Economistas de vários bancos, do JPMorgan Chase Co. ao Barclays Plc, converteram uma saída da Grécia da união monetária europeia no seu cenário básico, ao passo que aqueles do Goldman Sachs Group Inc. e do Citigroup Inc. observaram formas de que o país continue integrando o bloco.
Os investidores estão reexaminando as possibilidades de que a Grécia continue sendo país-membro da zona do euro depois que os eleitores utilizaram o referendo do domingo para rejeitar a austeridade necessária para conseguir ajuda internacional.
Mesmo assim, as previsões da chamada “Grexit” (saída da Grécia) após cinco anos de crise não resultaram em nada por enquanto, já que as autoridades europeias têm agido regularmente para manter a integridade do bloco.
“Apesar de a situação ser indefinida, neste ponto parece mais provável que a Grécia abandone o euro do que o contrário”, disse Malcolm Barr, economista do JPMorgan em Londres, em um relatório para clientes escrito no domingo, acrescentando que isto poderia se dar “sob circunstâncias caóticas”.
Como os bancos gregos estão ficando sem euros depois de serem fechados nos preparativos para o plebiscito e com a instauração de controles de capitais, o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras conta apenas com “umas poucas semanas” para negociar um novo acordo de ajuda, disse Barr.
“Agora uma saída é o cenário mais provável”, disseram analistas do Barclays em outro relatório. “Será extremamente difícil para os líderes da zona do euro chegarem a um acordo sobre um programa com o atual governo grego, considerando que os gregos rejeitaram a última oferta, e será difícil que tenham apoio em seus países”.
O Morgan Stanley disse que seus analistas agora calculam uma chance de 75 por cento de a Grécia abandonar o euro, frente a 60 por cento uma semana atrás.
O BNP Paribas SA disse que a probabilidade subiu de 20 por cento para 70 por cento. O Société Génerale SA estimou a chance em 65 por cento.
Controles de capitais
O Goldman Sachs reiterou que ainda antecipa que a zona do euro continue tendo 19 países-membros apesar da votação.
Embora o risco de uma Grexit tenha aumentado, “poderia demorar meses ou até mesmo anos para acontecer” e é mais provável uma situação na qual o país e seus credores estejam no limbo, disseram analistas do Citigroup, que cunhou o termo “Grexit” em 2012.
A Teneo Intelligence, uma consultoria com sede em Londres, estimou a probabilidade de a Grécia abandonar o euro em 75 por cento depois da votação, e a Evercore ISI em Washington a calculou em cerca de 67 por cento nos próximos seis a doze meses.
A Oxford Economics Ltd. aumentou a probabilidade de 67 por cento para 85 por cento, e a BMO Capital Markets disse que uma saída é seu cenário básico.
O economista-chefe do Berenberg Bank, Holger Schmiedling, disse que o país ainda não está exatamente em “piloto automático” rumo a uma saída, mas o resultado do referendo “dificulta muito mais ainda evitar esse destino”.
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1. Falando grego
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1/8 (Louisa Gouliamaki/AFP)
São Paulo - Há 5 anos, o debate sobre a crise da
Grécia gira em torno de duas questões: o país vai ou não sair do
euro? E quais seriam as consequências disso? O cenário institucional já mudou muito, mas o retórico é basicamente o mesmo, povoado por caricaturas de gregos preguiçosos, alemães autoritários, tecnocratas sem coração e políticos sinuosos. Não faltam simbolismos e lições de moral. Há quem lembre que a Grécia basicamente vive em um
estado perpétuo de crise da dívida. Os gregos rebatem com
episódios sombrios da história recente da
Alemanha. O teatro chegou a outro nível com a entrada em cena de
Yanis Varoufakis, ministro de Finanças grego, adepto de imagens fortes que frequentemente
o colocam em saias justas. Veja 7 metáforas sobre a crise da Grécia e o que elas explicam:
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2. O efeito dominó
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2/8 (Aussiegall/WikimediaCommons)
O efeito dominó é simples de entender: quando você tem várias peças enfileiradas e a primeira cede, é impossível de evitar que uma derrube a outra até que não sobre nenhuma de pé. A metáfora é usada amplamente desde 2010 para ilustrar o que aconteceria caso algum país saísse da zona do euro: o pânico e a especulação acabariam empurrando outras nações vulneráveis ao mesmo destino. Já em 2011, muito antes de sequer sonhar em virar ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis
explicou em seu blog o que vê de errado com essa metáfora: "com cada 'transição', o custo de 'resgatar' o próximo país aumenta ao mesmo tempo em que recai sobre um número menos de países. É uma dinâmica muito mais calamitosa do que a alegoria do dominó consegue capturar".
