Sede do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos (Leah Millis/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 19h42.
Última atualização em 13 de janeiro de 2021 às 21h37.
Autoridades do Federal Reserve começam a mostrar divisão sobre quando seria necessário começar a retirar o enorme estímulo monetário, o que causa nervosismo entre alguns investidores, que lembram da turbulência causada por medida semelhante em 2013.
Na última semana, quatro das 18 autoridades monetárias do Fed levantaram publicamente a possibilidade de debater a redução das compras de títulos - atualmente em US$ 120 bilhões por mês - até o final do ano. Em contraste, vários outros chamaram o debate de prematuro, e o vice-presidente do Fed, Richard Clarida, o mais graduado a emitir uma opinião, disse que não espera nenhuma mudança antes de 2022.
Investidores, sem querer correr riscos, puxaram a alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de duração mais longa, o que ampliou o spread entre os juros da dívida de dois e 10 anos para perto do maior nível em mais de três anos. O mercado pode receber mais sinais nos próximos dias. Clarida e a governadora do Fed, Lael Brainard, falam na quarta-feira, seguidos um dia depois pelo presidente do banco central dos EUA, Jerome Powell, em seus primeiros comentários do ano.
“O Fed precisa esclarecer sua posição ou corre o risco de um ‘taper tantrum', desnecessariamente”, disse Diane Swonk, economista-chefe da Grant Thornton, em Chicago, em referência ao termo sobre a reação do mercado com a retirada dos estímulos.
Em 2013, os rendimentos aumentaram após a divulgação inesperada do então presidente do Fed, Ben Bernanke, de que as autoridades avaliavam desacelerar as compras de ativos, o que provocou forte volatilidade no mercado financeiro e uma memória amarga entre investidores.
“Os investidores de títulos ficaram todos encurralados”, disse John Herrmann, diretor de estratégia de juros dos EUA na MUFG Securities Americas, acrescentando que, desta vez, o mercado de títulos está preparado para argumentar: “Não seremos enganados de novo”.
Em dezembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto, em decisão unânime, disse que continuaria a comprar US$ 120 bilhões por mês em ativos - cerca de US$ 80 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas - até que houvesse “progresso substancial” no cumprimento das metas de emprego e inflação. Powell chamou o guidance de “poderoso”, mas não quis especificar quais métricas o comitê usaria para fazer uma mudança.
Essa vaga definição está aberta a diferentes interpretações por parte de autoridades do Fed e é fonte de possível confusão entre investidores. O rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos está perto do nível mais alto desde março, enquanto os juros das notas de dois anos subiram apenas ligeiramente, o que reflete o claro sinal do banco central que as taxas de juros overnight permanecerão próximas de zero até pelo menos 2023.
Presidentes regionais do Fed, como Patrick Harker, Robert Kaplan, Raphael Bostic e Charles Evans, indicaram abertura para debater uma redução gradual em 2021, caso a economia se mostre suficientemente forte. A distribuição das vacinas contra a Covid-19 para a população dos EUA, mais ajuda fiscal e apoio monetário contínuo contribuem para as previsões de uma recuperação sólida no segundo semestre do ano.
Embora Clarida tenha dito que sua previsão não inclui uma redução gradual em 2021, outras autoridades do Fed consideram as perspectivas ainda nebulosas.
Em conversa online na terça-feira com o Wall Street Journal, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, disse que o objetivo é superar a pandemia e avaliar a situação depois disso e que só então será possível pensar sobre o rumo da política de balanço patrimonial.
Powell fala na quinta-feira em evento virtual organizado pela Universidade de Princeton e deve manter o tom cauteloso, disse Steven Englander, responsável por estratégia macro para América do Norte no Standard Chartered Bank. “Acho que o debate é prematuro”, disse.