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Casa cheia, fala curta: debut global de Bolsonaro é marcado pelo não dito

Presidente usou um terço do tempo disponível em Davos; sessão estava lotada mas recepção foi fria, sem aplausos quando ele entrou e poucos no encerramento

Jair Bolsonaro discursa no Fórum Econômico Mundial em Davos. 22 de janeiro de 2019 (Arnd Wiegmann/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 13h21.

Última atualização em 23 de janeiro de 2019 às 19h14.

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro fez hoje a sua estreia no palco internacional no Fórum Econômico Mundial em Davos , na Suíça.

A sessão estava muito cheia mas a recepção da plateia foi fria, sem aplausos quando ele entrou e poucos no encerramento.

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O discurso foi curto, como já havia sido antecipado pelo presidente. Inicialmente o presidente teria 45 minutos disponíveis, depois reduzidos para meia hora com a inclusão na agenda de um pronunciamento do secretário de Estado americano, Mike Pompeo.

Bolsonaro acabou falando por 6 minutos e fez uma sabatina de cerca de 7 minutos com o fundador e presidente do Fórum, Klaus Schwab.

Os discursos no Fórum dos ex-presidentes Luís Inácio Lula da Silva (2003, 2005 e 2007), Dilma Rousseff (2014) e Michel Temer (2018) ficaram na faixa entre 28 minutos e 38 minutos, incluindo perguntas.

Na única parte que não estava no discurso antecipado à imprensa, Bolsonaro disso estar emocionado e se dirigiu a plateia afirmando que “o Brasil precisa de vocês e vocês com toda certeza em parte precisam do nosso querido Brasil”.

Ele destacou sua própria vitória eleitoral, com pouco tempo de televisão e recursos, e ter assumido um país em "profunda crise ética, moral e econômica".

A uma plateia formada em grande parte por investidores, o presidente prometeu "trabalhar pela estabilidade macroeconômica, respeitando os contratos, privatizando e equilibrando as contas públicas".

Não houve detalhes sobre o programa de privatizações, como havia sido especulado. Quando questionado por Schwab sobre a associação da "marca Brasil" com a corrupção e planos concretos para essa área, o presidente também não deu detalhes.

Ele também não falou sobre a reação do país diante da crise na Venezuela ou sobre a decisão recente de sair do Pacto Global da Migração, dois temas interligados no caso brasileiro e caros ao público internacional.

"Vamos defender a família e os verdadeiros direitos humanos; proteger o direito à vida e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria", destacou Bolsonaro.

Ministros

Bolsonaro havia dito ontem, já em Davos, que seu discurso havia sido "feito e corrigido, por assim dizer, por vários ministros”.

Foram citados três ministros que o acompanham na comitiva: Paulo Guedes, da Economia, Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública ("o homem certo para o combate à corrupção e o combate à lavagem de dinheiro") e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores.

“Nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir”, disse Bolsonaro.

O trecho sobre Araújo foi revelador já que ele é visto justamente como um dos membros mais ideológicos da equipe e um possível obstáculo para os planos liberais de Guedes.

O general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, também está na comitiva mas não foi citado.

Meio ambiente

O meio ambiente e sua compatibilização com o desenvolvimento foram um dos principais temas da sessão.

"Somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária. Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo", disse Bolsonaro no discurso.

No entanto, ele não falou das mudanças climáticas, citadas como um dos maiores riscos para o planeta nos relatórios do próprio Fórum.

Bolsonaro disse na sabatina com Schwab que "pretendemos estar sintonizados com o mundo na busca da diminuição de CO2 e na preservação do meio ambiente".

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse recentemente que o presidente aceitou ficar no Acordo de Paris, apesar de ameaças durante a campanha.

Metas econômicas

"Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós", disse Bolsonaro no discurso sem citar nenhuma especificamente. Depois, questionado por Schwab sobre quais seriam, ele citou as reformas da Previdência e a Tributária.

Jair Bolsonaro também estabeleceu como meta em seu discurso colocar o Brasil entre os 50 melhores países para fazer negócios, uma referência ao ranking Doing Business do Banco Mundial; o país subiu 14 posições no último levantamento, mas está no 109º lugar entre 190 países.

O presidente também prometeu diminuir a carga tributária, promessa vista por grande parte dos economistas como inviável, pelo menos em um primeiro mandato, devido ao tamanho do rombo fiscal.

Uma novidade foi a "defesa ativa da reforma da OMC, com a finalidade de eliminar práticas desleais de comércio e garantir segurança jurídica das trocas comerciais internacionais."

O presidente concluiu a sua fala repetindo seu lema de campanha ("Deus acima de tudo”) e afirmando que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos."

(Com Carlo Cauti, de Davos)

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