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Com lojas vazias, venezuelanos compram comida na Colômbia

Declínio de 73 por cento do bolívar frente ao dólar registrado em 2013 no mercado negro está alimentando o contrabando e agravando a falta de alimentos

Consumidores fazem fila para comprar papel higiênico em mercado em Caracas, em maio de 2013 (Jorge Silva / Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de janeiro de 2014 às 22h00.

Caracas/Bogotá - Todas as semanas, o taxista venezuelano José Sotomayor dirige durante quatro horas atravessando os postos de controle do exército desde a cidade de Maracaibo até a Colômbia, para comprar arroz para sua família a um preço 10 vezes superior ao preço estabelecido pelo governo da Venezuela .

“Você não consegue nada nas lojas daqui, eu já nem vou mais lá para procurar produtos básicos”, disse Sotomayor, 39, em entrevista por telefone. “Toda a nossa comida é levada para a Colômbia , é como uma praga de gafanhotos”.

Sotomayor não encontra arroz para comprar nas lojas da segunda maior cidade da Venezuela desde julho, porque os contrabandistas compram rapidamente o alimento básico por no máximo de 7,2 bolívares (US$ 1,14) o quilo, a apenas US$ 0,11 pela taxa de câmbio do mercado negro. Enquanto muitas prateleiras na Venezuela ficam vazias, as exportações de arroz do país para a Colômbia dobraram neste ano e agora representam 11 por cento do mercado, segundo o Serviço de Agricultura dos EUA no Exterior e a associação de cultivadores de arroz da Colômbia, a Fedearroz.

O declínio de 73 por cento do bolívar frente ao dólar registrado em 2013 no mercado negro está alimentando o contrabando e agravando a falta de alimentos e de bens de consumo no país com as maiores reservas de petróleo do mundo, aumentando a pressão para que o governo do presidente Nicolás Maduro desvalorize. O governo vai desvalorizar o câmbio oficial antes do fim de março pela terceira vez desde 2009, segundo os 14 analistas consultados em uma pesquisa da Bloomberg.

Um bolívar mais fraco reduz o poder de compra dos venezuelanos, fazendo com que os produtos importados fiquem mais caros.

Baratos demais

“Para reduzir a demanda e o consumo o governo precisa desvalorizar”, disse Efraín Velázquez, presidente do Comitê Econômico Nacional, um grupo de professores e líderes empresariais criado em 1946 para aconselhar o governo. “Os bens regulados são baratos demais para ficarem nas prateleiras”.


Os controles de preços introduzidos em 2003 pelo predecessor de Maduro, Hugo Chávez, com o objetivo de melhorar a nutrição dos pobres, aumentaram a demanda por alimentos básicos como farinha, arroz e leite. Os produtos cujos preços não variam em meio a uma inflação anual de 56 por cento, a mais alta do mundo, se esgotam rapidamente.

Maduro pediu aos cidadãos que não fizessem “compras nervosas” de produtos importados, dizendo em 8 de janeiro na televisão estatal que “o consumismo é um vício que destrói o ser humano”.

Reduzindo a pobreza

Os controles de preços e o aumento das importações de alimentos ajudaram a aumentar em 50 por cento a ingestão calórica do venezuelano médio durante os primeiros 12 anos da presidência de Chávez, com um aumento de 70 por cento no consumo de arroz, conforme o Instituto Nacional de Nutrição. Usando a riqueza gerada pelo petróleo do país Chávez reduziu a pobreza pela metade antes da sua morte de câncer em março, segundo o Banco Mundial.

À medida que a demanda aumentou e a produção se estagnou, a Venezuela passou de ser um exportador líquido de arroz em 2006 a importar 44 por cento das suas necessidades em 2013, segundo estimativas de um relatório publicado em 1 de novembro pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Sotomayor se prepara para as viagens enchendo o tanque, de tamanho extra colocado especialmente no seu enferrujado Chevrolet Malibu de 1976, com a gasolina local, a mais barata do mundo, por cerca de 4 bolívares. Após armazenar comida e remédios não disponíveis no país, ele volta para a Venezuela por uma estrada engarrafada com centenas de caminhões vazios prontos para serem recarregados para sua próxima viagem pela fronteira.

