Brasil pode ser dar bem com a crise, diz Edward Prescott
País tem bons fundamentos, mas precisa se abrir mais e incentivar novas multinacionais brasileiras, diz Nobel de Economia
Da Redação
Publicado em 11 de maio de 2009 às 10h25.
O Brasil pode ser um dos maiores beneficiados pela crise que sacode o mundo atualmente. A avaliação é do economista Edward Prescott, prêmio Nobel de Economia de 2004 e um dos participantes do EXAME Fórum, nesta segunda-feira (11/5). “Eu acho que o Brasil vai se dar bem. Para que a essência está aqui, os fundamentos estão aqui”, afirmou durante sua apresentação.
Para Prescott, se o Brasil seguir o atual ritmo de recuperação, poderá alcançar as nações industriais em curto prazo. Mas o economista observou que o governo ainda precisa melhorar suas políticas. Entre as medidas aconselhadas por Prescott para acelerar a recuperação brasileira, estão a descentralização dos pólos econômicos, estimulando a competição entre os estados. Prescott reconheceu que o país está mais inserido no comércio internacional, mas destacou que “ele deve se integrar ainda mais”. “É preciso exportar mais bens de alta tecnologia, ter mais multinacionais brasileiras”, disse.
Segundo o economista, à medida que isso ocorrer, mais empresas estrangeiras também serão encorajadas a trazer sua tecnologia ao país, alimentando o ciclo. Prescott acrescentou que o número de países industrializados ricos não deve parar de crescer, e demonstrou confiança em relação à capacidade de o Brasil entrar para o clube. “Não é mais uma questão de se, mas de quando”, afirmou.
Estados Unidos
Lembrando o exemplo do Japão – que, para muitos analistas, pode ser o caminho que os americanos seguirão nesta crise -, Prescott afirmou que um dos motivos do atraso da recuperação japonesa foi que o governo impediu a falência de alguns bancos. “Eram bancos zumbis. Os clientes pagavam os juros para que não declarassem as dívidas como impagáveis. Houve um subsídio à ineficiência”, disse. Para o economista, isso tem implicações diretas no modo como o país reage na fase pós-crise.
Os americanos estão numa situação difícil, mas Prescott não acredita que uma depressão profunda os afete. “Não vamos ter uma grande depressão”, afirmou. Isso não quer dizer, contudo, que o economista preveja um cenário tranqüilo para o país. Para Prescott, “Os Estados Unidos perderão uma década de crescimento, como aconteceu com o Japão”. Após uma fase de queda, a renda per capita do país estagnará. Para o economista, a reação virá quando, em algum momento, o governo cortar tributos para estimular a economia.
Para o Nobel, a causa da atual crise financeira mundial foi a aposta de banqueiros e consumidores americanos de que o preço dos imóveis continuaria a subir sem interrupção. Ele lembrou a facilidade com que os americanos, mesmo sem uma renda estável, conseguiam um financiamento imobiliário – o que fomentou a bolha do subprime americano. Prescott também criticou os modelos de previsões que sustentavam a economia do país. “Os modelos falharam. Qualquer que fosse a imperfeição, as histórias não são consistentes”, afirmou.