Economia

Brasil sofre derrota em disputa pela presidência do BID

É a segunda vez que o país não tem sucesso em eleição pelo comando de uma importante instituição internacional. O economista brasileiro João Sayad perdeu para o colombiano Luis Alberto Moreno, apoiado pelos Estados Unidos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.

A opinião dos Estados Unidos preponderou na eleição do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Apoiada pelo governo americano, a candidatura do atual embaixador da Colômbia nos EUA, Luis Alberto Moreno, venceu a do brasileiro João Sayad, atual vice-presidente da instituição, que contava com o apoio da Argentina. Moreno assume em 1º de outubro, no lugar do uruguaio Enrique Iglesias, para um mandato de cinco anos com possibilidade de recondução.

Essa é a segunda derrota do Itamaraty em sua tentativa de emplacar um brasileiro no comando de instituições internacionais importantes. Em 15 de abril, o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa foi desclassificado da disputa pela direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) logo no primeiro turno exatamente como aconteceu hoje (27/7), primeiro dia do processo eletivo no Banco Interamericano.

No BID, o dirigente é eleito com o apoio dos países que representam a maioria do capital subscrito, combinado ao apoio da maioria absoluta dos representantes (em geral ministros da Fazenda ou presidentes de Bancos Centrais, denominados "governadores") dos 47 países-membros. O voto dos Estados Unidos, que detém mais de 30% do capital, tem um peso maior em relação a países como Brasil e Argentina, países que aportaram pouco mais de 10% do capital do banco, cada um.

Novo papel

Para o ex-embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), seria importante contar com Sayad na presidência do BID, porque ele teria uma "sensibilidade especial" com os países da América Latina. O BID é uma das principais fontes de financiamento para uma série de projetos. No caso brasileiro, tem sido fundamental, por exemplo, em iniciativas de desenvolvimento do turismo no Nordeste.

Para Ricupero, a instituição passa por um momento crucial. Desde sua criação em 1959 e na primeira metade dos anos 60, o banco atuava em promoção do desenvolvimento "com dimensão social muito acentuada". Mas, a partir das crises de dívida externa nos anos 80 a diretriz original entrou em declínio. "Desde então, o BID atuou como mais um dos bancos de linha auxiliar para as políticas de ajuste patrocinadas pelo Fundo Monetário Internacional", afirma Ricupero.

Agora, superada essa fase histórica, abre-se uma nova etapa para o banco. Uma das linhas em que a instituição pode concentrar esforços e recursos, diz Ricupero, é o financiamento da integração de infra-estrutura na América Latina como a articulação de malhas rodoviárias, ferrovias e linhas de transmissão de energia, e a produção conjunta de petróleo. "É uma fronteira que nunca foi explorada, uma das linhas de renovação para o BID", diz o ex-embaixador.

Inteligência penetrante

Ricupero teve contato próximo com o candidato derrotado à presidência do BID, porque foi assessor do ex-presidente José Sarney quando Sayad era ministro do Planejamento. "Vi os esforços do Sayad quando houve o naufrágio do Plano Cruzado. É um homem de inteligência penetrante, muito inquisitivo e original, com larga experiência no setor público. Poucos dos candidatos à presidência do BID têm essa experiência", diz. João Sayad foi secretário da Fazenda do governador paulista Franco Montoro, ministro de Sarney e secretário de Finanças durante a gestão de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo.

Sayad concorreu com Moreno e outros três candidatos: Mario Alonso, presidente do Banco Central da Nicarágua; Pedro Pablo Kuczynski, ministro das Finanças do Peru; e José Alejandro Rojas, ex-ministro da Fazenda da Venezuela.

O BID tem uma tradição de mandatos longos. Os três presidentes no cargo até hoje tiveram mandatos de 11, 16 e 17 anos. O primeiro presidente foi o chileno Felipe Herrera (1960 a 1971), o segundo, o mexicano Antonio Ortiz Mena (1971 a 1987) e o atual é Enrique Iglesias, uruguaio naturalizado, nascido na Espanha (no cargo desde 1988).

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