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3. O castelo de cartas
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3/8 (Arealast/Wikimedia Commons)
No seu post de 2011, Varoufakis comparou a zona do euro com um grupo de alpinistas de tipos físicos diversos na beira de um abismo e ligados por uma única corda. De repente, acontece um terremoto e um deles (a Grécia) começa a cair; o segundo mais próximo também acaba cedendo, e assim sucessivamente, aumentando cada vez mais o peso sobre os remanescentes. A dúvida é se os mais fortes (a Alemanha) vão continuar tentando puxar o grupo para cima ou se vão cortar a corda. Em fevereiro deste ano, já como ministro, Yanis escolheu uma metáfora mais simples e popular: a do castelo de cartas. "O euro é frágil, é como construir um castelo de cartas. Se você tirar a carta da Grécia, os outros entram em colapso", disse ele em entrevista para um canal italiano.
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4. O vírus Ebola
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4/8 (Cynthia Goldsmith/AFP)
Outra metáfora comum nos discursos sobre efeitos em cadeia na economia global é a da doença: o "contágio" financeiro. No caso da Grécia, o uso mais notório foi feito por Angel Gurria, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) ainda em 2010. Em entrevista para a Bloomberg, ele disse: "isso não é uma questão de contágio. O contágio já aconteceu. Isso é como o
ebola. Quando você percebe que tem, precisa cortar a sua perna para sobreviver". Curiosamente, a doença só voltaria para as manchetes mundiais no início do ano passado. O novo surto em países da África Ocidental como Sierra Leoa e Libéria já matou até agora mais de 10 mil pessoas.
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5. Afogamento simulado
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5/8 (Mark Wilson/Getty Images)
O afogamento simulado é uma técnica de tortura que consiste em despejar água sobre um pano ou toalha colocado no rosto de alguém imobilizado. Muitos oficiais americanos evitar classificar como "tortura" o método, amplamente utilizado na guerra contra o terror. O escritor Christopher Hitchens
aceitou se submeter a técnica para dar seu veredicto (conclusão: é tortura sim). Varoufakis foi o primeiro a chamar de "afogamento simulado fiscal" as políticas duras de austeridade que a União Europeia exigiu como contrapartida dos seus pacotes de resgate. Em uma
entrevista recente para a revista alemã Der Spiegel, ele disse que os torturadores são os "tecnocratas do trio FMI-BCE-Comissão Europeia enviados para implementar e monitorar um programa destrutivo" e defendeu a analogia: "Conseguiu capturar sua atenção, não é mesmo? Então funcionou."
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6. Cavalo de Tróia
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6/8 (Domínio público/Giovanni Domenico Tiepolo)
Desde que o partido de esquerda Syriza chegou ao poder no final de janeiro, a Grécia está na corda bamba, tendo que se mostrar aberta a negociações sem recuar da promessa de mudar fundamentalmente os acordos de resgate. No dia 19 de fevereiro deste ano, os gregos
enviaram uma carta para o grupo de ministros de Finanças da UE pedindo formalmente uma extensão de 6 meses do programa atual. A resposta dos alemães,
vazada para a imprensa, tinha o seguinte trecho: "a proposta [grega] representa um cavalo de tróia, com o objetivo de garantir uma ponte de financiamento acabando com a substância do programa atual". Diz a lenda que após 10 anos de luta, os gregos deram um cavalo gigante como sinal de trégua aos troianos. O presente foi aceito e colocado no centro da cidade; no meio da noite, os soldados escondidos na estátua de madeira saíram e tomaram o território inimigo. Em tempo: dias depois da polêmica, os gregos enviaram uma lista de reformas prometidas e
conseguiram uma extensão de 4 meses do programa atual.
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7. A perna amputada
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7/8 (.)
Muita coisa mudou desde que a crise da Grécia estourou em 2010. Nas negociações atuais, uma tática da Alemanha para melhorar sua posição de barganha tem sido sinalizar que a
Europa já não deve temer tanto assim uma possível "Grexit". Há cerca de duas semanas, uma
matéria do Financial Times afirmou que alguns oficiais alemães estão propagando a "teoria da perna amputada, segundo a qual a Grécia deve ser cortada como um membro gangrenado para poupar o resto do corpo da zona do euro". Outros continuam adeptos da metáfora do dominó - quando o primeiro cai, fica difícil segurar o processo.
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8. A pistola dágua
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8/8 (Zoom Zoom / Wikimedia Commons)
A última metáfora da lista vem, novamente, do ministro Varoufakis. Em meados de janeiro, ele disse que o
programa de compra de títulos do Banco Central Europeu para estimular a economia europeia e evitar a deflação equivale ao de "uma pistola d'água sobre um incêndio na floresta". Em entrevista
publicada no seu blog, ele aliviou para o presidente do BCE,
Mario Draghi, que sofreu constragimentos políticos e legais para agir de forma mais rápida e incisiva: "Não tenho dúvidas de que ele entende que o que está fazendo é muito pouco, muito tarde. Mas ele acha que uma pistola d'água é melhor que nada. Se há um fogo devastador, ele gostaria de usar o canhão d'água, e gostaria de ter usado antes, mas não foi permitido". Algum efeito, a pistola deve estar tendo - o otimismo com a economia europeia aumentou sensivelmente nas últimas semanas, e o crescimento está próximo do
maior nível em 4 anos.