Analistas preveem demanda maior que oferta no crédito rural
A queda nos recursos de linhas para custeio com juros equalizados pelo governo federal e de investimento subsidiadas pelo BNDES será inevitável
Da Redação
Publicado em 11 de janeiro de 2016 às 11h26.
São Paulo - A demanda por crédito em 2016 vai superar a oferta, os recursos oficiais - a taxas de juros mais altas - tendem a cair e o setor privado ampliará participação no financiamento da produção agropecuária do país.
A perspectiva foi traçada por alguns dos principais consultores do setor ouvidos pelo Broadcast Agro, serviço em tempo real da Agência Estado.
O diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, diz ser inevitável a queda nos recursos de linhas para custeio com juros equalizados pelo governo federal e de investimento subsidiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) .
"O governo está cortando recursos em todas as áreas, tende a cortar para o agronegócio também", apontou. Ele estima que o dinheiro destinado pelo governo para financiamento (insumos e custos fixos, como energia e mão de obra), que historicamente respondeu por 25% do total, deve cair para 20%.
O coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GVAgro), Roberto Rodrigues, acredita em manutenção dos recursos dentro do Plano Safra 2016/17, mas afirma que dinheiro ficará ainda mais caro.
"Em 2015, mesmo com ajuste fiscal, a ministra (da Agricultura, Kátia Abreu) conseguiu mais recursos que em 2014. Ainda assim, todas as informações de economistas vão na direção de que vai faltar dinheiro e os juros aumentarão porque a inflação está subindo", declarou.
As operações de barter, por meio das quais produtores pagam insumos adquiridos de tradings com produtos agrícolas, devem aumentar neste cenário, na avaliação de Ferraz e também do gerente do Departamento do Agronegócio da Fiesp (Deagro), Antonio Carlos Costa.
"O câmbio atual favorece as exportações de commodities agrícolas e as tradings têm interesse em ter produto para comercializar", explicou Ferraz.
Os produtores rurais, que no último ano conseguiram manter a boa rentabilidade de anos anteriores, também deverão elevar a injeção de recursos próprios para arcar não somente com insumos, mas também custos fixos, como energia e mão de obra.
Tanto Costa, da Deagro, como o economista e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, acreditam que o cenário de demanda contínua de crédito e a possibilidade de recuo dos volumes subsidiados pelo governo federal abrem espaço para bancos privados ampliarem sua participação no crédito rural.
"Alguns bancos que nos últimos anos vinham participando menos do financiamento do setor estão voltando a estruturar sua áreas voltadas ao agronegócio", afirmou o gerente da Deagro.
Além deles, produtos do mercado de capitais, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) devem continuar crescendo em volume destinado ao setor.
Os financiamentos via cooperativas de crédito, umas das possibilidades de recursos para o setor apontadas por Rodrigues, da GVAGro, não dão sinais firmes até o momento de que serão ampliados. O Banco Cooperativo Sicredi, instituição financeira que reúne 95 cooperativas de crédito no país, prevê oferecer em 2016 o mesmo volume de recursos liberado em 2015, aproximadamente R$ 9 bilhões.
Todos os consultores ouvidos pelo Broadcast Agro têm observado maior interesse de investidores estrangeiros no Brasil, já que a valorização do dólar ante o real torna os ativos brasileiros mais baratos na moeda norte-americana.
"Recebo frequentemente investidores estrangeiros, bancos, fundos interessados em investir em logística, agroindústria, insumos e terras. O que restringe a decisão é a questão é 'quando devo vir", contou Rodrigues, da GVAgro. Apesar da dúvida e da insegurança quanto à economia nacional, Rodrigues notou "um interesse mais agudo" dos estrangeiros.
Política agrícola
Mesmo que os recursos subsidiados pelo setor público recuem em 2016, esta não parece ser uma tendência na visão de alguns especialistas. "Não acredito em uma tendência de redução gradual dos recursos públicos no financiamento do setor.
Na próxima safra até pode acontecer, por conta do ajuste fiscal. Mas essa queda não deve continuar em 2017 e 2018. Também não creio que os recursos venham a aumentar", explicou Ferraz, da Informa Economics FNP.
Para Costa, da Deagro, a política agrícola do Brasil, baseada essencialmente em recursos provenientes de parcela dos depósitos à vista, oferecidos com taxas de juros equalizadas pelo governo, "se mostrou eficiente com tempo. "Pode ser aperfeiçoada, deve ter maior previsibilidade, mas não é ruim. É uma das menos intervencionistas do mundo", explicou Costa.
A GVAgro trabalha, a pedido do governo federal, em um projeto de reforma das políticas de renda para o campo. A proposta, de acordo com Rodrigues, deve contemplar uma reforma da atual lei de crédito rural, com "ênfase no seguro rural acoplado ao crédito", e também políticas de preços e de comercialização de produtos agrícolas. O projeto deve ser apresentado ao governo entre fevereiro e março de 2016.
