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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h06.
Depois de alertar em reuniões anteriores que seria guiado pela "parcimônia", o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mostrou agora que deve mesmo puxar o freio na flexibilização dos juros da economia. A ata do último encontro do comitê, realizado em 28 e 29 de novembro, indica que o ritmo de queda da taxa Selic tende a ser mais contido em 2007, talvez já a partir da próxima decisão.
Na última reunião do ano do Copom, a Selic foi reduzida em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, em uma repetição do movimento realizado pelos membros do comitê em quatro encontros anteriores. No entanto, desta vez houve dissidência no comitê: três membros votaram por um corte mais conservador, de 0,25 ponto percentual, enquanto cinco optaram pela continuidade do ritmo de flexibilização dos juros.
Segundo a ata, não se chegou a uma unanimidade na hora da votação por conta do "balanço de riscos" à economia - contudo, "a maioria dos membros do Copom ressaltou que as informações disponíveis neste momento ainda não justificariam uma mudança de ritmo, e que seria necessário aguardar a evolução do cenário macroeconômico até a próxima reunião do comitê para, então, reavaliar a conveniência de reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual".
O registro da reunião mostra que os riscos ponderados pelo comitê vêm tanto do cenário externo quanto do interno. De fora, pesa a incerteza quanto à economia dos Estados Unidos. "Persistem as dúvidas nos mercados sobre os próximos passos da política monetária norte-americana", diz a ata. "Continua ganhando importância o temor de que o aperto monetária nos EUA possa ter sido excessivo e que, portanto, a economia estado-unidense possa entrar em recessão, com potenciais implicações para a nossa economia." Outro foco de preocupação, já ressaltado nas atas anteriores, é o petróleo. O Copom afirma que há dúvidas sobre a trajetória dos preços da commodity, e grandes oscilações no patamar seriam inexoravelmente transmitidas à economia doméstica.
No cenário doméstico, a expansão da demanda, motivada pela expansão do nível de emprego e da renda, pelo crescimento do crédito, pela expansão das transferências governamentais e por impulsos fiscais, pode pressionar a inflação, na visão do Copom. Diante desse panorama, o comitê voltou a afirmar que a "preservação de importantes conquistas obtidas no combate à inflação e na manutenção do crescimento econômico" "demandará que a partir de um determinado ponto a flexibilização da política monetária passe a ser conduzida com maior parcimônia".
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a ata mostra que a primeira reunião do Copom em 2007, marcada para 23 e 24 de janeiro, deve já trazer um corte de 0,25 ponto percentual na Selic. "Esta foi a 12ª redução consecutiva nos juros, a queda mais prolongada na história do Copom. Em algum momento eles vão querer reduzir e até mesmo parar o ritmo para avaliar como a economia está reagindo", diz.
O analista espera que a Selic chegue ao fim de 1007 a 12% ao ano, mesmo nível estimado pelas instituições financeiras consultadas na mais recente pesquisa semanal realizado pelo Banco Central, de 1 de dezembro. Se confirmada a expectativa, os juros acumularão uma queda de apenas 1,25 ponto percentual em 2007, contra uma redução de 4,75 pontos em 2006.
Agostini acredita que, aproximadamente no segundo semestre do próximo ano, o Copom deverá interromper o processo de flexibilização da política monetária, para que seja possível observar as reações da atividade econômica. "Eu penso que a economia ainda não conseguirá sair da letargia e que o Banco Central terá de continuar com os cortes nos juros", diz.