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BNDES cria linha de crédito de US$ 1 bi para a Venezuela

Medida visa elevar o volume de exportações brasileiras ao país

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h26.

Os presidentes do Brasil e da Venezuela assinaram nesta terça-feira (26/8) acordos e protocolos de intenção que permitirão troca de investimentos entre os dois países, com o objetivo de aumentar a integração física, tanto em território brasileiro quanto venezuelano. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, explicou que o convênio assinado entre Brasil e Venezuela, para a área de infra-estrutura, abre uma linha de crédito de US$ 1 bilhão, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que deverá ser utilizada ao longo do tempo para projetos especificos de exportação de bens e serviços brasileiros. "Cada projeto será analisado pelo banco e, após o trâmite e aprovação, serão então disponibilizados os recursos individuais para cada projeto", afirmou Furlan.

O acordo firmado entre os países terá aprovação dos créditos dependendo do trâmite no BNDES. "Ele é destinado à exportação de máquinas, equipamentos e serviços brasileiros. Essas obras devem estar enquadradas nas prioridades decididas pelos presidentes para a integração física da América do Sul", disse Furlan. O ministro definiu a integração de Brasil e Venezuela como uma nova era entre dois países grandes e ricos, mas que têm ainda intercâmbio muito fraco, por força da dificuldade de logística, principalmente. "Eu acho que essa iniciativa do presidente Lula conta com total apoio do presidente Chávez, e acredito que, nos próximos 4 anos, haverá grandes investimentos de infra-estrutura, e a América do Sul será diferente, quando esses trabalhos forem concluídos", afirmou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu nesta terça-feira (26/8) com o governo venezuelano de que forma o Brasil poderá oferecer financiamentos. A linha de crédito vinha sendo negociada ao longo dos últimos seis meses, com intermédio da Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio e Indústria.

A Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio e Indústria informou que somente no ano passado as exportações brasileiras para a venezuela foram em torno de US$ 1,4 bilhão, entre equipamentos agrícolas, veículos e alimentos. Para 2004, é estimado que a exportação entre os dois países chegue a US$ 3 bilhões.

A visita de Lula à Venezuela também é acompanhada por empresários brasileiros, em missão conjunta. Eles também participarão do encontro de Lula com o presidente venezuelano Hugo Chávez. Esse é o quarto encontro promovido pela Câmara neste ano e o segundo com a presença de Lula. O primeiro foi em Caracas, em março, e contou com 120 brasileiros. Foram entregues cartas de intenções comerciais para os dirigentes dos dois países e assinados convênios com a I.A.T., Agroexport, Proquinor e a Embrapa, entre outros, para obras de infra-estrutura, construção de casas populares, fornecimento de máquinas agrícolas e plantação de soja e mamona. A segunda reunião foi em Recife, com a presença de Chávez e Lula. No terceiro encontro, em Manaus, estiveram presentes cerca de 500 pessoas e foram realizadas várias rodadas de negócios.

Para José Francisco Marcondes, presidente da câmara, as relações comerciais entre os dois países tendem a aumentar pela previsão de alta nas exportações. "A Venezuela tem um grande potencial comprador, e o Brasil, exportador. A Câmara tem participado freqüentemente destas negociações e agora podemos ver os frutos deste trabalho que gerarão desenvolvimento rumo à integração sul-americana , afirmou.

Bloco econômico

Sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, Marcondes afirma que a relação entre Brasil e Venezuela é uma forma de impulssionar essa adesão ao bloco econômico. "A partir desta integração binacional, estaremos iniciando uma nova fase no processo de integração da América do Sul", disse.

Serão 35 empresários brasileiros, de vários setores da economia, desde agroindustrial, alimentício até automobilístico. A delegação brasileira debaterá com mais de 60 empresários venezuelanos a situação do comércio bilateral, seus entraves e suas possibilidades para o futuro.

