Economia

Brasil prepara novo corte de taxa de juros, mas crédito demora a chegar

Para economistas, taxa de juros do país já chegou ao limite do que se refere à capacidade de estimular o crédito e o consumo

Dinheiro: em abril, a taxa média de juros para pessoas jurídicas era de 13% (IltonRogerio/Getty Images)

Dinheiro: em abril, a taxa média de juros para pessoas jurídicas era de 13% (IltonRogerio/Getty Images)

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AFP

Publicado em 16 de junho de 2020 às 10h18.

Última atualização em 16 de junho de 2020 às 15h26.

O Banco Central do Brasil (BCB) vai cortar sua taxa básica de 3% para um novo mínimo histórico de 2,25% nesta quarta-feira, prevê a maioria dos analistas, que não acredita, no entanto, que a medida vá aliviar a crise econômica causada pela pandemia do coronavírus.

O BCB indicou em maio, ao cortar sua taxa Selic em 0,75 ponto percentual, que poderia proceder em junho com um ajuste semelhante "para complementar o estímulo necessário em reação às consequências econômicas da pandemia de COVID-19".

Esta seria a oitava redução consecutiva da Selic e vários analistas apostam que o BCB vai recorrer novamente, ainda neste ano, a essa ferramenta para incentivar investimentos e o consumo quando a inflação está sob controle.

No Brasil, a inflação foi negativa nos últimos dois meses, a produção industrial caiu mais de 26% entre março e abril, as vendas no varejo também caíram e o desemprego está em alta. O Banco Mundial prevê para 2020 uma recessão da maior economia da América Latina de 8%.

Temores de inadimplência

Mas os cortes da Selic não facilitaram o acesso ao crédito. Pelo contrário: os bancos estão tornando mais rígidas suas condições, temendo falências em série e um aumento das inadimplências.

Nas novas demandas de empréstimos, "os juros deverão subir um pouco, em função do risco, que aumentou", disse o presidente do Bradesco, um dos maiores bancos privados do Brasil, Octavio de Lazari Júnior, à revista Veja em maio.

O preço do dinheiro no Brasil é um dos mais altos do mundo. Em abril, a taxa média de juros para pessoas jurídicas era de 13%, com um spread (diferença entre o que os bancos pagam na captação e o que eles cobram ao conceder um empréstimo) de 8,7%.

Segundo o Banco Mundial, em 2017 (dados mais recentes disponíveis), o Brasil teve o segundo maior spread do mundo, superado apenas por Madagascar.

Mas mesmo essas médias são enganosas, uma vez que grande parte do crédito no Brasil é concedida na forma de "cheque especial", com juros que podem atingir 118% para pessoas jurídicas e 367% para pessoas físicas, explica Roberto Troster, da Troster & Associados.

"Com as taxas nesse nível, que a Selic seja reduzida em 0,75 pp, não faz diferença", acrescenta.

Para Jason Vieira, da Infinity Assets, o BCB deve "sentar-se e pensar por que os modelos de referência não estão funcionando".

"Nunca tivemos uma taxa tão baixa. Então, por que essa resistência do sistema financeiro" em gerar créditos?, se pergunta.

Em todo caso, a tentativa de alívio por meio de taxas está chegando ao seu limite.

"Uma taxa de 0% seria uma complicação, porque haveria menos estímulo para a entrada de capital", diz Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ruídos políticos

O Brasil se tornou o segundo país com maior número de mortes por coronavírus, sem conseguir dar uma resposta unificada à pandemia. O presidente Jair Bolsonaro, confrontado a ações judiciais, está em guerra com os governadores que adotaram medidas de quarentena.

"Os ruídos políticos estão influenciando muito mal" os investidores, sustenta Rochlin. "A estabilidade passa pela segurança jurídica e um contexto político sem riscos maiores é importantíssimo", acrescenta.

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