Colheita recorde dos Estados Unidos não garante bonança
Rivais tradicionais e novos concorrentes agressivos com suas próprias grandes safras estão aproveitando força do dólar para abocanhar uma fatia maior de mercado
Da Redação
Publicado em 20 de outubro de 2014 às 13h22.
Chicago - A maior safra de grãos dos Estados Unidos na história tem empurrado os preços para mínimas de quatro anos, o que geralmente significa uma bonança de vendas para o maior exportador de alimentos do mundo.
Mas não nesta temporada. Rivais tradicionais e novos concorrentes agressivos com as suas próprias grandes safras, como a Ucrânia e a Rússia, estão aproveitando a força do dólar para abocanhar uma fatia maior de um mercado que está encolhendo com importadores aumentando a própria produção.
Além disso, um entupido sistema de transporte nos EUA elevou as taxas de frete ferroviárias e fluviais, tornando-se caro levar montanhas de grãos para os portos. Isso está reduzindo valores recebidos por agricultores de exportadores.
"Nós vamos colher o produto, colocá-lo fora e as nossas exportações vão acelerar", disse Jerry Mohr, presidente da associação dos produtores de milho de Iowa, que cultiva 1.100 acres perto de Davenport, Iowa. Mohr transporta suas colheitas a um elevador nas proximidades do rio Mississippi, onde ele é carregado em barcaças para embarque. Ele espera que os preços lá enfraqueçam nas próximas semanas, quando a enorme safra entupirá o encanamento.
"Será muito milho ao redor e nenhum lugar para ir com ele", disse ele. Um congestionamento nos trilhos causado pelo aumento da demanda para o transporte de petróleo por via férrea fez com que taxas normalmente entre 200-300 dólares por um vagão de 100 toneladas, praticadas há pouco mais de um ano, crescessem para cerca de 5 mil dólares na safra deste ano.
Os custos de balsa para o transporte em época de colheita bateram recordes em algumas áreas este ano. "A agricultura não pagou esse preço antes", disse o analista Stephen Nicholson com o Rabobank, um grande credor ao agronegócio.
Com o encolhimento da participação dos EUA no mercado global de exportação, analistas esperam que a acumulação de oferta resultante vai significar mais soja plantada nos Estados Unidos e menos milho e trigo na próxima temporada. Isso traz mudanças nos padrões de comércio mundial de grãos, com a região do Mar Negro permanecendo como um jogador mundial agressivo em grãos.
Será difícil para o mercado interno absorver as montanhas de grãos deixados para trás, pesando fortemente na economia agrícola e pressionando tudo, desde valores de terras agrícolas até as vendas de máquinas agrícolas. As exportações de milho dos Estados Unidos devem cair 9 por cento nesta temporada, para 1,75 bilhão de bushels, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).
Grandes safras mundo afora vão reduzir as importações mundiais totais em 8 por cento, para 4,4 bilhões de bushels. Os preços do milho nos terminais de exportação da costa do Golfo dos EUA estão agora em torno de 12 dólares por tonelada mais altos que na Ucrânia e do Brasil, no grande porto de Paranaguá, e 17 dólares acima das exportações argentinas, segundo dados da Reuters.
Os custos de frete marítimo dos Estados Unidos não são baratos o suficiente para compensar essas diferenças de preços. Vários anos de preços elevados, sustentados pela crescente demanda da China e uma expansão da indústria de biocombustíveis, encorajou agricultores em todo o mundo a plantar mais e investir em infraestrutura para transporte.
Concorrentes como o Brasil, Ucrânia e outros produtores do Mar Negro vão ter menor oferta de milho em fevereiro ou março, dando aos exportadores dos EUA uma chance de voltar ao jogo, disseram analistas de grãos. As exportações de milho, soja e trigo dos Estados Unidos são projetadas para representar apenas 30 por cento do comércio mundial nesta temporada, a menor participação dos EUA para um ano sem seca.
Terras e equipamentos
Os preços baixos de grãos já pararam um rali de valores de terras agrícolas, enquanto as vendas de equipamentos agrícolas caíram, levando a líder de mercado Deere & Co a colocar várias unidades em marcha lenta e a demitir 1 mil trabalhadores.
A história do trigo é semelhante. Mesmo com a produção nacional em queda de 5 por cento neste ano, para 2,04 bilhões de bushels, o USDA espera que estoques de trigo subam 11 por cento no fim da temporada em junho.
"Os ucranianos, os brasileiros, os argentinos são mais baratos que nós em milho. Os russos e todo mundo são mais baratos do que nós no trigo", disse Dan Basse, presidente da AgResource, assessor de mercado em Chicago. Enquanto o USDA prevê que as exportações se soja subam 3 por cento, para 1,7 bilhão de bushels, o departamento também prevê crescimento dos estoques de 400 por cento no fim da estação.
O cenário virá em parte porque as exportações brasileiras serão enormes novamente neste ano, depois de subirem 30 por cento ao longo dos últimos dois anos. "Eu acho que é mais uma questão das fontes amplas de estoques competitivos do que sobre a nossa safra recorde e nosso grande excedente potencial de exportação", disse Rich Feltes, vice-presidente de pesquisa de commodities da corretora RJ O'Brien.
