China: economia do país enfrenta uma série de ameaças à sua meta de expansão econômica para 2023. (STR/AFP/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 18 de agosto de 2023 às 08h39.
A decisão abrupta da China de suspender a divulgação de dados sobre sua crescente taxa de desemprego juvenil nesta semana foi o mais recente sinal de que a gigante asiática está restringindo cada vez mais informações confidenciais — especialmente quando não favorecem a frágil economia do país.
A taxa de desemprego na faixa etária de 16 a 24 anos se enquadrou nessa categoria, depois de atingir um recorde de 21,3% em junho. Ter cerca de 20% dos jovens desempregados é uma estatística preocupante para um Partido Comunista obcecado em manter a estabilidade social.
Enquanto a economia da China enfrenta uma série de ameaças à sua meta de expansão econômica para 2023, uma gama mais ampla de dados agora é considerada inadequada para consumo público. A batalha ideológica do presidente Xi Jinping com os Estados Unidos também motivou Pequim a proteger dados que, na visão da China, poderiam beneficiar o governo Biden.
Embora muitos desses dados na China desapareçam silenciosamente, a decisão de não divulgar a taxa de desemprego foi anunciada em uma coletiva de imprensa. O Escritório Nacional de Estatísticas tem um histórico de suspender divulgações que não sejam favoráveis à economia do país, mas geralmente não comunica esse tipo de decisão publicamente.
Confira algumas áreas cuja divulgação de dados foi restringida recentemente:
No mês passado, o governo indicou que a taxa de desemprego de julho entre jovens provavelmente aumentaria, estabelecendo outro recorde. Então, na terça-feira, autoridades anunciaram que os dados não seriam mais publicados ao citar a necessidade de revisar o método de avaliação.
Calcular a taxa real de emprego é uma tarefa complexa e é plausível que o governo tenha decidido que, devido à natureza mutável da economia e dos padrões de trabalho, seu modelo atual não reflete a realidade com precisão. No entanto, o momento da mudança levanta algumas questões, visto que a projeção era de que a taxa superasse outro recorde. Autoridades indicaram que podem retomar a publicação dos dados nos próximos meses.
Os números que mostram a quantidade de terrenos comprados por incorporadoras e os preços pagos já não constam nos relatórios mensais. A série de dados remonta a 1998. A mudança vem na esteira de uma queda de mais de 50% no volume de terrenos vendidos para construção no ano passado.
Esse declínio indicou que a crise imobiliária é pior do que a informada pelo governo. A receita de governos locais com a venda de terrenos no ano passado caiu apenas 23%, segundo dados oficiais.
Outro dado curioso é o valor que o governo possui em ativos cambiais oficiais, que se mantêm notavelmente estáveis desde 2017. Isso apesar de a China ter um superávit comercial cada vez maior durante esse período, o que deveria ter levado a um aumento das reservas.
Brad Setser, ex-funcionário do Tesouro dos EUA, sugere que metade das reservas reais está escondida. Muitas das reservas do país não aparecem nos livros oficiais do Banco Popular da China, porque estão armazenadas em “reservas ocultas”, entre os ativos de entidades como bancos comerciais estatais e de desenvolvimento, disse.
Apesar do crescente superávit comercial e em conta corrente, a moeda também tem se mantido estável, em um sinal de que parte desse dinheiro provavelmente tem sido usado para intervenções nos mercados de câmbio.
As cremações em uma das províncias mais populosas da China aumentaram 72,7% em relação ao ano anterior no primeiro trimestre, segundo noticiado em julho pelo portal de notícias financeiras chinês Caixin, que citou dados oficiais divulgados pela província de Zhejiang.
Esse dado deu uma rara visão da escala de mortalidade após o governo relaxar de repente as restrições ao coronavírus em dezembro. E então os dados desapareceram. O comunicado oficial foi posteriormente removido da internet e o Caixin excluiu seu relatório sobre esses dados.
Não se sabe quantas pessoas realmente morreram de Covid durante a onda iniciada no fim do ano passado, quando o país desistiu de sua tentativa de eliminar todos os casos. O governo informou que houve quase 60 mil mortes relacionadas à Covid nas primeiras cinco semanas desse surto.