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Crise no Chipre revela problemas da Eurozona

A crise expôs as divisões entre os países da Eurozona e a falta de liderança no bloco

Jeroen Dijsselbloem: o presidente do Eurogrupo provocou turbulência nos mercados ao anunciar que a fórmula encontrada para o país servirá de modelo para outras nações (John Thys/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de março de 2013 às 11h52.

Bruxelas - O Chipre evitou a falência, mas a crise naquele pequeno país expôs as divisões entre os países da Eurozona e a falta de liderança no bloco, coroado por mensagens contraditórias do presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem.

Apenas poucas horas depois de concluir o resgate à ilha cipriota, o presidente do Eurogrupo provocou turbulência nos mercados ao anunciar que a fórmula encontrada para o país servirá de modelo para outras nações com um setor financeiro frágil, contradizendo suas mensagens de que o caso cipriota era excepcional e havia sido tratado desta maneira.

Mais tarde, ele atenuou suas palavras, mas o estrago já estava feito. O prêmio de risco da Espanha, que mede a solvência de um país, voltou a subir na segunda-feira ante o temor dos mercados de que o caminho cipriota se repita em outros países e que os investidores optem por refúgios mais seguros.

"Djisselbloem se equivocou ao dizer o que disse", afirmou Benoît Coeuré, membro da direção do Banco Central Europeu (BCE).

A zona do euro aprovou um resgate de 10 bilhões de euros para Chipre, mas em troca a ilha deverá reestruturar seu sistema financeiro, desproporcionalmente grande. E pela primeira vez na história do bloco, a ajuda financeira deverá ser paga pelos acionistas, proprietários de títulos e os correntistas com mais de 100.000 euros nos bancos.

Chipre, que representa apenas 0,2% do PIB da zona do euro, se tornou o primeiro grande desafio para o holandês, que assumiu o comando do Eurogrupo, o clube dos ministros das Finanças da Eurozona, em janeiro.

A falta de rumo do bloco ficou evidenciada pela primeira vez quando aprovou um acordo para o Chipre há 10 dias, que previa que os correntistas com menos de 100.000 euros depositados também deveriam pagar pelo resgate, apesar de estarem assegurados pelo Fundo Europeu de Garantias. Como era de esperar, a indignação e o pânico tomaram conta do continente.


O Parlamento cipriota rejeitou o plano e a Eurozona teve que buscar outras alternativas. Entre elas, decidiu por um confisco bancário para evitar uma fuga em massa de capitais.

Os bancos estão fechados há 11 dias e existe muita incerteza sobre o que acontecerá na reabertura, prevista para quinta-feira.

Na semana passada, as imagens de Nicósia mostravam os cipriotas em longas filas.

O acordo com a zona do euro prevê "decisões dolorosas para salvar o país da falência", afirmou o presidente cipriota, o conservador Nicos Anastasiadis.

Entre as medidas está o fim do Laiki Bank, o segundo maior banco do país, que será dividido em um 'banco ruim' (entidade residual destinada a desaparecer progressivamente) e um 'banco bom', que reunirá os depósitos inferiores a 100.000 euros.

O objetivo é reduzir o tamanho do setor bancário cipriota, que representa oito vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do país, e conta com muitos depósitos de milionários russos, vários deles ligados à máfia.

As negociações para encontrar uma solução ao Chipre também foram tensas para o FMI, disse uma fonte europeia. O Fundo Monetário Internacional insistiu em impor medidas que não afetaram a sustentabilidade da dívida. Caso contrário, não participaria.

E mostrou mais uma vez que quem manda é a Alemanha, que não queria que seus contribuintes considerasse que estão pagando pelos problemas do euro, poucos meses antes das eleições legislativas nas quais a chanceler Angela Merkel joga seu futuro.

Quando os europeus acreditavam que o pior da crise da dívida havia passado, a situação na ilha de Chipre voltou a abrir as feridas. Muitos analistas afirmaram que o acordo com Nicósia é a melhor solução entre difíceis alternativas. Mas também advertiram que é remendo que deixa muitos cabos soltos.

