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Ciência verde

Nos laboratórios, o campo encontra um grande aliado

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h40.

Samba, futebol e genômica. Assim o semanário britânico The Economist destacou, em julho de 2000, a mais recente competência do país. Meses antes, cientistas brasileiros haviam concluído o seqüenciamento da Xylella fastidiosa, bactéria causadora do amarelinho, praga responsável por grandes prejuízos aos laranjais. Iniciado em maio de 1997, o projeto mobilizou 30 laboratórios do estado de São Paulo, unindo pesquisadores de várias universidades de São Paulo, e alcançou um feito histórico. Pela primeira vez no mundo, um grupo de cientistas conseguira decifrar uma bactéria causadora de praga em planta de importância econômica.

O sucesso do projeto Xylella motivou os pesquisadores brasileiros a iniciar o mapeamento de culturas de relevância econômica, como a cana-de-açúcar, o café e o eucalipto. No caso da cana, os cientistas esperam identificar promotores de genes que são ativados quando a planta é atacada por insetos. E a partir daí desenvolver plantas resistentes a pragas. Pretendem identificar também genes responsáveis pelo crescimento, pela produção e pelo teor de açúcar da cana, com o objetivo de aumentar a rentabilidade da cultura. A transgenia, ainda proibida no país para fins comerciais, promete uma revolução na agricultura -- redução de custos, aumento da produtividade, facilidades de manejo e uma série de outros benefícios.

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Mas a excelência da pesquisa agropecuária brasileira começou a firmar-se bem antes da introdução da pesquisa genômica no Brasil. O exemplo mais marcante foi o desenvolvimento de uma tecnologia agrícola tropical, que permitiu a conquista dos cerrados. Trinta anos atrás, os solos ácidos da região eram imprestáveis para a agricultura -- havia apenas pastagens ralas e algumas lavouras de arroz. Hoje, a região produz quase 50% da safra de grãos -- sem falar em outras lavouras, como o algodão, o girassol e o trigo -- e abriga 41% dos 163 milhões de bovinos do rebanho nacional. São 50 milhões de hectares de pastagens cultivadas, 12 milhões de culturas anuais e 2 milhões de hectares de culturas perenes e florestais, como a seringueira.

Iniciada com a soja, a ocupação agrícola dos cerrados foi resultado de um amplo trabalho de pesquisa, que envolveu cientistas de vários institutos e universidades do país (Viçosa, Instituto Agronômico de Campinas, Iapar e Embrapa). Até o início da década de 80, cerca de 80% do plantio de soja estava concentrado no Sul do Brasil. As primeiras variedades, trazidas dos Estados Unidos, se davam bem apenas na faixa que vai do Rio Grande do Sul ao sul de São Paulo. Planta de dias curtos (noites longas), a soja prefere regiões de clima temperado. Nos cerrados, as plantas apresentavam pequena estatura, o que impossibilitava a colheita mecanizada. Por meio de melhoramento genético, os pesquisadores conseguiram driblar esse problema e desenvolver, no início dos anos 70, uma soja tropical, capaz de vingar até em zonas equatoriais e solos de baixa fertilidade.

Da década de 70 para cá, a soja mudou a paisagem do Centro-Oeste. Na última safra, dos 17 milhões de hectares ocupados pelo grão no país, pelo menos 10 milhões estavam nos cerrados. Em algumas áreas de Mato Grosso e de Goiás, a cultura já registra índices de produtividade média de até 5 000 quilos por hectare. E a média nacional, de 2 800 quilos por hectare, supera a dos agricultores americanos (2 600 quilos). Há 15 anos, a produtividade média nos cerrados não ultrapassava os 2 000 quilos por hectare. Sozinha, a evolução genética permitiu um ganho de 2% ao ano em produtividade.

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