Chicago - A maior safra de grãos dos Estados Unidos na história tem empurrado os preços para mínimas de quatro anos, o que geralmente significa uma bonança de vendas para o maior exportador de alimentos do mundo.
Mas não nesta temporada. Rivais tradicionais e novos concorrentes agressivos com as suas próprias grandes safras, como a Ucrânia e a Rússia, estão aproveitando a força do dólar para abocanhar uma fatia maior de um mercado que está encolhendo com importadores aumentando a própria produção.
Além disso, um entupido sistema de transporte nos EUA elevou as taxas de frete ferroviárias e fluviais, tornando-se caro levar montanhas de grãos para os portos. Isso está reduzindo valores recebidos por agricultores de exportadores.
"Nós vamos colher o produto, colocá-lo fora e as nossas exportações vão acelerar", disse Jerry Mohr, presidente da associação dos produtores de milho de Iowa, que cultiva 1.100 acres perto de Davenport, Iowa. Mohr transporta suas colheitas a um elevador nas proximidades do rio Mississippi, onde ele é carregado em barcaças para embarque. Ele espera que os preços lá enfraqueçam nas próximas semanas, quando a enorme safra entupirá o encanamento.
"Será muito milho ao redor e nenhum lugar para ir com ele", disse ele. Um congestionamento nos trilhos causado pelo aumento da demanda para o transporte de petróleo por via férrea fez com que taxas normalmente entre 200-300 dólares por um vagão de 100 toneladas, praticadas há pouco mais de um ano, crescessem para cerca de 5 mil dólares na safra deste ano.
Os custos de balsa para o transporte em época de colheita bateram recordes em algumas áreas este ano. "A agricultura não pagou esse preço antes", disse o analista Stephen Nicholson com o Rabobank, um grande credor ao agronegócio.
Com o encolhimento da participação dos EUA no mercado global de exportação, analistas esperam que a acumulação de oferta resultante vai significar mais soja plantada nos Estados Unidos e menos milho e trigo na próxima temporada. Isso traz mudanças nos padrões de comércio mundial de grãos, com a região do Mar Negro permanecendo como um jogador mundial agressivo em grãos.
Será difícil para o mercado interno absorver as montanhas de grãos deixados para trás, pesando fortemente na economia agrícola e pressionando tudo, desde valores de terras agrícolas até as vendas de máquinas agrícolas. As exportações de milho dos Estados Unidos devem cair 9 por cento nesta temporada, para 1,75 bilhão de bushels, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).
Grandes safras mundo afora vão reduzir as importações mundiais totais em 8 por cento, para 4,4 bilhões de bushels. Os preços do milho nos terminais de exportação da costa do Golfo dos EUA estão agora em torno de 12 dólares por tonelada mais altos que na Ucrânia e do Brasil, no grande porto de Paranaguá, e 17 dólares acima das exportações argentinas, segundo dados da Reuters.
Os custos de frete marítimo dos Estados Unidos não são baratos o suficiente para compensar essas diferenças de preços. Vários anos de preços elevados, sustentados pela crescente demanda da China e uma expansão da indústria de biocombustíveis, encorajou agricultores em todo o mundo a plantar mais e investir em infraestrutura para transporte.
Concorrentes como o Brasil, Ucrânia e outros produtores do Mar Negro vão ter menor oferta de milho em fevereiro ou março, dando aos exportadores dos EUA uma chance de voltar ao jogo, disseram analistas de grãos. As exportações de milho, soja e trigo dos Estados Unidos são projetadas para representar apenas 30 por cento do comércio mundial nesta temporada, a menor participação dos EUA para um ano sem seca.
Terras e equipamentos
Os preços baixos de grãos já pararam um rali de valores de terras agrícolas, enquanto as vendas de equipamentos agrícolas caíram, levando a líder de mercado Deere & Co a colocar várias unidades em marcha lenta e a demitir 1 mil trabalhadores.
A história do trigo é semelhante. Mesmo com a produção nacional em queda de 5 por cento neste ano, para 2,04 bilhões de bushels, o USDA espera que estoques de trigo subam 11 por cento no fim da temporada em junho.
"Os ucranianos, os brasileiros, os argentinos são mais baratos que nós em milho. Os russos e todo mundo são mais baratos do que nós no trigo", disse Dan Basse, presidente da AgResource, assessor de mercado em Chicago. Enquanto o USDA prevê que as exportações se soja subam 3 por cento, para 1,7 bilhão de bushels, o departamento também prevê crescimento dos estoques de 400 por cento no fim da estação.
O cenário virá em parte porque as exportações brasileiras serão enormes novamente neste ano, depois de subirem 30 por cento ao longo dos últimos dois anos. "Eu acho que é mais uma questão das fontes amplas de estoques competitivos do que sobre a nossa safra recorde e nosso grande excedente potencial de exportação", disse Rich Feltes, vice-presidente de pesquisa de commodities da corretora RJ O'Brien.