolocar o país na rota da normalidade monetária e do crescimento sustentável, dentro de um quadro de absoluto respeito à justiça social.

Apesar desses aspectos positivos e que muito me envaidecem, desde o ano passado tem sido citado na imprensa, um suposto - e absolutamente inexistente - envolvimento meu, antes de assumir o cargo que ora ocupo, em operações irregulares no âmbito financeiro e no cumprimento de obrigações tributárias.

Tenho procurado responder com clareza, objetividade e absoluta verdade essas insinuações.

Mas isso não bastou. Com surpresa e tristeza tomei conhecimento da reportagem da Revista Isto É, n. 1816, de 28 de julho, onde sou acusado de me envolver em operações "suspeitas" que teriam caracterizado "sonegação, omissão fiscal e evasão de divisas".

Sinto-me violentado pessoalmente e profissionalmente, sobretudo pela forma como a matéria é apresentada, dando a entender que teria me envolvido em operações fraudulentas, tendo ignorado a legislação e dela me distanciado como se fosse um marginal. Confesso, com sinceridade, não ter mais motivação para me manter no cargo.

Mais importante ainda, entendo que a minha permanência na função, a partir de agora, será prejudicial ao Banco Central do Brasil, ao mercado financeiro e ao país, pois as acusações à minha pessoa acabam por atingir o órgão de que faço parte.

Por essas razões solicitei a minha exoneração imediata.

Apenas lamento que pessoas que ocupam cargos públicos estejam sujeitas a tal tipo de acusações, sem qualquer responsabilidade por parte daqueles que as acusam aos quais se dá acesso irrestrito a dados que deveriam ser mantidos confidenciais e somente ser usados em processos regulares, por autoridades competentes e com amplo acesso aos supostos "acusados".

Sempre fui e continuarei sendo um defensor ardoroso da plena e irrestrita liberdade de imprensa, mas é importante frisar que fui vítima daquilo que chamo "libertinagem de imprensa".

Faltam-me palavras certas para exprimir a admiração pessoal e profissional que cultivei por V.Exa, pela diretoria do Banco Central do Brasil e pelo Ministro Antonio Palocci ao longo do tempo que estivemos juntos. Pude presenciar de perto o quanto são brasileiros raros, de nobreza nas atitudes, paciência inabalável e sabedoria nas relações pessoais.

Agradeço a V.Exa, a toda diretoria do Banco Central do Brasil, aos seus funcionários, ao Ministro Antonio Palocci, ao Presidente Lula e aos demais integrantes do governo pela atenção e cortesia com que sempre fui distinguido, desejando a todos boa sorte no mister de aperfeiçoar o país e levá-lo ao crescimento constante, com justiça social.

Atenciosamente,

Luiz Augusto de Oliveira Candiota."

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Por que os recordes de arrecadação do governo Lula não animam mais o mercado?

Conta de luz vai aumentar em julho após Aneel acionar bandeira amarela; veja valores

Inflação nos EUA cai ligeiramente em maio a 2,6% interanual, segundo índice PCE

Desemprego cai para 7,1% em maio, menor taxa para o mês desde 2014

Mais na Exame