Economia

Cenário virtuoso em 2004, dúvida em 2005

O ano que acaba foi com certeza bom para a economia, mas não está garantida a sustentabilidade em 2005

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h52.

Por qualquer ângulo que se olhe, 2004 foi um ano bom. Afinal, uma expansão de 5% do PIB não é pouca coisa: é a maior taxa em uma década. Também foi um crescimento mais equilibrado: as exportações aumentaram, mas os investimentos e o consumo privado também. Com isso, a demanda doméstica, que se contraíra em 2003, foi determinante para o bom desempenho deste ano, fazendo com que o crescimento do PIB se traduzisse mais diretamente em uma melhoria de bem estar para a população.

Outros indicadores também mostraram uma boa evolução: a taxa de desemprego baixou; a inflação caiu, ficando dentro da banda estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, o que não ocorria desde 2000; e o déficit nominal diminuiu, aproximando-se de 3% do PIB, o patamar mais baixo na história documentada desse indicador, tendo por trás um resultado operacional positivo e fazendo com que a razão dívida pública/PIB caísse pela primeira vez em vários anos.

Apesar disso, o ano terminou em meio a dúvidas sobre a sustentabilidade desse cenário virtuoso e, em especial, da capacidade do país manter um ritmo forte de crescimento. São duas as razões para essa preocupação.

A primeira é o grau em que esses resultados dependeram do excelente desempenho da economia internacional em 2004, quando o PIB mundial, medido em paridade de poder de compra (PPP), cresceu 5%, depois de uma expansão média de 3% anuais entre 2001 e 2003. As projeções indicam que o próximo ano deve ser menos favorável, mas ainda oferecer um ambiente externo benigno do ponto de vista do Brasil.

A segunda é se o país conseguirá ampliar a sua capacidade de produção com rapidez. A utilização de capacidade na indústria de transformação está em um patamar muito elevado. Em especial, os setores de bens de consumo e de capital, que iniciaram o corrente ciclo com graus elevados de ociosidade, já estão trabalhando com carga próxima ao máximo, inclusive cancelando férias coletivas. De fato, a contribuição das exportações líquidas para o crescimento do PIB, que foi responsável por praticamente todo o seu crescimento entre 2001 e 2003, tornou-se menos importante este ano, devendo passar a negativa em 2005.

O mais provável é que em 2005 o Brasil volte a crescer acima da média das duas últimas décadas, mas menos que este ano, em função do ambiente externo menos favorável e de gargalos em alguns setores. Mas, se perseverarmos nas reformas e na disciplina fiscal, poderemos transformar 2004 no primeiro de uma seqüência de anos bons. Depois de uma década de reformas, o Brasil está numa situação muito mais propícia para retomar um ritmo bom e sustentado de crescimento do que em outros momentos do passado recente.

O economista Armando Castelar Pinheiro é pesquisador do Ipea

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