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Aumento do preço do mate não reduz consumo no Uruguai

Apesar da concorrência atual do café e dos refrigerantes, a tradição do mate permanece mais viva do que nunca

O presidente do Uruguai, José Mujica: país é campeão mundial em consumo de mate, com 39 quilos por pessoa (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2013 às 10h39.

Montevidéu - Embora dolorosa para muitas famílias, a inusitada alta do preço do quilo da erva-mate no Uruguai , tachada pelo presidente José Mujica de "catastrófica para o país", não parece, por enquanto, argumento suficiente para reduzir o hábito do consumo deste chá entre a população.

Na rua, em casa e até no ônibus e no volante - desafiando a proibição de beber e dirigir ao mesmo tempo por motivos de segurança - é fácil ver alguém consumindo mate.

Apesar de o preço ter subido 46% nos últimos 12 meses e de a previsão ser de um novo aumento de 30% antes do fim do ano, uma tragédia para o país campeão mundial em consumo de mate, com 39 quilos por pessoa.

O aumento do valor é explicado em parte pela inflação, de 6,73% no ano de 2013, e também pelo fato de 95% da erva consumida no Uruguai ser procedente do Brasil, onde há mais duas razões para o encarecimento do produto.

Uma delas é a queda na produção, já que muitos agricultores substituíram o cultivo da planta pela soja, muito mais rentável, e a outra a alta do dólar em relação ao real, o que elevou os custos das importações uruguaias do Brasil.

A insistência no consumo resulta de "um hábito social" e não do fato de a erva conter substâncias que viciam, argumentou o pesquisador Nelson Bracesco, da Faculdade de Medicina da Universidade da República.

Bracesco explica que "há componentes estimulantes que são os que permitem que as pessoas se mantenham acordadas e mais atentas", principalmente a cafeína.

"As pessoas de 50 (anos) para cima sabem que se tomarem mate depois das 17h não vão conseguir dormir", explicou.

O precursor em matéria de mate foi o milenar povo guarani (que vivia no nordeste da Argentina, Uruguai, sul do Paraguai e Brasil), que conferiu à erva a qualidade de planta "benéfica e protetora"

A palavra mate, que dá nome tanto ao chá como ao recipiente no qual a bebida é consumida, provém do quíchua "mati", que significa "abóbora".

Seu consumo foi ainda mais divulgado pelos religiosos jesuítas no século XVII, durante a colonização espanhola, e se expandiu para regiões de Chile e Bolívia.

No Uruguai, apesar da concorrência atual do café e dos refrigerantes, a tradição do mate permanece mais viva do que nunca por ser passada de geração em geração.

"Desde que era pequeno já tomava mate. Minha mãe ainda matém o hábito, e tem quase 90 anos. É uma coisa que já vem de tradição, e não acho que vá mudar agora", contou à Agência Efe Jorge Mario Salinas, guardador de carros em uma praça de Montevidéu.

Salinas explicou que consome mate para combater o frio e que a erva é "ainda mais companheira que o charuto".

"Eu já deixei de ser da classe humilde ou da classe pobre. Eu já sou da classe média-alta: tomo mate todos os dias", ironizou sobre o aumento do preço, que passou de 70 pesos (cerca de R$ 7) para 150 pesos (R$ 15) por quilo.

A alguns metros do guardador, um grupo de encanadores enfrenta uma longa jornada de trabalho para poder dividir um mate.

"Com este preço, não dá mais para cada um tomar o seu", comentou William Lalinde, um dos trabalhadores.

Para Pablo Tasende, representante da empresa Carrau, que comercializa uma marca de erva importada do Brasil, "a regularização dos trabalhadores das plantações de mate aumentou os custos de produção".

O Uruguai, por sua vez, não produz diretamente a erva porque "não reúne as condições meteorológicas nem de solo necessárias para isso", explicou Tasende.

Bracesco especificou que essas "condições adversas" poderiam ser superadas "com o uso da tecnologia", mas advertiu que "a extensão de terreno e o investimento tecnológico seriam desproporcionais para o país".

Por isso, os sofridos consumidores uruguaios de mate deverão continuar expostos aos vaivéns do comércio internacional, já que o hábito parece estar muito longe de desaparecer.

