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Cuidado: o Brasil não é Bangladesh!

A propósito dos exageros suscitados pela campanha contra a fome

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h54.

Com todo o respeito: não nos comparem a Bangladesh, ao Sudão ou à Etiópia. Nossa problemática não é a mesma. Definitivamente, inexiste no Brasil a fome crônica e insolúvel, que, no máximo, poderá ser abrandada, com esmolas ou restos de comida.

Nossa gente simples implantou, a duras penas, uma agricultura tropical que hoje ocupa 90 milhões de hectares plantados, produz mais de 100 milhões de toneladas de grãos e mais uma variedade imensa de culturas. Pontificamos atualmente entre os cinco primeiros produtores mundiais. E ainda temos outros 90 milhões de hectares em processo de ocupação. Sim, temos condições de produzir alimentos para atender à demanda interna e ainda exportar para alimentar boa parte do mundo.

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Para começar, é necessário considerar que partimos do nada. Nossos descobridores não tinham como transplantar as práticas agrícolas da Europa para cá, como ocorreu nos Estados-Unidos, onde as condições geoclimáticas eram as mesmas. Chegamos ao atual patamar na base do trabalho, da criatividade e da determinação de nossa gente simples do interior.

Como traço característico do lado bom da sociedade brasileira, não se pode, também, deixar de citar o exemplo da implantação da indústria automobilística, por ser um evento relativamente recente e por demonstrar uma versatilidade para a produção sem paralelo na história moderna. Com a implantação forçada da indústria automobilística, decorrência da genialidade de Juscelino Kubitschek, milhares de retirantes nordestinos migraram da construção civil para melhores condições de trabalho e de vida. Dominaram tão rapidamente os novos ofícios, que muitos estrangeiros trazidos para implantar novas fábricas puderam retornar antes do término dos prazos contratuais.

Oportunidades de trabalho. É disso que nosso povo simples necessita para progredir na vida com dignidade, seguindo sua liderança em termos de mobilidade social entre as nações emergentes. Por isso, nada de Concert for Braszilindesh. Criada a oportunidade, a resposta é imediata. Foi assim com o aço. Do nada, partimos de Volta Redonda, na década de 40, para atingir um nível de 30 milhões de toneladas de aço, produzidas com os mais modernos processos industriais. Nossos custos são hoje 24% inferiores aos americanos, e 9% aos europeus.

E o que dizer da Embraer? Igualmente surgida do quase nada, da antiga Fábrica do Galeão, na década de 50, alça-se hoje ao primeiro plano no mundo no segmento dos sofisticados jatos regionais, disputando a liderança com a Bombardier canadense.

Além da grande versatilidade para a produção, vale ressaltar o destemor de nossa gente para o novo, para o hi-tech, o que faz com que sejamos olhados como uma sociedade com uma hospitalidade intrínseca para avanços tecnológicos. Só para não esquecer: em 1994 havia no país 733.000 aparelhos celulares. Eram 29 milhões em 2001.

E por aí seguimos: nos esportes, não só no tradicional futebol, mas também em manifestações da mais elevada categoria internacional, como automobilismo, vela, vôlei etc. E nossa música popular? E nossas pesquisas? No que diz respeito à agricultura tropical, somos os primeiros do mundo, graças à Embrapa. E nossa arquitetura com as lindas linhas curvas de Niemeyer?

Para concluir, pensemos em nossas modelos --verdadeiras deusas das passarelas internacionais. Todas vieram de famílias simples, lá de Nova Horizontina, de Goiás, do Pará, de Santa Catarina, das pequenas cidades do interior, numa demonstração patente de que a família brasileira quer o máximo para seus filhos e tudo faz para realizá-los.

Não! Absolutamente não somos Bangladesh!

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