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Braisl tem maior déficit em transações correntes em 11 anos

Resultado é um sinal de que as contas externas do país continuam se deteriorando apesar da alta do dólar ante o real

Notas de 50 reais: em julho, o déficit em transações correntes ficou em 9,018 bilhões de dólares (Marcos Santos/usp imagens)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2013 às 18h04.

Brasília - As transações correntes do país registraram no mês passado o maior rombo para meses de julho da série histórica do Banco Central,levando o déficit acumulado em 12 meses para o maior nível em 11 anos, em um sinal de que as contas externas do país continuam se deteriorando apesar da alta do dólar ante o real.

Enquanto a balança comercial e de serviços, que compõem a conta corrente, ainda não sentiram os efeitos positivos da valorização do dólar, a conta de capital e financeira mostra um menor apetite de estrangeiros por ativos brasileiros e cautela das empresas no Brasil em se endividarem em dólares.

Em julho, o déficit em transações correntes ficou em 9,018 bilhões de dólares-- acima do déficit projetado por economistas consultados pela Reuters de 8,4 bilhões de dólares --, ante déficit de 3,746 bilhões de dólares em julho de 2012, informou Banco Central nesta sexta-feira.

No acumulado do ano, as transações correntes registram saldo negativo de 52,472 bilhões de dólares, bem próximo do déficit de 54,230 bilhões de dólares visto em todo o ano de 2012.

Em 12 meses, o déficit chega a 77,7 bilhões de dólares, equivalente a 3,39 por cento do Produto Interno Bruto (PIB)--pior resultado para 12 meses desde junho de 2002, quando o país vivia uma crise de confiança por conta da perspectiva de eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República.

Os dados de julho mostram que a conta corrente segue castigada pelo desempenho ruim da balança comercial, que nos sete primeiros meses de 2013 acumula déficit de 4,989 bilhões de dólares, devido à performance fraca das exportações e de maiores importações. Só em julho, o Brasil teve déficit comercial de 1,898 bilhão de dólares.

As remessas de lucros e dividendos de multinacionais instaladas no país também continuam pesando no resultado, com saída líquida 1,215 bilhão de dólares no mês passado, ante 1,719 bilhão de dólares em igual mês de 2012.


E apesar do dólar mais alto, os gastos líquidos de brasileiros com viagens ao exterior continuaram subindo na comparação anual, chegando a 1,674 bilhão de dólares em julho.

A expectativa do Banco Central, contudo, é que com o dólar em alta, o resultado externo melhore nos próximos meses.

"As remessas de lucros tendem a diminuir. De maneira que é possível que observemos nos próximos meses, a persistir esse câmbio mais elevado, reações em algumas contas em transações correntes. Em termos do déficit (em transações correntes), isso atua no sentido de reduzir o déficit", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, em entrevista coletiva.

Financiamento Mais Difícil

O ingresso líquido de recursos pela conta de capital e financeira em julho chegou a 9,4 bilhões de dólares, suficiente para cobrir o déficit em conta corrente e gerar um pequeno superávit no balanço de pagamentos.

Mas os dados mostram que o ingresso de recursos para aplicação em ativos brasileiros, contudo, não está conseguindo acompanhar o avanço no déficit em conta corrente. Enquanto de janeiro a julho do ano passado o Brasil tinha um superávit no balanço de pagamentos de 22,4 bilhões de dólares, no mesmo período deste ano o superávit é de 6,7 bilhões de dólares -- queda de 70 por cento.

Os investimentos estrangeiros diretos (IED), que fazem parte da conta de capital, somaram 5,212 bilhões de dólares em julho, um pouco abaixo do previsto por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana apontava para 5,350 bilhões de dólares. No ano, o IED soma 35,239 bilhões de dólares.

Num sinal de que a situação está complicada, o BC informou ainda que a taxa total de rolagem da dívida externa do país ficou em 55 por cento no mês passado, ante 599 por cento vistos um ano antes e 71 por cento em junho deste ano. Na parcial de agosto, até o dia 21, a taxa de rolagem já havia caído a 42 por cento, segundo dados do BC.


Na avaliação da autoridade monetária, a instabilidade no mercado internacional e a movimentação das moedas frente à moeda norte-americana estão levando as empresas a aguardar para tomar decisões sobre o refinanciamento de dívidas.

Apesar dos dados ruins, Maciel disse que o BC não notou saída de capitais do país em algumas contas financeiras relevantes, citando o ingresso líquido de 3,1 bilhões de dólares nas aplicações em títulos de renda fixa negociados no país em agosto até o dia 21.

Mas, segundo avaliação do economista da Rosenberg Associados, Rafael Bistafa, isso não representa uma garantia de que a mudança do patamar de câmbio evitará a maior saída de capitais do Brasil.

O economista citou o fluxo cambial negativo em 1,069 bilhão de dólares na parcial de agosto também até o dia 21, e disse que o país deve enfrentar saída de capitais nos próximos meses diante do desempenho ruim da economia e falta de confianca dos agentes econômicos.

"A valorização do dólar deverá reduzir a tendência de aprofundamento do déficit em transações correntes, mas isso não será nem rápido nem linear", comentou.

"Pelo fluxo cambial já observamos saída persistente de capitais, isso não significa que haverá fuga de capitais, mas a tendência é que haja saídas." Para conter a disparada da divisa norte-americana, o BC anunciou na noite de quinta-feira programa de intervenção diária no mercado de câmbio até o fim de dezembro, com valor potencial de 60 bilhões de dólares, por meio de leilões de swap cambial tradicional e de leilão de linha.

De acordo com Maciel, operações adicionais e a extensão desse programa em 2014 não estão descartados.