São Paulo - A demanda por crédito em 2016 vai superar a oferta, os recursos oficiais - a taxas de juros mais altas - tendem a cair e o setor privado ampliará participação no financiamento da produção agropecuária do país.
A perspectiva foi traçada por alguns dos principais consultores do setor ouvidos pelo Broadcast Agro, serviço em tempo real da Agência Estado.
O diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, diz ser inevitável a queda nos recursos de linhas para custeio com juros equalizados pelo governo federal e de investimento subsidiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) .
"O governo está cortando recursos em todas as áreas, tende a cortar para o agronegócio também", apontou. Ele estima que o dinheiro destinado pelo governo para financiamento (insumos e custos fixos, como energia e mão de obra), que historicamente respondeu por 25% do total, deve cair para 20%.
O coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GVAgro), Roberto Rodrigues, acredita em manutenção dos recursos dentro do Plano Safra 2016/17, mas afirma que dinheiro ficará ainda mais caro.
"Em 2015, mesmo com ajuste fiscal, a ministra (da Agricultura, Kátia Abreu) conseguiu mais recursos que em 2014. Ainda assim, todas as informações de economistas vão na direção de que vai faltar dinheiro e os juros aumentarão porque a inflação está subindo", declarou.
As operações de barter, por meio das quais produtores pagam insumos adquiridos de tradings com produtos agrícolas, devem aumentar neste cenário, na avaliação de Ferraz e também do gerente do Departamento do Agronegócio da Fiesp (Deagro), Antonio Carlos Costa.
"O câmbio atual favorece as exportações de commodities agrícolas e as tradings têm interesse em ter produto para comercializar", explicou Ferraz.
Os produtores rurais, que no último ano conseguiram manter a boa rentabilidade de anos anteriores, também deverão elevar a injeção de recursos próprios para arcar não somente com insumos, mas também custos fixos, como energia e mão de obra.
Tanto Costa, da Deagro, como o economista e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, acreditam que o cenário de demanda contínua de crédito e a possibilidade de recuo dos volumes subsidiados pelo governo federal abrem espaço para bancos privados ampliarem sua participação no crédito rural.
"Alguns bancos que nos últimos anos vinham participando menos do financiamento do setor estão voltando a estruturar sua áreas voltadas ao agronegócio", afirmou o gerente da Deagro.
Além deles, produtos do mercado de capitais, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) devem continuar crescendo em volume destinado ao setor.
Os financiamentos via cooperativas de crédito, umas das possibilidades de recursos para o setor apontadas por Rodrigues, da GVAGro, não dão sinais firmes até o momento de que serão ampliados. O Banco Cooperativo Sicredi, instituição financeira que reúne 95 cooperativas de crédito no país, prevê oferecer em 2016 o mesmo volume de recursos liberado em 2015, aproximadamente R$ 9 bilhões.
Todos os consultores ouvidos pelo Broadcast Agro têm observado maior interesse de investidores estrangeiros no Brasil, já que a valorização do dólar ante o real torna os ativos brasileiros mais baratos na moeda norte-americana.
"Recebo frequentemente investidores estrangeiros, bancos, fundos interessados em investir em logística, agroindústria, insumos e terras. O que restringe a decisão é a questão é 'quando devo vir", contou Rodrigues, da GVAgro. Apesar da dúvida e da insegurança quanto à economia nacional, Rodrigues notou "um interesse mais agudo" dos estrangeiros.
Política agrícola
Mesmo que os recursos subsidiados pelo setor público recuem em 2016, esta não parece ser uma tendência na visão de alguns especialistas. "Não acredito em uma tendência de redução gradual dos recursos públicos no financiamento do setor.
Na próxima safra até pode acontecer, por conta do ajuste fiscal. Mas essa queda não deve continuar em 2017 e 2018. Também não creio que os recursos venham a aumentar", explicou Ferraz, da Informa Economics FNP.
Para Costa, da Deagro, a política agrícola do Brasil, baseada essencialmente em recursos provenientes de parcela dos depósitos à vista, oferecidos com taxas de juros equalizadas pelo governo, "se mostrou eficiente com tempo. "Pode ser aperfeiçoada, deve ter maior previsibilidade, mas não é ruim. É uma das menos intervencionistas do mundo", explicou Costa.
A GVAgro trabalha, a pedido do governo federal, em um projeto de reforma das políticas de renda para o campo. A proposta, de acordo com Rodrigues, deve contemplar uma reforma da atual lei de crédito rural, com "ênfase no seguro rural acoplado ao crédito", e também políticas de preços e de comercialização de produtos agrícolas. O projeto deve ser apresentado ao governo entre fevereiro e março de 2016.