Conferência do setor de cobre vê ‘outro mundo’ comparado a 2019
Os executivos e profissionais de bancos e corretoras que estão na capital chilena para o primeiro evento presencial da pandemia organizado pelo Centro de Estudos do Cobre e da Mineração
Bloomberg
Publicado em 28 de março de 2022 às 15h04.
Por James Attwood, da Bloomberg
Na última conferência do setor de cobre em Santiago, a cotação estava abaixo de US$ 3 por libra em meio a preocupações com a desaceleração da demanda na China. Não se falava em problemas na cadeia de suprimentos ou em inflação.
Agora, os executivos e profissionais de bancos e corretoras que estão na capital chilena para o primeiro evento presencial da pandemia organizado pelo Centro de Estudos do Cobre e da Mineração e pela consultoria CRU Group enfrentam circunstâncias totalmente diferentes.
As mineradoras estão se enchendo de dinheiro com o preço próximo a US$ 5. Mas os mercados de commodities enfrentam mudança constante agora que a guerra na Ucrânia agravou as fragilidades nas cadeias de suprimentos que haviam sido expostas pela reabertura das economias. Para os metais usados na fabricação de baterias, como o cobre, a aceleração na procura por veículos elétricos é um fator adicional de pressão sobre a demanda enquanto o mundo tenta se livrar dos combustíveis fósseis.
O cenário tende a desencadear novos investimentos após uma década e meia de contenção nos gastos por causa da crise financeira global. No entanto, as sociedades ficaram mais exigentes nesse período e os custos estão aumentando. A construção de novas minas está mais complexa e mais cara.
O Chile oferece um bom exemplo. Com gigantescas reservas e estabilidade regulatória, o país se tornou o maior fornecedor mundial do metal. No entanto, grandes investimentos foram suspensos após os protestos de rua de 2019 que deram origem a uma nova constituição e a um novo governo empenhado em aumentar impostos para combater desigualdades. Os autores da nova constituinte estão avaliando propostas radicais, incluindo reformular os direitos à propriedade privada e nacionalizar minas.
“Comparado com abril de 2019, estamos em outro mundo”, disseAlejandra Wood, diretora executiva do Centro de Estudos do Cobre e da Mineração (Cesco). “Há grande necessidade de esclarecer todas as incertezas enfrentadas por um setor tão essencial para a transição energética.”
A resposta do setor de mineração à perspectiva de regulamentação mais onerosa no Chile é uma campanha para se apresentar como parte da solução para as questões ambientais e sociais do planeta — e não como parte do problema.
O cobre é usado em fiação, canos, baterias e motores, sendo indispensável no esforço para expandir as fontes de energia renovável e o mercado de veículos elétricos. Se o déficit iminente da oferta não for resolvido, os preços continuarão subindo e desafiarão os planos mundiais que dependem da transição energética global para combater as alterações climáticas.
Disputas semelhantes ocorrem em outros países com minerais em abundância, como Peru e Sérvia, onde a população luta contra projetos poluentes ou que não oferecem benefícios econômicos suficientes.