Viagem presidencial

Lula fez a sua primeira visita oficial à Venezuela e deve enfrentar a pressão da oposição ao presidente Hugo Chávez. A oposição de Chávez quer a realização de um plebiscito, no qual o mandato do presidente venezuelano seria colocado em xeque.

Além dos financiamentos, a viagem de Lula teve como objetivo participar do encerramento de uma Reunião Empresarial Binacional e, na parte da tarde, visitar a cidade Guayana (500 km de Caracas) para ver as obras de construção da ponte sobre o rio Orinoco. As obras dessa construção são financiadas pelo governo brasileiro através do BNDES, com um orçamento na ordem de US$ 384 milhões.

A ponte sobre o rio Orinoco quando estiver pronta terá 3.156 metros de comprimento e o vão central da obra chegará a 120 metros de altura. Esse projeto vai desenvolver a integração entre Brasil e Venezuela, através de sistemas rodoviário e ferroviário, que vão permitir o escoamento da produção brasileira que sai dos estados do Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Rondônia e Acre. Essa produção que sai do Brasil e passa por território venezuelano terá como destino a América do Norte e o Caribe.

O Brasil também será beneficiado com a construção da ponte no setor do turismo. Para o governo, os brasileiros poderão conhecer as praias caribenhas da Venezuela usando a ponte sobre o rio Orinoco, que deverá ser concluída até 2005. Os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan; dos Transportes, Anderson Adauto; e das Relações Exteriores, Celso Amorim, integram a comitiva.

Durante o encontro, Lula classificou de "desumana" a relação comercial dos países ricos com os países pobres, na declaração conjunta com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Lula disse que os países que estão ricos querem ficar cada vez mais e que os que estão pobres tendem a empobrecer mais. Segundo o presidente, engana-se o dirigente do país que pensa que, viajando muito, indo a uma reunião da OMC e fazendo o discurso de o país que é pobre, tem muitos analfabetos e muitas crianças de rua, muitos desempregados, muita falta de casas para o povo morar, vai sensibilizar alguém a baixar os preços, para que consigam vender os seus produtos.

Lula disse a Chávez que a questão dos países ricos tem que ser vista como a lição que ele e o presidente venezuelano aprenderam na luta social. "A nossa união é o grande instrumento para fazermos com que os países ricos do mundo - nem ceder nós queremos que eles cedam, nós apenas queremos que eles coloquem, na prática, o discurso que eles nos fazem a vida inteira. Nós queremos que o comércio seja livre e queremos também a oportunidade de provar que as relações, quando mais livres, nós seremos mais competitivos e, quem sabe, poderemos um dia nós transformar em país rico", disse.

Para Lula, o Brasil está sendo governado de acordo com as suas necessidades. Segundo ele, o país está "dando a volta por cima", e o governo está otimista com a recuperação da economia. "Estamos convencidos também de que sempre haverá gente que vai ser contra, da direita ou da esquerda".

O presidente brasileiros destacou o "fenômeno" que ocorreu que na votação da reforma da Previdência, quando ultra-esquerdistas bateram palmas ultra-direitistas, que votavam contra a reforma. Segundo ele, e também havia gente de esquerda votando com a direita. "Isso não é nenhum fenômeno absurdo. Isso se chama exercício da democracia, que estamos praticando", ressaltou o presidente. O presidente disse que é possível que, com essa democracia, o governo esteja ensinando "a muita gente que estudou muito e talvez não saiba colocar em prática a arte da democracia".

Ao comentar a situação na Venezuela, onde o presidente Hugo Chávez sofre grandes pressões, Lula disse que o Brasil será sempre contra qualquer tentativa de quebra institucional. "Para nós, a democracia tem regras, muitas vezes, regras exigentes. Parece difícil, mas até agora não apareceu nada melhor do que a democracia para o exercício do poder. Eu aprendi, com a tentativa de golpe na Venezuela, e a democracia cresceu um pouco mais na minha cabeça", disse.

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