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Brasil acertou ao taxar estrangeiro, diz Jim O'Neil

Para o economista do Goldman Sachs que criou a sigla Bric, o país caminha para se tornar a quinta maior economia mundial na próxima década

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Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2009 às 15h50.

Não há muito o que o governo brasileiro possa fazer para impedir a valorização do real neste momento. Eleito a bola da vez pelos investidores estrangeiros, o país também precisa lidar com um cenário desfavorável ao controle do câmbio - os juros estão muito baixos nos países desenvolvidos, e a economia brasileira é uma das mais saudáveis neste momento, o que atrai o apetite do capital externo. A avaliação é do economista Jim O’Neil, chefe da área de pesquisa econômica global do banco Goldman Sachs e criador da célebre sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), usada para designar os países emergentes que se sobressairiam no futuro.

Jim O’Neil - Eu tenho uma certa simpatia pelas autoridades brasileiras. Eles estão certos em se preocupar se o real está sobrevalorizado ou se uma parte do fluxo de capital de curto prazo pode ser revertido. Ao adotar essas medidas, o governo brasileiro está tentando assegurar que os investidores estrangeiros apliquem no país pelos motivos certos.

Portal EXAME - Essas medidas podem, de fato, conter a valorização do real?

O’Neil - É difícil que essas medidas, sozinhas, funcionem. É preciso lembrar que o cenário mundial envolve taxas de juros próximas de zero nos países do G7, um forte desejo dos investidores de lucrar com essas diferenças de juros, e uma elevação do rating brasileiro, que o transforma em um bom país para investir. É difícil ver o real voltar a se desvalorizar sem que algum desses fatores mude. (Continua)


Portal EXAME - O que o senhor recomendaria para conter o real?

O’Neil - Eu acredito que não é realmente fácil para as autoridades brasileiras lutar com sucesso contra esse cenário que eu mencionei. Uma saída seria o Brasil, repentinamente, anunciar uma taxa de inflação bem maior. Outra seria elevar todas as taxas sobre o capital estrangeiro. Mas essas medidas seriam estúpidas pois trariam muito mais danos do que vantagens.

Portal EXAME - Diante desse cenário, é mesmo imprescindível que o governo contenha a valorização da moeda?

O’Neil - O Brasil está muito consciente da chamada doença holandesa. Por isso as autoridades estão certas em fazer com que os investidores estrangeiros se perguntem, com freqüência, se querem mesmo aplicar recursos no Brasil. De qualquer modo, por mais difícil que uma moeda forte deva ser para a indústria local e para o país como um todo, esta é uma situação um pouco melhor do que a de décadas passadas, quando a moeda sempre caía abruptamente.

Portal EXAME - Na última semana, a bolsa de valores brasileira atingiu o maior nível deste ano. O senhor acredita que isto é uma bolha? Deveríamos nos preocupar com uma bolha no mercado de capitais brasileiro?

O’Neil - Não acredito que seja uma bolha. A nota do Brasil está sendo elevada pelos investidores do mundo todo. Nos primeiros cinco anos após eu criar a sigla Bric, muitas pessoas, inclusive no Brasil, afirmavam que o B não merecia estar lá. Agora elas entenderam que, com 200 milhões de habitantes e uma inflação baixa e estável, o Brasil é um novo país. E que ele vai se tornar cada vez mais importante mundialmente. Por volta do final de 2010, eu acredito que o Brasil vai superar a Itália como a sétima maior economia do mundo. E, na próxima década, ele começará a ameaçar a França e o Reino Unido.

Portal EXAME - Duas semanas atrás, a revista britânica The Economist publicou uma reportagem de capa, na qual afirma que o Brasil finalmente decolou. O senhor concorda?

O’Neil - A reportagem da Economist me preocupou um pouco. Isto porque a revista, de vez em quando, publica verdadeiras bobagens como manchete, e que servem às vezes como um indicador contrário ao que está ocorrendo de fato. Dito isso, eu penso que, desta vez, eles estão certos. O Brasil vai crescer provavelmente a uma taxa média de 5% ou 6% na próxima década, o que o transformará na quinta economia mundial - e, quem sabe, até na quarta maior economia até 2020.


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