Copom corta juros em 0,75 ponto percentual para 13%
Maior parte dos analistas esperava corte menor; BC acelerou redução no mesmo dia em que foram divulgados dados mais fracos de inflação
João Pedro Caleiro
Publicado em 11 de janeiro de 2017 às 18h21.
Última atualização em 11 de janeiro de 2017 às 18h54.
São Paulo - O Comitê de Política Monetária do Banco Central ( Copom ) decidiu cortar a Selic em 0,75 ponto percentual, de 13,75% para 13%.
É o terceiro corte seguido da taxa básica de juros, mas o ritmo se acelerou: os dois anteriores foram de 0,25 ponto percentual cada. Veja quanto rendem R$ 5 mil com a Selic em 13% ao ano.
A maior parte dos analistas esperava um corte menor, de 0,50 ponto percentual, mas alguns já apostavam que o BC tomaria uma atitude mais agressiva.
Ainda assim, o Brasil segue na liderança mundial absoluta de juros reais (taxa de juros dos últimos 12 meses descontada a inflação dos últimos 12 meses).
A decisão foi por unanimidade e sem viés e o comunicado cita que a "inflação recente continuou mais favorável que o esperado".
O IBGE divulgou na manhã desta quarta-feira os números do IPCA de dezembro: 0,30%, abaixo dos 0,36% esperados pelo mercado.
A inflação fechou o ano em 6,29%, também abaixo do previsto e suficiente para colocar a taxa abaixo do teto da meta (6,5%), não alcançado nem em 2014 nem em 2015.
Um dos destaques foi a desinflação do setor de serviços, apontada até agora pelo próprio BC como uma das razões para o ritmo lento no corte de juros.
A previsão do mercado é que a inflação siga caminhando em 2017 em direção ao centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%, e que o afrouxamento monetário continue.
Quando o Copom aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.
A ata será divulgada na próxima quinta-feira, 19 de janeiro, e a próxima reunião está marcada para os dias 21 e 22 de fevereiro.
A previsão do último Boletim Focus é que a Selic termine 2017 em 10,25%.
Veja a íntegra do comunicado do BC:
" O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 13,00% a.a., sem viés.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O conjunto dos indicadores sugere atividade econômica aquém do esperado. A evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente;
No âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto. Entretanto, até o momento, os efeitos do fim do interregno benigno têm sido limitados;
A inflação recente continuou mais favorável que o esperado. Há evidências de que o processo de desinflação mais difundida tenha atingido também componentes mais sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico;
A inflação acumulada no ano passado alcançou 6,3%, bem abaixo do esperado há poucos meses e dentro do intervalo de tolerância da meta para a inflação estabelecido para 2016;
As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 4,8% para 2017, e mantiveram-se ancoradas ao redor de 4,5% para 2018 e horizontes mais distantes;
As projeções condicionais do Copom também recuaram em relação às divulgadas no Relatório de Inflação passado, que foram baseadas no conjunto de informações disponíveis até 9 de dezembro de 2016. Dentre outros fatores, os recuos nas projeções foram influenciados por dados de inflação e atividade econômica divulgados desde então. As projeções no cenário de referência encontram-se em torno de 4,0% e 3,4% para 2017 e 2018, respectivamente. Já no cenário de mercado, situam-se em torno de 4,4% e 4,5% para 2017 e 2018, respectivamente; e
Os passos no processo de encaminhamento e aprovação das reformas fiscais têm sido positivos até o momento.
O Comitê ressalta os seguintes riscos para o cenário básico para a inflação:
Por um lado, (i) o alto grau de incerteza no cenário externo pode dificultar o processo de desinflação; (ii) o processo de desinflação de alguns componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária requer atenção contínua; (iii) o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia é longo e envolve incertezas;
Por outro lado, (iv) a atividade econômica mais fraca e o elevado nível de ociosidade na economia podem produzir desinflação mais rápida que a refletida nas projeções do Copom; (v) a inflação tem se mostrado mais favorável, o que pode sinalizar menor persistência no processo inflacionário; e (vi) o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia pode ocorrer de forma mais célere que o antecipado.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 13,00% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com intensificação da flexibilização monetária em curso.
O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,25% e sinalizar uma intensidade maior de queda para a próxima reunião. Entretanto, diante do ambiente com expectativas de inflação ancoradas, o Comitê entende que o atual cenário, com um processo de desinflação mais disseminado e atividade econômica aquém do esperado, já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização. A extensão do ciclo e possíveis revisões no ritmo de flexibilização continuarão dependendo das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco mencionados acima.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel."