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Da Redação
Publicado em 11 de maio de 2009 às 17h04.
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), acredita que o Banco Central deveria ter aproveitado a crise para derrubar a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) em 3 ou 4 pontos percentuais logo no início da crise, de uma só vez e sem avisar ninguém por antecedência.
Durante o encerramento do EXAME Fórum, promovido por EXAME nesta segunda-feira em São Paulo, o governador e provável candidato à Presidência da República em 2010 pelo PSDB afirmou que a lentidão do BC em reduzir os juros já está criando um novo ciclo de valorização do real
Para Serra, o governo tomou algumas medidas acertadas após o início da crise, como a redução dos depósitos que precisam ser recolhidos pelos bancos junto ao BC (os compulsórios) e a criação de linhas de crédito em dólar para os exportadores.
O governador acredita que um efeito positivo da crise foi a desvalorização do real sem a aceleração da inflação -como foi visto no passado. No entanto, Serra disse que, como o Brasil continua com os juros reais mais altos do mundo, muitos investidores estrangeiros têm tomado empréstimos nos países desenvolvidos, onde as taxas foram derrubadas para reaquecer a economia, e utilizado esse dinheiro para investir em títulos públicos ou na bolsa brasileira.
Esse movimento ajudou a dólar a recuar para o atual patamar de 2,06 reais, atingido nesta segunda-feira. "A minha preocupação é voltar à mesma ciranda anterior na economia em um momento que não temos a ameaça inflacionária", disse Serra para uma plateia de empresários.
Somente na última semana o Banco Central enxugou do mercado cerca de 7 bilhões de dólares como forma de tentar conter esse movimento de apreciação do real. "Mas isso não se sustenta, porque está entrando muito dinheiro no Brasil", disse Serra.
O governador também teme que os primeiros sinais de estabilização da economia mundial façam o BC parar de baixar os juros. "Não vejo motivo nenhum para o BC não baixar os juros em 1 a 1,5 ponto em junho."
Na área fiscal, Serra criticou o governo por continuar a aumentar os gastos correntes - como com funcionários públicos, por exemplo - ao invés de priorizar investimentos nesse momento de crise.
O tucano disse que, no Brasil, 70% dos investimentos públicos são feitos por estados e municípios. No entanto, a Lei de Responsabilidade Fiscal impede que governadores e prefeitos elevem o déficit ou emitam papéis para financiar políticas anticíclicas.
Como o governo federal também reduziu os repasses de verbas após a crise ter efeito na arrecadação de impostos, o investimento do setor público teve que ser drasticamente reduzido.
Serra afirmou que o estado de São Paulo conseguiu se diferenciar por ter obtido receitas para manter a maior taxa de investimentos da história. Os recursos vieram da venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil, da concessão do Rodoanel e de cinco trechos de rodovias paulistas à iniciativa privada e de financiamentos externos e do BNDES.