“É uma caravana interminável”, disse Sotomayor. “A diferença dos preços é tão grande que não há uma quantidade de soldados capaz de deter isso”.

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“Você não consegue nada nas lojas daqui, eu já nem vou mais lá para procurar produtos básicos”, disse Sotomayor, 39, em entrevista por telefone. “Toda a nossa comida é levada para a Colômbia , é como uma praga de gafanhotos”.

Sotomayor não encontra arroz para comprar nas lojas da segunda maior cidade da Venezuela desde julho, porque os contrabandistas compram rapidamente o alimento básico por no máximo de 7,2 bolívares (US$ 1,14) o quilo, a apenas US$ 0,11 pela taxa de câmbio do mercado negro. Enquanto muitas prateleiras na Venezuela ficam vazias, as exportações de arroz do país para a Colômbia dobraram neste ano e agora representam 11 por cento do mercado, segundo o Serviço de Agricultura dos EUA no Exterior e a associação de cultivadores de arroz da Colômbia, a Fedearroz.

O declínio de 73 por cento do bolívar frente ao dólar registrado em 2013 no mercado negro está alimentando o contrabando e agravando a falta de alimentos e de bens de consumo no país com as maiores reservas de petróleo do mundo, aumentando a pressão para que o governo do presidente Nicolás Maduro desvalorize. O governo vai desvalorizar o câmbio oficial antes do fim de março pela terceira vez desde 2009, segundo os 14 analistas consultados em uma pesquisa da Bloomberg.

Um bolívar mais fraco reduz o poder de compra dos venezuelanos, fazendo com que os produtos importados fiquem mais caros.

Baratos demais

“Para reduzir a demanda e o consumo o governo precisa desvalorizar”, disse Efraín Velázquez, presidente do Comitê Econômico Nacional, um grupo de professores e líderes empresariais criado em 1946 para aconselhar o governo. “Os bens regulados são baratos demais para ficarem nas prateleiras”.


Os controles de preços introduzidos em 2003 pelo predecessor de Maduro, Hugo Chávez, com o objetivo de melhorar a nutrição dos pobres, aumentaram a demanda por alimentos básicos como farinha, arroz e leite. Os produtos cujos preços não variam em meio a uma inflação anual de 56 por cento, a mais alta do mundo, se esgotam rapidamente.

Maduro pediu aos cidadãos que não fizessem “compras nervosas” de produtos importados, dizendo em 8 de janeiro na televisão estatal que “o consumismo é um vício que destrói o ser humano”.

Reduzindo a pobreza

Os controles de preços e o aumento das importações de alimentos ajudaram a aumentar em 50 por cento a ingestão calórica do venezuelano médio durante os primeiros 12 anos da presidência de Chávez, com um aumento de 70 por cento no consumo de arroz, conforme o Instituto Nacional de Nutrição. Usando a riqueza gerada pelo petróleo do país Chávez reduziu a pobreza pela metade antes da sua morte de câncer em março, segundo o Banco Mundial.

À medida que a demanda aumentou e a produção se estagnou, a Venezuela passou de ser um exportador líquido de arroz em 2006 a importar 44 por cento das suas necessidades em 2013, segundo estimativas de um relatório publicado em 1 de novembro pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Sotomayor se prepara para as viagens enchendo o tanque, de tamanho extra colocado especialmente no seu enferrujado Chevrolet Malibu de 1976, com a gasolina local, a mais barata do mundo, por cerca de 4 bolívares. Após armazenar comida e remédios não disponíveis no país, ele volta para a Venezuela por uma estrada engarrafada com centenas de caminhões vazios prontos para serem recarregados para sua próxima viagem pela fronteira.

“É uma caravana interminável”, disse Sotomayor. “A diferença dos preços é tão grande que não há uma quantidade de soldados capaz de deter isso”.

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