China anuncia apoio total a processo da Huawei contra os Estados Unidos
Empresa de tecnologia entrou na Justiça contra os EUA por impedirem compra dos seus produtos no país
AFP
Publicado em 8 de março de 2019 às 09h06.
A China expressou nesta sexta-feira apoio total ao combate judicial iniciado na quinta-feira (7) pela gigante mundial das telecomunicações Huawei contra os Estados Unidos , ao mesmo tempo em que prometeu adotar "todas as medidas necessárias" para defender a empresa.
O ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, celebrou nesta sexta-feira a iniciativa da empresa e afirmou que a Huawei não deve permanecer calada como um "cordeiro silencioso" diante dos americanos.
Os Estados Unidos proibiram a Huawei de participar da instalação em seu território do 5G, a quinta geração de internet móvel, alegando que a China poderá utilizar os equipamentos do grupo para espionagem. Além disso, Washington tenta convencer os aliados ocidentais a adotar a mesma postura.
A justiça americana também quer julgar a diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, por violar as sanções ao Irã. Meng foi detida no Canadá, onde permanece sob liberdade vigiada, à espera do julgamento de um pedido de extradição.
"Basta ter uma postura objetiva e imparcial para ver que as recentes ações contra uma empresa e particulares chineses não são um simples caso judicial, mas sim uma repressão política deliberada", disse Wang Yi à imprensa.
"Neste sentido, adotamos e seguiremos adotando todas as medidas necessárias para proteger com decisão os direitos e interesses legítimos das empresas e dos cidadãos chineses".
"Corresponde ao governo chinês assumir esta responsabilidade", disse Wang Yi durante a entrevista coletiva.
"Armas legais"
Na quinta-feira, a Huawei, gigante mundial dos smartphones e que disputa mercado com a Samsung e a Apple, informou que apresentou uma ação no Texas contra o governo dos Estados Unidos, que proibiu as agências federais de comprar equipamentos e serviços do grupo.
A empresa chinesa também pedirá uma indenização por danos e prejuízos aos Estados Unidos por restrições que considera "inconstitucionais". Acusa ainda Washington de ter hackeado seus servidores e roubado e-mails.
"Apoiamos as empresas e pessoas afetadas no uso de armas legais para proteger seus direitos e interesses", disse Wang Yi.
A Huawei é líder mundial em equipamentos de telecomunicações, mas seu controle do mercado gera uma preocupação crescente nos Estados Unidos, que quer se manter à frente do setor tecnológico.
O governo americano também diz estar preocupado com o fato de Pequim usar "backdoors", as portas de entrada em equipamentos que potencialmente permitem espionar as comunicações.
As preocupações de Washington aumentaram com a expansão do grupo chinês no exterior. Os equipamentos da Huawei são considerados mais avançados que os das concorrentes sueca Ericsson ou finlandesa Nokia e nenhuma empresa americana representa uma concorrência considerável para o grupo chinês.
O governo americano considera a Huawei uma ameaça pelo passado de seu fundador, Ren Zhengfei, 74 anos, um ex-engenheiro do Exército chinês, e por uma lei que exige que grupos com sede social na China forneçam assistência técnica aos serviços de inteligência.
Mas a China alega que a situação é um pretexto para frear o desenvolvimento da empresa, líder mundial de equipamentos de telecomunicações, e evitar que os Estados Unidos sejam superados tecnologicamente.
"O que queremos é defender não apenas os direitos e interesses de uma empresa, mas também o legítimo direito de desenvolvimento de um país, de uma nação, e de todos os países do mundo que desejam melhorar seu nível de desenvolvimento científico e tecnológico", afirmou Wang.
A Huawei lançou nas últimas semanas uma campanha de comunicação agressiva para defender sua imagem. O outrora discreto fundador da companhia, Ren Zhengfei, tem dado várias palestras e entrevistas nas últimas semanas. Na quarta-feira, a empresa organizou uma visita a suas instalações de produção, pesquisa e desenvolvimento no sul da China.
O diretor jurídico da Huawei, Song Liuping, admitiu que a lei chinesa poderia obrigar a empresa a ajudar o governo, mas apenas em casos de terrorismo ou atos criminosos.
Após o processo contra Washington, a empresa chinesa informou nesta sexta-feira que não pretende no momento questionar na justiça a decisão da Austrália de bloquear o acesso da Huawei ao desenvolvimento do 5G neste país.