Brasil ainda é oportunidade para alguns
Embora não seja como no passado recente, o dinheiro ainda está disponível para setores específicos, tais como infraestrutura, tecnologia e educação
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2013 às 13h48.
São Paulo - Quanta diferença três anos podem fazer. Em 2010, o Brasil ainda era saudado como quase uma China, com uma economia que oferecia sedutora taxa de crescimento ao estilo asiático, em torno de 7 por cento, e geograficamente mais perto da casa de investidores ocidentais.
Hoje, a maior parte da empolgação se foi. O crescimento econômico caiu a menos de 1 por cento no ano passado e 2013 não está se mostrando muito melhor.
No entanto, entrevistados durante o Reuters Latin American Investment Summit nesta semana disseram que ainda veem muitas oportunidades na maior economia da região.
Embora não seja como no passado recente, o dinheiro ainda está disponível para setores específicos, tais como infraestrutura, tecnologia e educação, alguns dos quais ainda estão se comportando como se os anos de boom não tivessem terminado.
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a situação agora não é tão ruim como alguns dizem, mas também nunca foi tão boa como outros disseram.
"Houve uma espécie de confiança demasiada em que o impulso que tinha sido dado pela estabilidade e pelo mundo (...) tinha sido suficiente para assegurar o bem-estar 'ad aeternum'", disse Fernando Henrique, agora da oposição e uma das vozes mais respeitadas do Brasil em círculos de negócios.
Como necessidades urgentes do país, o ex-presidente citou projetos rodoviários e ferroviários para atacar os gargalos de transporte do país. Ele avalia que ainda há oportunidades de investimento em infraestrutura diante dos preparativos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Fernando Henrique e outros entrevistados expressaram frustração de que o Brasil não está fazendo o melhor que poderia. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer em torno de 3 por cento em 2013, enquanto a inflação pode fechar o ano em 5,8 por cento, segundo a média das projeções de economistas.
O mercado acionário local acumula queda de perto de 8 por cento no ano até aqui, com o Ibovespa --que reúne as principais ações brasileiras-- um quinto abaixo de seu pico histórico de 2008, com parte dos investidores se dando conta de que não haviam apostado em um tigre asiático. Outros têm expressado descontentamento com a ativa presença do governo da presidente Dilma Rousseff na economia.
Mas esses números fracos têm ficado em segundo plano por outros que sugerem apostas contínuas em um futuro brilhante no longo prazo. A taxa de desemprego subiu ligeiramente em abril, mas ainda ficou em 5,8 por cento, o menor nível em pelo menos uma década, com empresas se posicionando para uma recuperação moderada da atividade econômica.
O investimento estrangeiro direto foi, em média, de cerca de 5 bilhões de dólares por mês neste ano, mais que o dobro dos níveis em 2010.
A Kroton Educacional, que está se unindo à Anhanguera para formar a maior empresa de capital aberto do mundo de educação, avalia que seu negócio depende "muito mais" dos níveis de desemprego do que do crescimento do PIB, segundo seu presidente-executivo, Rodrigo Galindo.
No ano passado, a Kroton teve um crescimento orgânico da receita líquida de cerca de 25 por cento, apesar da fraca expansão da economia.
Oportunidade? Olhe os Gargalos
De fato, as maiores oportunidades parecem estar precisamente nas áreas em que o Brasil mais depende para voltar aos trilhos.
Pegue a educação: muitos economistas culpam a queda da produtividade pela recente desaceleração do crescimento no Brasil, e dizem que melhores escolas são a única resposta viável no médio prazo.
Infraestrutura tem sido atraente, também, porque o governo sabe que a economia não pode crescer muito mais rápido sem vultosos investimentos da iniciativa privada em portos, aeroportos, rodovias e ferrovias --que estão sobrecarregadas após a expansão econômica da última década.
O governo tem feito roadshows na Europa e nos Estados Unidos para promover os planos de concessões de logística. Diplomatas norte-americanos, em especial, reportam um fluxo constante de delegações empresariais para o Brasil em busca de oportunidades.