"Os que gostam de mate continuarão a pagar", resumiu Verónica, uma funcionária que carrega sempre consigo uma garrafa térmica com o chá.

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Montevidéu - Embora dolorosa para muitas famílias, a inusitada alta do preço do quilo da erva-mate no Uruguai , tachada pelo presidente José Mujica de "catastrófica para o país", não parece, por enquanto, argumento suficiente para reduzir o hábito do consumo deste chá entre a população.

Na rua, em casa e até no ônibus e no volante - desafiando a proibição de beber e dirigir ao mesmo tempo por motivos de segurança - é fácil ver alguém consumindo mate.

Apesar de o preço ter subido 46% nos últimos 12 meses e de a previsão ser de um novo aumento de 30% antes do fim do ano, uma tragédia para o país campeão mundial em consumo de mate, com 39 quilos por pessoa.

O aumento do valor é explicado em parte pela inflação, de 6,73% no ano de 2013, e também pelo fato de 95% da erva consumida no Uruguai ser procedente do Brasil, onde há mais duas razões para o encarecimento do produto.

Uma delas é a queda na produção, já que muitos agricultores substituíram o cultivo da planta pela soja, muito mais rentável, e a outra a alta do dólar em relação ao real, o que elevou os custos das importações uruguaias do Brasil.

A insistência no consumo resulta de "um hábito social" e não do fato de a erva conter substâncias que viciam, argumentou o pesquisador Nelson Bracesco, da Faculdade de Medicina da Universidade da República.

Bracesco explica que "há componentes estimulantes que são os que permitem que as pessoas se mantenham acordadas e mais atentas", principalmente a cafeína.

"As pessoas de 50 (anos) para cima sabem que se tomarem mate depois das 17h não vão conseguir dormir", explicou.

O precursor em matéria de mate foi o milenar povo guarani (que vivia no nordeste da Argentina, Uruguai, sul do Paraguai e Brasil), que conferiu à erva a qualidade de planta "benéfica e protetora"

A palavra mate, que dá nome tanto ao chá como ao recipiente no qual a bebida é consumida, provém do quíchua "mati", que significa "abóbora".

Seu consumo foi ainda mais divulgado pelos religiosos jesuítas no século XVII, durante a colonização espanhola, e se expandiu para regiões de Chile e Bolívia.

No Uruguai, apesar da concorrência atual do café e dos refrigerantes, a tradição do mate permanece mais viva do que nunca por ser passada de geração em geração.

"Desde que era pequeno já tomava mate. Minha mãe ainda matém o hábito, e tem quase 90 anos. É uma coisa que já vem de tradição, e não acho que vá mudar agora", contou à Agência Efe Jorge Mario Salinas, guardador de carros em uma praça de Montevidéu.

Salinas explicou que consome mate para combater o frio e que a erva é "ainda mais companheira que o charuto".

"Eu já deixei de ser da classe humilde ou da classe pobre. Eu já sou da classe média-alta: tomo mate todos os dias", ironizou sobre o aumento do preço, que passou de 70 pesos (cerca de R$ 7) para 150 pesos (R$ 15) por quilo.

A alguns metros do guardador, um grupo de encanadores enfrenta uma longa jornada de trabalho para poder dividir um mate.

"Com este preço, não dá mais para cada um tomar o seu", comentou William Lalinde, um dos trabalhadores.

Para Pablo Tasende, representante da empresa Carrau, que comercializa uma marca de erva importada do Brasil, "a regularização dos trabalhadores das plantações de mate aumentou os custos de produção".

O Uruguai, por sua vez, não produz diretamente a erva porque "não reúne as condições meteorológicas nem de solo necessárias para isso", explicou Tasende.

Bracesco especificou que essas "condições adversas" poderiam ser superadas "com o uso da tecnologia", mas advertiu que "a extensão de terreno e o investimento tecnológico seriam desproporcionais para o país".

Por isso, os sofridos consumidores uruguaios de mate deverão continuar expostos aos vaivéns do comércio internacional, já que o hábito parece estar muito longe de desaparecer.

"Os que gostam de mate continuarão a pagar", resumiu Verónica, uma funcionária que carrega sempre consigo uma garrafa térmica com o chá.

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