Economia

Boao tira esperança de que China seja novo "motor mundial"

A necessidade de deixar de ser um país dedicado à exportação e contribuir para a economia mundial foi uma das ideias que marcou as conferências da Fórum de Boao


	China: o presidente da China, Xi Jinping, em uma reunião com empresários disse que não interessa mais à China o crescimento de dois dígitos do PIB.
 (Getty Images)

China: o presidente da China, Xi Jinping, em uma reunião com empresários disse que não interessa mais à China o crescimento de dois dígitos do PIB. (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

Boao - O Fórum de Boao, a reunião econômica mais importante da Ásia, acabou nesta segunda-feira depois três dias de conferências de líderes econômicos e políticos dos cinco continentes, nas quais muitos pediram que a China mude seu modelo econômico e assuma a responsabilidade de ser motor do crescimento global.

A necessidade da China deixar de ser um país dedicado à exportação, estimular seu consumo e contribuir para impulsionar a economia mundial foi uma das ideias que marcou as conferências, que contaram com 12 presidentes e primeiros-ministros, assim como personalidades como George Soros.

O magnata americano resumiu a conferência de hoje: "a China foi o principal motor do crescimento da economia global, mas um motor menor do que imaginavam os consumidores americanos".

"Essa é uma das razões pelas quais o crescimento mundial foi tão anêmico", afirmou Soros, que ressaltou que o gigante asiático "precisa mudar seu modelo de crescimento e não pode depender das exportações, porque o mundo não pode absorver um superávit comercial crônico chinês".

O presidente da China, Xi Jinping, em uma reunião com empresários disse que não interessa mais à China o crescimento de dois dígitos do PIB.

"Não é que não podemos manter um crescimento muito rápido, é que não queremos mais", garantiu diante de 30 milionários chineses e estrangeiros, acrescentando que o país não procura "crescimento extremo" mas sim um desenvolvimento de qualidade.


A diretora geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, alertou também para um possível esgotamento do bem-sucedido modelo de crescimento, que ela chamou de "asiático" mas que estava claramente dirigido à China.

"A receita asiática para o crescimento serviu para a região, mas, como no campo, após muitas colheitas bem-sucedidas necessita algo mais, recursos adicionais para que o campo seja fértil de novo", disse a política francesa em seu discurso de domingo.

Tanto Soros como Lagarde destacaram que parte da mudança que a China - ou a Ásia - deve enfrentar significa um maior gasto público em saúde e educação.

Para o americano, uma vez que as famílias não terão que economizar tanto em relação a possíveis despesas com médicos, o consumo interno será estimulado, o que tanto deseja Pequim; já para Lagarde, porque ao se investir em "capital humano" se produzirá inovação.

Essa inovação foi o principal assunto tratado em sua conferência do fim de semana pelo fundador da Microsoft, Bill Gates, que disse que a China, acusada frequentemente de ser pouco criadora e "copiar tudo", destaca-se por sua inventividade em setores como o controle de epidemias e a agricultura.

Gates ressaltou a invenção do "arroz híbrido", que nas décadas passadas conseguiu aumentar a produção deste cereal básico na China e foi essencial na luta do país contra a fome (o inventor deste cultivo, Iuane Longping, também participou hoje no Fórum de Boao).


Gates assegurou que "os avanços científicos da China podem ajudar a África e os países menos desenvolvidos a combater as doenças, a pobreza e a fome".

A questão alimentícia global foi tratada hoje em outra mesa-redonda, da qual participou o subdiretor-general da Organização Mundial do Comércio (OMC), o chileno Alejandro Jara, que defendeu que a Rodada de Doha para liberalizar o comércio agrícola mundial está "em ponto morto, mas não morta".

Jara ressaltou que as reservas dos primeiros anos de negociações, quando os países desenvolvidos temiam uma entrada em massa de alimentos das nações em desenvolvimento, soma-se atualmente ao problema da segurança alimentar.

"A principal preocupação hoje em dia é a capacidade de abastecimento dos países", disse Jara, que acrescentou que "muitos governos aplicaram restrições às exportações de seus produtos agrícolas, o que piorou a situação". 

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