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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h30.
A decisão do governo boliviano de nacionalizar as reservas de gás do país foi um tiro de misericórdia no projeto do governo Lula de se tornar uma liderança sul-americana natural. Para especialistas em relações internacionais, o caso da Petrobras provou o quanto a política externa brasileira na região está equivocada.
"Desde o início, o governo pautou sua política externa no prestígio do presidente Lula. Mas o que faz uma liderança são atitudes reais, e não discurso", diz o pesquisador em Relações Internacionais, José Augusto Guilhon Albuquerque.
Na visão de Guilhon, a "pretensa liderança" brasileira nunca se confirmou. "Faltaram iniciativas concretas, como projetos de integração comercial. No início, ainda havia o prestígio do presidente Lula, mas que também já se esgotou", afirma o pesquisador.
O caso da Petrobras foi de longe o mais grave, mas não o único sinal do enfraquecimento do papel do Brasil na América do Sul. O professor Amâncio Jorge de Oliveira, do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (Caeni) da Universidade de São Paulo, diz que as sinalizações ambíguas do Uruguai (que chegou a dizer que sairia do Mercosul); a prepotência de Hugo Chávez, graças ao poder do petróleo venezuelano ; e agora, o nacionalismo de Evo Morales mostram que, na verdade, o problema é mais complexo do que a falta de liderança.
"A América do Sul carece de uma coordenação. As linhas políticas não convergem. Num cenário como esse, é impossível falar em liderança", diz o professor da USP.
A liderança brasileira na região nunca chegou a ser ofensiva. Historicamente, o Brasil tem sido caracterizado, nos estudos de Relações Internacionais como um "soft power" - termo criado pelo pesquisador americano Joseph Nye para designar aqueles países que preferem o poder do convencimento ao uso da força no trato internacional.
Na opinião de Oliveira, o estilo "soft" foi colocado à prova com o caso da Petrobras na Bolívia. "Essa linha de política externa tem suas vantagens, mas não funciona quando os conflitos de interesse são mais graves como agora. Quando o conflito é sério, ser 'soft' não adianta. O Brasil acabou se tornando um líder sem poder de fogo", diz o professor.