Para agosto, o BC projeta déficit em transações correntes de 5 bilhões de dólares, sendo que até o último dia 21, o saldo estava negativo em 2,2 bilhões de dólares.

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Brasília - As transações correntes do país registraram no mês passado o maior rombo para meses de julho da série histórica do Banco Central,levando o déficit acumulado em 12 meses para o maior nível em 11 anos, em um sinal de que as contas externas do país continuam se deteriorando apesar da alta do dólar ante o real.

Enquanto a balança comercial e de serviços, que compõem a conta corrente, ainda não sentiram os efeitos positivos da valorização do dólar, a conta de capital e financeira mostra um menor apetite de estrangeiros por ativos brasileiros e cautela das empresas no Brasil em se endividarem em dólares.

Em julho, o déficit em transações correntes ficou em 9,018 bilhões de dólares-- acima do déficit projetado por economistas consultados pela Reuters de 8,4 bilhões de dólares --, ante déficit de 3,746 bilhões de dólares em julho de 2012, informou Banco Central nesta sexta-feira.

No acumulado do ano, as transações correntes registram saldo negativo de 52,472 bilhões de dólares, bem próximo do déficit de 54,230 bilhões de dólares visto em todo o ano de 2012.

Em 12 meses, o déficit chega a 77,7 bilhões de dólares, equivalente a 3,39 por cento do Produto Interno Bruto (PIB)--pior resultado para 12 meses desde junho de 2002, quando o país vivia uma crise de confiança por conta da perspectiva de eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República.

Os dados de julho mostram que a conta corrente segue castigada pelo desempenho ruim da balança comercial, que nos sete primeiros meses de 2013 acumula déficit de 4,989 bilhões de dólares, devido à performance fraca das exportações e de maiores importações. Só em julho, o Brasil teve déficit comercial de 1,898 bilhão de dólares.

As remessas de lucros e dividendos de multinacionais instaladas no país também continuam pesando no resultado, com saída líquida 1,215 bilhão de dólares no mês passado, ante 1,719 bilhão de dólares em igual mês de 2012.


E apesar do dólar mais alto, os gastos líquidos de brasileiros com viagens ao exterior continuaram subindo na comparação anual, chegando a 1,674 bilhão de dólares em julho.

A expectativa do Banco Central, contudo, é que com o dólar em alta, o resultado externo melhore nos próximos meses.

"As remessas de lucros tendem a diminuir. De maneira que é possível que observemos nos próximos meses, a persistir esse câmbio mais elevado, reações em algumas contas em transações correntes. Em termos do déficit (em transações correntes), isso atua no sentido de reduzir o déficit", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, em entrevista coletiva.

Financiamento Mais Difícil

O ingresso líquido de recursos pela conta de capital e financeira em julho chegou a 9,4 bilhões de dólares, suficiente para cobrir o déficit em conta corrente e gerar um pequeno superávit no balanço de pagamentos.

Mas os dados mostram que o ingresso de recursos para aplicação em ativos brasileiros, contudo, não está conseguindo acompanhar o avanço no déficit em conta corrente. Enquanto de janeiro a julho do ano passado o Brasil tinha um superávit no balanço de pagamentos de 22,4 bilhões de dólares, no mesmo período deste ano o superávit é de 6,7 bilhões de dólares -- queda de 70 por cento.

Os investimentos estrangeiros diretos (IED), que fazem parte da conta de capital, somaram 5,212 bilhões de dólares em julho, um pouco abaixo do previsto por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana apontava para 5,350 bilhões de dólares. No ano, o IED soma 35,239 bilhões de dólares.

Num sinal de que a situação está complicada, o BC informou ainda que a taxa total de rolagem da dívida externa do país ficou em 55 por cento no mês passado, ante 599 por cento vistos um ano antes e 71 por cento em junho deste ano. Na parcial de agosto, até o dia 21, a taxa de rolagem já havia caído a 42 por cento, segundo dados do BC.


Na avaliação da autoridade monetária, a instabilidade no mercado internacional e a movimentação das moedas frente à moeda norte-americana estão levando as empresas a aguardar para tomar decisões sobre o refinanciamento de dívidas.

Apesar dos dados ruins, Maciel disse que o BC não notou saída de capitais do país em algumas contas financeiras relevantes, citando o ingresso líquido de 3,1 bilhões de dólares nas aplicações em títulos de renda fixa negociados no país em agosto até o dia 21.

Mas, segundo avaliação do economista da Rosenberg Associados, Rafael Bistafa, isso não representa uma garantia de que a mudança do patamar de câmbio evitará a maior saída de capitais do Brasil.

O economista citou o fluxo cambial negativo em 1,069 bilhão de dólares na parcial de agosto também até o dia 21, e disse que o país deve enfrentar saída de capitais nos próximos meses diante do desempenho ruim da economia e falta de confianca dos agentes econômicos.

"A valorização do dólar deverá reduzir a tendência de aprofundamento do déficit em transações correntes, mas isso não será nem rápido nem linear", comentou.

"Pelo fluxo cambial já observamos saída persistente de capitais, isso não significa que haverá fuga de capitais, mas a tendência é que haja saídas." Para conter a disparada da divisa norte-americana, o BC anunciou na noite de quinta-feira programa de intervenção diária no mercado de câmbio até o fim de dezembro, com valor potencial de 60 bilhões de dólares, por meio de leilões de swap cambial tradicional e de leilão de linha.

De acordo com Maciel, operações adicionais e a extensão desse programa em 2014 não estão descartados.

Para agosto, o BC projeta déficit em transações correntes de 5 bilhões de dólares, sendo que até o último dia 21, o saldo estava negativo em 2,2 bilhões de dólares.

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