Coronavírus impõe riscos à frágil recuperação em economia global, diz FMI
Diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que o surto é um lembrete de como os imprevistos podem ameaçar uma recuperação frágil
Reuters
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 14h04.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2020 às 17h29.
São Paulo — A epidemia de coronavírus já interrompeu o crescimento econômico na China e uma maior disseminação para outros países pode inviabilizar uma recuperação projetada "altamente frágil" para a economia global em 2020, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quarta-feira (19).
Em uma nota para os ministros das Finanças e banqueiros centrais do G20, o credor global mapeou muitos riscos que a economia global enfrenta, incluindo a doença e um aumento renovado das tensões comerciais entre EUA e China, além de desastres relacionados ao clima.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que o surto é um lembrete de como os imprevistos podem ameaçar uma recuperação frágil e instou os formuladores de política econômica do G20 a trabalharem para reduzir outras incertezas ligadas ao comércio, mudanças climáticas e desigualdade.
"A incerteza está se tornando o novo normal", escreveu Georgieva em um blog publicado no site do FMI. "Embora algumas incertezas --como doenças-- estejam fora do nosso controle, não devemos criar novas incertezas onde possamos evitá-las."
Ministros das Finanças e banqueiros centrais das 20 principais economias mais industrializadas se reunirão em Riyadh, na Arábia Saudita, nesta semana, ainda incertos sobre o impacto do coronavírus, conhecido como COVID-19.
Apesar do surto, o FMI afirmou que está mantendo sua previsão de janeiro para um crescimento de 3,3% na economia global este ano, acima dos 2,9% de 2019. O dado representa um corte de 0,1 ponto percentual em relação à previsão de outubro.
O organismo disse que a recuperação seria superficial e poderia ser prejudicada pelo aumento das tensões comerciais ou por uma disseminação adicional da doença, que já havia interrompido a produção na China e poderia afetar outros países por meio do turismo, vínculos na cadeia de suprimentos e preços das commodities.
A China disse que ainda pode cumprir sua meta de crescimento econômico para 2020, apesar da epidemia. Georgieva disse que o FMI espera apenas uma pequena redução no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, a menos que um surto prolongado agrave a desaceleração.
Mesmo nos melhores casos, a taxa projetada de crescimento global é modesta, disse Georgieva, instando os formuladores de política econômica do G20 a agir para reduzir as tensões comerciais, mitigar as mudanças climáticas e combater as desigualdades persistentes.
Ataques cibernéticos, uma escalada das tensões geopolíticas no Oriente Médio ou um colapso nas negociações comerciais entre China e Estados Unidos podem impedir a recuperação global de curto prazo, disse o FMI. Desastres relacionados ao clima, protecionismo e agitação social e política desencadeada pela desigualdade persistente representam mais riscos econômicos.
Em seu blog, Georgieva disse que a Fase 1 de um acordo comercial entre EUA e China eliminou algumas consequências negativas das tensões comerciais, reduzindo a influência negativa no PIB global em 0,2% em 2020, ou cerca de um quarto do impacto total.
Mas a Fase 1 deixou muitas tarifas em vigor e continha acordos comerciais gerenciados que poderiam distorcer o comércio e o investimento e custar à economia global muitos bilhões de dólares, disse ela.
A chefe do FMI também citou novas estimativas do fundo de que um desastre natural típico relacionado ao clima reduziu o crescimento em uma média de 0,4 ponto percentual no país afetado no ano em que ocorreu.
Para responder, os formuladores de política econômica devem se concentrar na diversificação de fontes de energia e no investimento em infraestrutura resiliente.
Georgieva disse que também é fundamental abordar persistentemente as desigualdades de renda e riqueza que, segundo ela, podem fomentar a desconfiança no governo e contribuir para agitação social.
Os ministros poderiam agir nesta semana, concentrando-se em elevar os padrões de vida e criar empregos com melhores salários por meio de investimentos em educação, pesquisa e digitalização de alta qualidade, disse ela.