"Uma vez mais durante a crise, a Eurozona alcança um pacto 'in extremis' que dá um alívio imediato, mas não dá nenhuma garantia de que acalmará as águas", disse o analista Carsten Brzeski, da ING.

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Apenas poucas horas depois de concluir o resgate à ilha cipriota, o presidente do Eurogrupo provocou turbulência nos mercados ao anunciar que a fórmula encontrada para o país servirá de modelo para outras nações com um setor financeiro frágil, contradizendo suas mensagens de que o caso cipriota era excepcional e havia sido tratado desta maneira.

Mais tarde, ele atenuou suas palavras, mas o estrago já estava feito. O prêmio de risco da Espanha, que mede a solvência de um país, voltou a subir na segunda-feira ante o temor dos mercados de que o caminho cipriota se repita em outros países e que os investidores optem por refúgios mais seguros.

"Djisselbloem se equivocou ao dizer o que disse", afirmou Benoît Coeuré, membro da direção do Banco Central Europeu (BCE).

A zona do euro aprovou um resgate de 10 bilhões de euros para Chipre, mas em troca a ilha deverá reestruturar seu sistema financeiro, desproporcionalmente grande. E pela primeira vez na história do bloco, a ajuda financeira deverá ser paga pelos acionistas, proprietários de títulos e os correntistas com mais de 100.000 euros nos bancos.

Chipre, que representa apenas 0,2% do PIB da zona do euro, se tornou o primeiro grande desafio para o holandês, que assumiu o comando do Eurogrupo, o clube dos ministros das Finanças da Eurozona, em janeiro.

A falta de rumo do bloco ficou evidenciada pela primeira vez quando aprovou um acordo para o Chipre há 10 dias, que previa que os correntistas com menos de 100.000 euros depositados também deveriam pagar pelo resgate, apesar de estarem assegurados pelo Fundo Europeu de Garantias. Como era de esperar, a indignação e o pânico tomaram conta do continente.


O Parlamento cipriota rejeitou o plano e a Eurozona teve que buscar outras alternativas. Entre elas, decidiu por um confisco bancário para evitar uma fuga em massa de capitais.

Os bancos estão fechados há 11 dias e existe muita incerteza sobre o que acontecerá na reabertura, prevista para quinta-feira.

Na semana passada, as imagens de Nicósia mostravam os cipriotas em longas filas.

O acordo com a zona do euro prevê "decisões dolorosas para salvar o país da falência", afirmou o presidente cipriota, o conservador Nicos Anastasiadis.

Entre as medidas está o fim do Laiki Bank, o segundo maior banco do país, que será dividido em um 'banco ruim' (entidade residual destinada a desaparecer progressivamente) e um 'banco bom', que reunirá os depósitos inferiores a 100.000 euros.

O objetivo é reduzir o tamanho do setor bancário cipriota, que representa oito vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do país, e conta com muitos depósitos de milionários russos, vários deles ligados à máfia.

As negociações para encontrar uma solução ao Chipre também foram tensas para o FMI, disse uma fonte europeia. O Fundo Monetário Internacional insistiu em impor medidas que não afetaram a sustentabilidade da dívida. Caso contrário, não participaria.

E mostrou mais uma vez que quem manda é a Alemanha, que não queria que seus contribuintes considerasse que estão pagando pelos problemas do euro, poucos meses antes das eleições legislativas nas quais a chanceler Angela Merkel joga seu futuro.

Quando os europeus acreditavam que o pior da crise da dívida havia passado, a situação na ilha de Chipre voltou a abrir as feridas. Muitos analistas afirmaram que o acordo com Nicósia é a melhor solução entre difíceis alternativas. Mas também advertiram que é remendo que deixa muitos cabos soltos.

"Uma vez mais durante a crise, a Eurozona alcança um pacto 'in extremis' que dá um alívio imediato, mas não dá nenhuma garantia de que acalmará as águas", disse o analista Carsten Brzeski, da ING.

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