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Brasil estuda inserir renováveis enquanto aposta em hidrelétricas

Reservatórios e usinas reversíveis seriam importantes para compensar a incerteza que a variação do vento e do sol causa sobre a produção das renováveis

EPE pretende avaliar ainda neste ano os limites e formas mais eficientes de viabilizar a expansão de fontes renováveis (Getty Images/Getty Images)
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Reuters

Publicado em 12 de janeiro de 2017 às 09h15.

São Paulo - O Brasil vai estudar os limites técnicos e custos para a inserção de fontes renováveis em sua matriz energética, como usinas eólicas e solares, mas a política do país deverá manter o foco nas hidrelétricas, até mesmo como forma de apoiar a geração intermitente dessas novas fontes, disse à Reuters o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso.

O órgão, responsável por planejar a expansão do sistema elétrico, tem desenvolvido projetos de novas hidrelétricas e buscado identificar potencial para construção de plantas hídricas com reservatórios e usinas reversíveis, que podem armazenar água para gerar quando necessário.

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Os reservatórios e a tecnologia de usinas reversíveis --estas últimas raras no país-- seriam importantes para compensar a incerteza que a variação do vento e do sol causa sobre a produção das renováveis, explicou Barroso em respostas por e-mail enviadas à Reuters nesta quarta-feira.

"A nossa 'renovável-chefe' é a hidreletricidade. A presença das 'novas renováveis' --pequenas hidrelétricas, eólica e solar-- é uma realidade e o planejamento tem atuado e continuará atuando para facilitar sua penetração de forma sustentável... hidrelétricas e outras fontes renováveis de energia são complementares", disse.

Ele adiantou que a EPE pretende avaliar ainda neste ano os limites e formas mais eficientes de viabilizar a expansão dessas fontes.

"Este estudo, que gostaríamos de desenvolver em 2017,determinaria quanto o sistema pode acomodar de renováveis e responderia qual é o custo incremental de acomodar um limite maior de penetração", comentou.

Ele admitiu, no entanto, que é difícil viabilizar de imediato investimentos em novas usinas em um momento em que a desaceleração da economia devido à crise financeira do Brasil gerou uma sobra estrutural de energia.

Um leilão que contrataria projetos eólicos e solares no final de dezembro passado acabou cancelado pelo governo devido a essa sobra estrutural.

"Em função da perspectiva do crescimento econômico, a necessidade de nova energia nos leilões... será um desafio para a contratação de qualquer fonte no país em um horizonte de mais curto prazo", disse Barroso, para quem a demanda menor afeta também projetos voltados ao mercado livre de energia.

Ele destacou que, enquanto isso, a energia solar pode se expandir com projetos de geração distribuída, como placas fotovoltaicas em telhados de residências ou comércios.

Para Barroso, essa forma de geração já é econômica e "de visível interesse da sociedade".

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), existiam em novembro passado 6,6 mil projetos de geração distribuída, o que representa crescimento de mais de 260 por cento desde o final de 2015.

O presidente da EPE disse ainda que há um grupo de trabalho do governo dedicado a rever o elevado nível de subsídios presente atualmente na conta de energia, mas destacou que isso não deverá atrapalhar o crescimento da energia renovável.

"Tudo será conduzido com bastante comunicação com o mercado. Em minha opinião, as renováveis podem sim ser introduzidas de maneira competitiva e sem subsídios no Brasil."

Hidrelétricas no alvo

Enquanto estuda formas de fomentar as "novas renováveis", o Brasil irá discutir impactos socioambientais das hidrelétricas e buscar soluções para viabilizar novos empreendimentos da fonte.

"Em outras palavras, queremos construir os empreendimentos certos e de maneira correta", disse Barroso.

Ele adiantou que a EPE desenvolve atualmente estudos de inventário e de viabilidade técnica e ambiental de algumas usinas hídricas, como Castanheira, com cerca de 140 megawatts, e Bem Querer, que teria cerca de 700 megawatts.

"Importante ressaltar que outros agentes setoriais também desenvolvem estudos de inventário e de viabilidade. Além disso, a EPE está iniciando estudos visando identificar potencial e projetos de usinas de regularização (com reservatórios). Também iniciamos alguns estudos voltados para usinas reversíveis", disse Barroso.

De acordo com ele, essas ações correrão em paralelo com um debate sobre a possibilidade de novas hidrelétricas na Amazônia.

"Os resultados dessas ações determinarão a possibilidade de encaminhamento de projetos para leilão nos próximos dois anos", apontou Barroso.

Matriz hídrica limpa

A EPE destacou ainda que as hidrelétricas brasileiras podem ser um aliado de peso para a redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), o que vai contra acusações de grupos ambientalistas, que chegaram a acusar essas usinas de serem mais poluentes que algumas termelétricas.

"Um recente estudo de pesquisa desenvolvido com apoio de várias universidades... revelou, ao contrário do que se pensava, que as usinas no Brasil emitem muito menos... das 11 usinas avaliadas no projeto, o maior valor de emissão foi de cerca de um 1/5 de uma usina a gás natural ou 1/10 de uma usina a carvão", disse Barroso.

Ele apontou que a única exceção é a hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, que foi construída durante a ditadura militar no Brasil e ficou famosa como um caso de grande impacto ambiental. A usina emite gases porque a vegetação nativa não foi retirada antes do enchimento do lago.

"Neste caso a emissão foi praticamente duas vezes superior a uma usina a carvão", comentou o chefe da EPE.

Para ele, a matriz brasileira, contando as usinas hídricas, tem uma presença de renováveis comparável ao que muitos outros países buscam alcançar "em algumas décadas".

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