Economia

Dinheiro acabou, diz Fazenda. Como vamos criar infraestrutura?

Participação privada em infraestrutura não vai resolver nosso crescimento sozinha, alerta presidente executivo da ABDIB, em evento do Infra2038

O governo vem apostando na participação do setor privado (MichaelJay/Thinkstock)

O governo vem apostando na participação do setor privado (MichaelJay/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de dezembro de 2017 às 13h07.

Última atualização em 5 de dezembro de 2017 às 18h33.

São Paulo – O Brasil precisaria investir em infraestrutura cerca de 5% do PIB por ano, dos quais 3% apenas para cobrir a depreciação do que já existe.

A taxa deve ficar em apenas 1,5% do PIB em 2017 – ou seja, estamos investindo apenas a metade do necessário para ficar no mesmo lugar, e nunca passamos de 2,4% desde o início do século.

Os números foram apresentados por Venilton Tadini, presidente executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), em evento nesta terça-feira (05) em São Paulo.

O encontro é iniciativa do Infra2038, projeto que quer colocar o Brasil entre os 20 melhores países em infraestrutura do ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial no espaço de duas décadas.

Isso significaria subir no mínimo 52 posições, já que hoje o país está no 72º lugar. A primeira resposta, que seria aumentar o investimento público, não é uma opção factível no momento.

“O dinheiro acabou”, diz João Manoel Pinho de Mello, Secretário de Reformas Microeconômicas no Ministério da Fazenda. “Se não conseguirmos dar sustentabilidade para a trajetória fiscal, todo o resto fica comprometido, inclusive o investimento”.

Mas se “arrumar a casa é condição necessária, mas não suficiente”, como diz ele, de onde virá o dinheiro? O governo vem apostando no setor privado.

“Aprender a fazer parcerias público-privadas, só fazendo parcerias público-privadas”, diz Katerina Labrousse, Líder do National Infrastructure Acceleration do Fórum Econômico Mundial.

Ela lembra que os investidores hoje são como consumidores globais procurando pela melhor oferta - e nesse sentido o Brasil não se destaca, segundo Thomas Trebat, diretor de um centro da Universidade de Columbia no Rio de Janeiro.

“A economia não está bem, a incerteza política é muito alta e a Ásia está bombando, então é para onde os investidores estão olhando”, resume ele, notando que setores público e privado devem ser complementares e não rivais.

Venilton Tadini, presidente executivo da ABDIB, não está convencido de que só a queda da taxa de juros, que deve chegar nesta semana ao seu menor nível da história, seria suficiente para estimular o investimento.

Ele aponta para lógicas diferentes de retorno e de acumulação dependendo do setor e que simplesmente inviabilizam uma dependência do setor privado.

Em água e saneamento, 90% do investimento na América Latina é público. Em comunicações, a lógica se inverte: 93% do investimento na região é privado.

“Ajuste fiscal pelo fiscal não leva a lugar nenhum", diz ele, alertando que “não podemos nos enganar que a participação privada em infraestrutura vai resolver nosso crescimento”.

Uma das formas de criar espaço para gastar mais na área seria flexibilizando o Orçamento. Cerca de 90% das despesas são obrigatórias por lei, então as despesas sobre as quais o governo tem controle (como o investimento) acabam sendo as primeiras vítimas de cortes em momentos de aperto.

 

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