Economia

Bastidores: governo teme greve geral de servidores em ano eleitoral diante de pressão por reajustes

Aumento diferenciado para as carreiras policiais, que vai superar os 20% até 2026 e foi fechado em dezembro de 2023, tem inflamado as demais categorias

Vista da Esplanada dos Ministérios (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)

Vista da Esplanada dos Ministérios (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 11 de abril de 2024 às 16h50.

Última atualização em 11 de abril de 2024 às 17h50.

O governo teme que a concessão de reajustes salariais diferenciados para categorias específicas do funcionalismo possa desencadear um movimento grevista generalizado na administração pública federal em 2024.

Segundo auxiliares governistas, um movimento paredista tem potencial de gerar repercussão negativa para o governo em ano eleitoral, o que não é desejado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Diante do imbróglio governista com os servidores, o aumento diferenciado para as carreiras policiais, que vai superar os 20% até 2026 e foi fechado em dezembro de 2023, tem inflamado as demais categorias a pressionar por elevações nos valores dos contracheques. Pelo menos 15 grupos já estão mobilizados.

No cálculo político de aliados do presidente, caso escale, a situação pode virar uma crise com um grupo que tradicionalmente apoia governos petistas. Some-se a isso o fato de que a popularidade de Lula já vem em queda, o que deixa em alerta o Palácio do Planalto para uma "tempestade perfeita".

No limite, esse cenário poderia limitar as pretensões de Lula de eleger o maior número de prefeitos possível juntamente à sua base aliada.

Além desses fatos, o tema é sensível dentro do governo e do PT, partido que veio do movimento sindical. A pressão por reajustes tende a dividir em mais uma ocasião a ala política com a equipe econômica do governo.

Tamanha é a preocupação do governo que Lula afirmou na última quarta-feira, 10, que a ministra da Gestão, Esther Dweck, está “fervilhando de problemas” diante das pressões dos servidores por revisões nos contracheques.

"Ela [Esther] está fervilhando de problemas. Acho até que não devia ter deixado ela vir para cá, devia ficar negociando antes que a gente receba de presente as greves", disse Lula, em cerimônia no Palácio do Planalto.

O governo precisa enviar até a segunda-feira, 15, o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), e há expectativa de que reservará valores nessa proposta para o reajuste dos servidores.

Reajustes nos próximos anos

Com uma meta fiscal de zerar o déficit público em 2024, internamente a equipe econômica é contra a concessão de reajustes para servidores.

Questionado sobre o tema, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na quarta que o orçamento deste ano está fechado e não há espaço para a correção dos salários do funcionalismo.

Rejeitada pelos servidores, a proposta do governo previa novos reajustes de 4,5% em 2025 e de outros 4,5% em 2026 que, somados aos 9% já concedidos. Segundo o Ministério da Gestão, essa correção representaria recomposição salarial de 19%, acima da inflação projetada para o período.

A proposta alternativa do governo prevê elevar o valor o auxílio-alimentação de R$ 658,00 para R$ 1 mil, além de reajustar em 51% os valores do auxílio-creche e da assistência à saúde complementar per capita média (“auxílio-saúde”), de forma linear, a todos os mais de 490 mil servidores ativos.

O governo também se comprometeu a implantar até julho todas as mesas específicas de carreiras que ainda não foram abertas. Atualmente são 18 mesas de negociações específicas abertas. Dez mesas já chegaram a acordos e oito estão em andamento.

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