"O mercado está animado desde o lançamento (dos programas de concessões)", disse o presidente da estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, durante o Reuters Summit.
Enquanto os gargalos não são resolvidos, Galindo, da Kroton, acredita que previsões de 3 por cento de crescimento do PIB para este ano são razoáveis, uma opinião que foi ecoada pela maioria dos entrevistados.
"Eu acho que é o máximo que podemos ter agora", disse o gestor de fundos do grupo de private equity BlackRock na América Latina, Will Landers, que administra 6 bilhões de dólares em ações na região.
Para quem tem memória longa, esse nível de expansão é realmente bastante normal no Brasil. O crescimento médio da economia de 2003 a 2012 foi de 3,6 por cento ao ano.
O fundamental, para a maioria dos entrevistados, é que o PIB realmente chegue a esse nível de 3 por cento, diferentemente de 2011 e 2012, quanto analistas foram cortando sucessivamente suas projeções para a economia durante o ano. Uma grande pista virá na próxima quarta-feira, quando serão divulgados os dados de crescimento do primeiro trimestre.
O presidente-executivo da Embraer, Frederico Curado, disse ter visto previsões tanto para 3 por cento como para 1,5 por cento de crescimento do PIB para 2013. Para ele, o país está num "momento delicado" na economia.
Uma questão fundamental é se investidores vão ficar mais confortáveis com a presidente, que na ânsia por criar um ambiente melhor para negócios acabou levantando críticas pela excessiva mão do Estado na economia. Por exemplo, o plano de Dilma para reduzir a conta de luz forçou as empresas elétricas a abrirem mão de bilhões de reais em receita, com tombo de suas ações na bolsa.
Curado, como muitos executivos brasileiros, delicadamente reconhece que há certa apreensão, mas disse que as políticas do governo ainda podem dar frutos.
"Se eles fizeram o certo ou o caminho errado, eu não tenho o conhecimento técnico para lhe dar uma opinião", disse Curado. "Mas eles realmente estão tomando as iniciativas corretas. Na teoria, deveríamos estar vendo a economia acelerar agora." (Reportagem adicional de Brad Haynes, Asher Levine, Cesar Bianconi e Guillermo Parra-Bernal)
São Paulo - Quanta diferença três anos podem fazer. Em 2010, o Brasil ainda era saudado como quase uma China, com uma economia que oferecia sedutora taxa de crescimento ao estilo asiático, em torno de 7 por cento, e geograficamente mais perto da casa de investidores ocidentais.
Hoje, a maior parte da empolgação se foi. O crescimento econômico caiu a menos de 1 por cento no ano passado e 2013 não está se mostrando muito melhor.
No entanto, entrevistados durante o Reuters Latin American Investment Summit nesta semana disseram que ainda veem muitas oportunidades na maior economia da região.
Embora não seja como no passado recente, o dinheiro ainda está disponível para setores específicos, tais como infraestrutura, tecnologia e educação, alguns dos quais ainda estão se comportando como se os anos de boom não tivessem terminado.
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a situação agora não é tão ruim como alguns dizem, mas também nunca foi tão boa como outros disseram.
"Houve uma espécie de confiança demasiada em que o impulso que tinha sido dado pela estabilidade e pelo mundo (...) tinha sido suficiente para assegurar o bem-estar 'ad aeternum'", disse Fernando Henrique, agora da oposição e uma das vozes mais respeitadas do Brasil em círculos de negócios.
Como necessidades urgentes do país, o ex-presidente citou projetos rodoviários e ferroviários para atacar os gargalos de transporte do país. Ele avalia que ainda há oportunidades de investimento em infraestrutura diante dos preparativos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Fernando Henrique e outros entrevistados expressaram frustração de que o Brasil não está fazendo o melhor que poderia. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer em torno de 3 por cento em 2013, enquanto a inflação pode fechar o ano em 5,8 por cento, segundo a média das projeções de economistas.
O mercado acionário local acumula queda de perto de 8 por cento no ano até aqui, com o Ibovespa --que reúne as principais ações brasileiras-- um quinto abaixo de seu pico histórico de 2008, com parte dos investidores se dando conta de que não haviam apostado em um tigre asiático. Outros têm expressado descontentamento com a ativa presença do governo da presidente Dilma Rousseff na economia.
