Brasileiro tem uma das maiores férias do mundo, diz pesquisa
Trabalhador do país tem por lei 40 dias por ano de férias e feriados, número inferior apenas ao da Finlândia em ranking com 33 países
Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2011 às 20h24.
Férias e feriados parecem passar sempre rápido demais, mas os brasileiros aparentemente têm pouco a reclamar nesse sentido, pelo menos quanto ao que determina a lei. Numa pesquisa sobre legislação trabalhista realizada em 33 países da Europa e da América Latina pela consultoria americana Mercer Human Resources, o Brasil aparece como vice-campeão mundial de folgas.
Os trabalhadores brasileiros têm direito assegurado oficialmente a 40 dias de folga, em média, levando-se em conta os 30 dias de férias e os dez "dias festivos" nacionais - os feriados que valem para todos os Estados.
Esse número deixa o Brasil à frente de 39 países, na lista da consultoria, e atrás apenas da Finlândia, com 44 dias de descanso por ano. Empatados com os brasileiros no ranking dos dias não-trabalhados estão a os franceses e os lituanos, ambos com 40. Na América Latina, os brasileiros são os mais "descansados".
País | Total (dias) |
Finlândia | 44 |
Brasil | 40 |
Lituânia | 40 |
França | 40 |
Argentina | 39 |
Malta | 38 |
Áustria | 38 |
Estônia | 38 |
Grécia | 37 |
Chipre | 36 |
Eslovênia | 36 |
Espanha | 36 |
Polônia | 36 |
Suécia | 36 |
Dinamarca | 35 |
Luxemburgo | 35 |
Eslováquia | 35 |
Venezuela | 35 |
Alemanha | 34 |
Portugal | 34 |
Hungria | 33 |
Colômbia | 33 |
Bulgária | 32 |
Itália | 31 |
Letônia | 31 |
República Checa | 31 |
Chile | 30 |
Bélgica | 30 |
Irlanda | 29 |
Países Baixos | 28 |
Romênia | 28 |
Reino Unido | 28 |
México | 22 |
A boa posição no ranking, no entanto, não significa comemoração para todos. Mesmo no universo de trabalhadores com carteira assinada, uma fatia muito significativa jamais consegue usufruir desses 40 dias, de acordo com o diretor de desenvolvimento e negócios da Mercer, Marcelo Ferrari.
"O número é uma base legal, é a teoria, mas na prática, a gente sabe que boa parte dos funcionários das empresas vende um terço ou mais dos dias a que tem direito, por razões econômicas, e que outra parcela grande nunca consegue tirar os 30 dias de férias porque a dinâmica de trabalho não permite que a pessoa fique tanto tempo afastada", explica.
Para o consultor, também é fundamental levar em conta que não é o número de dias de folga que determina o ritmo da economia de um país, mas sim como os dias trabalhados são aproveitados. Nos países de produtividade elevada - aqueles com alto nível educacional, governo eficiente e empresas com processos de gestão avançados - é possível trabalhar por menos horas ao longo do dia e por menos dias durante o ano sem ficar para trás em termos de competitividade.
"Na Suécia, o número de folgas anuais chega a 36, próximo aos 40 do Brasil, mas a cultura de planejamento a longo prazo e de espírito coletivo deles é muito mais desenvolvida. Não existe, essa idéia de que tudo ';é para ontem';, como aqui porque o que tinha que ser resolvido já estava sendo trabalhado há tempos. Isso é um exemplo de que, quanto mais eficiente é a maneira de trabalhar, mais espaço também haverá para a vida pessoal sem prejuízos à economia", diz.
Segundo Ferrari, o México é o exemplo contrário. O país, onde férias e feriados correspondem a apenas 22 dias, foi o que apresentou menor número de descansos anuais da lista da Mercer, mas não por isso pode ser considerado o país mais produtivo.
Ele ressalta, porém, que se a quantidade de folgas no Brasil não é determinante para a produtividade, faz diferença no custo de manter um empregado, tanto pelo fato de a empresa ter que pagar por um número grande de horas não-trabalhadas quanto por uma peculiaridade de legislação brasileira, o adicional de férias. Por lei, o trabalhador com registro em carteira tem direito a um acréscimo de 30% do salário, no mês em que sai de férias, o que para o consultor é uma contradição vista em poucos lugares do mundo.
"Somos um dos únicos países onde o trabalhador ganha mais quando está em descanso do que nos meses em que trabalha. É uma lógica difícil de entender", afirma.