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Campanha de 2004 nos EUA vai emperrar Alca e OMC, dizem especialistas

A agenda eleitoral americana já começou a congelar as negociações

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h48.

As negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e da Rodada de Doha da Organização Mundial doComércio (OMC) continuarão emperradas no ano que vem, sobretudo por causa das eleições americanas, afirmaram especialistas em negociações comerciais reunidos hoje no Seminário sobre Política Externa promovido pelo Conselho de Empresários da América Latina (Ceal).
No caso da Alca, é consenso que a administração Bush fará- ou deixará de fazer - tudo para que o processo de formação do bloco não atrapalhe a reeleição no próximo ano. "A Casa Branca não vai deixar Zoellick avançar muito", disse Arturo Valenzuela, ex-assessor do presidente Bill Clinton em seu segundo mandato e professor da Universidade Georgetown, em Washington. "Antes da eleição de 2004 não haverá progresso nessa matéria."

Assegurada a continuidade de Bush no poder, afirma Valenzuela, o alvo será mesmo isolar o Brasil nas negociações. "O acordo obtido em Miami foi para evitar a manchete 'Miami talks fail' ", disse.No entender do especialista, a repentina convergência diplomática com o Brasil, que defende uma Alca menos abrangente, já segue uma lógica de campanha. Um fracasso seria uma chamuscada política em plena Flórida, estado governado pelo irmão do presidente, Jeb Bush. Na reunião entre ministros de 34 países do continente, diz ele, foi acertado simplesmente que todos vão continuar conversando.

Quanto à Rodada de Doha,o fracasso das negociações para abertura comercial em escala mundial já era esperado. "Toda rodada bem-sucedida na OMC é seguida por uma rodada mal-sucedida", disse o jurista Luiz Olavo Baptista, membro do Órgão de Apelação da OMC. Depois de fazer concessões, disse Baptista, os países levam um certo período para absorver os custos políticos e os rearranjos econômicos da liberalização.

Além disso, parece haver um déficit de governança no plano global, em que instituições como ONU, FMI e a própria OMC não conseguem processar todas as demandas que a globalização põe em movimento, de acordo com Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores nos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso. Mesmo para prosseguir a agenda de consolidação do Mercosul, Lafer apontou a necessidade deequacionar e de definir de uma vez por todas a tarifa externa comum (TEC) do bloco para a maior parte dos produtos.

Sem isso, fica muito difícil uma negociação do Mercosul em bloco, como pretende o governo. De acordo com Valenzuela, caso a administração Bush consiga ultrapassar o desafio das urnas, a estratégia será confrontar o Brasil e o Mercosul com fatos consumados: uma coleção de acordos já sacramentados com o maior número possível de países, todos com base no figurino chileno, criticado pela diplomacia brasileira.

Em junho passado, o Chile firmou um acordo de livre comércio com os Estados Unidos que inclui obrigações como a proibição de que o governo limite a saída de capital em situações de crise e duras normas sobre propriedade intelectual. Dispositivos como esses fariam o ministro Celso Amorim abandonar qualquer mesa de negociação. Mas nada está definido ainda, afirma Valenzuela: "2004 será um ano complicado. Pela situação econômica, Bush terá muita dificuldade para se reeleger. Ele vai terminar este mandato com menos empregos do que quando começou. Desde o presidente Hoover não se via um quadro assim".

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