Mas esses números fracos têm ficado em segundo plano por outros que sugerem apostas contínuas em um futuro brilhante no longo prazo. A taxa de desemprego subiu ligeiramente em abril, mas ainda ficou em 5,8 por cento, o menor nível em pelo menos uma década, com empresas se posicionando para uma recuperação moderada da atividade econômica.
O investimento estrangeiro direto foi, em média, de cerca de 5 bilhões de dólares por mês neste ano, mais que o dobro dos níveis em 2010.
A Kroton Educacional, que está se unindo à Anhanguera para formar a maior empresa de capital aberto do mundo de educação, avalia que seu negócio depende "muito mais" dos níveis de desemprego do que do crescimento do PIB, segundo seu presidente-executivo, Rodrigo Galindo.
No ano passado, a Kroton teve um crescimento orgânico da receita líquida de cerca de 25 por cento, apesar da fraca expansão da economia.
Oportunidade? Olhe os Gargalos
De fato, as maiores oportunidades parecem estar precisamente nas áreas em que o Brasil mais depende para voltar aos trilhos.
Pegue a educação: muitos economistas culpam a queda da produtividade pela recente desaceleração do crescimento no Brasil, e dizem que melhores escolas são a única resposta viável no médio prazo.
Infraestrutura tem sido atraente, também, porque o governo sabe que a economia não pode crescer muito mais rápido sem vultosos investimentos da iniciativa privada em portos, aeroportos, rodovias e ferrovias --que estão sobrecarregadas após a expansão econômica da última década.
O governo tem feito roadshows na Europa e nos Estados Unidos para promover os planos de concessões de logística. Diplomatas norte-americanos, em especial, reportam um fluxo constante de delegações empresariais para o Brasil em busca de oportunidades.
"O mercado está animado desde o lançamento (dos programas de concessões)", disse o presidente da estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, durante o Reuters Summit.
Enquanto os gargalos não são resolvidos, Galindo, da Kroton, acredita que previsões de 3 por cento de crescimento do PIB para este ano são razoáveis, uma opinião que foi ecoada pela maioria dos entrevistados.
"Eu acho que é o máximo que podemos ter agora", disse o gestor de fundos do grupo de private equity BlackRock na América Latina, Will Landers, que administra 6 bilhões de dólares em ações na região.
Para quem tem memória longa, esse nível de expansão é realmente bastante normal no Brasil. O crescimento médio da economia de 2003 a 2012 foi de 3,6 por cento ao ano.
O fundamental, para a maioria dos entrevistados, é que o PIB realmente chegue a esse nível de 3 por cento, diferentemente de 2011 e 2012, quanto analistas foram cortando sucessivamente suas projeções para a economia durante o ano. Uma grande pista virá na próxima quarta-feira, quando serão divulgados os dados de crescimento do primeiro trimestre.
O presidente-executivo da Embraer, Frederico Curado, disse ter visto previsões tanto para 3 por cento como para 1,5 por cento de crescimento do PIB para 2013. Para ele, o país está num "momento delicado" na economia.
Uma questão fundamental é se investidores vão ficar mais confortáveis com a presidente, que na ânsia por criar um ambiente melhor para negócios acabou levantando críticas pela excessiva mão do Estado na economia. Por exemplo, o plano de Dilma para reduzir a conta de luz forçou as empresas elétricas a abrirem mão de bilhões de reais em receita, com tombo de suas ações na bolsa.
Curado, como muitos executivos brasileiros, delicadamente reconhece que há certa apreensão, mas disse que as políticas do governo ainda podem dar frutos.
"Se eles fizeram o certo ou o caminho errado, eu não tenho o conhecimento técnico para lhe dar uma opinião", disse Curado. "Mas eles realmente estão tomando as iniciativas corretas. Na teoria, deveríamos estar vendo a economia acelerar agora." (Reportagem adicional de Brad Haynes, Asher Levine, Cesar Bianconi e Guillermo Parra-Bernal)