Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central (Lula Marques/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de fevereiro de 2017 às 18h20.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2017 às 18h43.
São Paulo - O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou hoje um corte de 0,75 ponto percentual na taxa de juros, que foi de 13% para 12,25%.
É o quarto corte seguido da Selic, e o segundo na faixa de 0,75 p.p. (os dois primeiros foram de 0,25 p.p.).
A taxa não ficava tão baixa há dois anos, desde o início de 2015, quando era de 11,75%. Mesmo assim, o Brasil segue com os maiores juros reais do planeta.
A decisão veio de acordo com o esperado pela maior parte dos economistas e instituições financeiras, como indicado pelo último Boletim Focus.
O próprio BC havia sinalizado, na última ata, o "estabelecimento do novo ritmo de flexibilização". Mas desde então, a queda dos preços e melhora das expectativas ficou ainda mais intensa.
O IPCA de janeiro foi o mais baixo para o mês desde 1994 e a previsão do mercado para a inflação fechada de 2017 já caiu para abaixo do centro da meta de 4,5% perseguida pelo BC.
O dólar caiu de R$ 3,16 para R$ 3,06 no último mês e o risco-país também atingiu seu melhor nível em dois anos, o que gerou especulações de um corte de 1 ponto percentual.
A previsão é que o ciclo de afrouxamento monetário continue e leve a Selic para 9,5% no final do ano - a primeira vez em que eles ficariam em um dígito desde 2013.
Quando o Copom aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.
A decisão de hoje foi por unanimidade e sem viés. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 11 e 12 de abril.
Por causa do carnaval, a ata não será divulgada na próxima terça-feira, como vinha ocorrendo, e sim na quinta-feira dia 2 de março.
Veja o comunicado completo:
O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 12,25% a.a., sem viés.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom mostra alguns sinais mistos, mas compatíveis com estabilização da economia no curto prazo. A evidência sugere uma retomada gradual da atividade econômica ao longo de 2017;
No âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto. Entretanto, até o momento, a atividade econômica global mais forte e o consequente impacto positivo nos preços de commodities têm mitigado os efeitos sobre a economia brasileira de revisões de política econômica em algumas economias centrais;
O comportamento da inflação permanece favorável. O processo de desinflação é mais difundido e indica desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. Houve ainda uma retomada na desinflação dos preços de alimentos, que constitui choque de oferta favorável;
As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 4,4% para 2017 e mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018 e horizontes mais distantes; e
No cenário de mercado, as projeções do Copom recuaram para em torno de 4,2% em 2017 e mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018. Esse cenário embute hipótese de trajetória de juros que alcança 9,5% e 9% ao final de 2017 e 2018, respectivamente.
O Comitê ressalta que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções: (i) o alto grau de incerteza no cenário externo pode dificultar o processo de desinflação; (ii) o choque de oferta favorável nos preços de alimentos pode produzir efeitos secundários e, portanto, contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia; e (iii) a recuperação da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada.
O Comitê destaca a importância da aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira para a sustentabilidade da desinflação e para a redução de sua taxa de juros estrutural.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 12,25% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária.
O Copom entende que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira, que continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo.
O Copom ressalta que uma possível intensificação do ritmo de flexibilização monetária dependerá da estimativa da extensão do ciclo, mas, também, da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.