Economia

Aumento do franco suíço estraga festa dos relógios de luxo

Ao acabar com a taxa mínima de câmbio entre o franco suíço e o euro, o Banco Nacional da Suíça estragou a festa dos fabricantes de relógios de luxo


	Relógios de luxo da Swatch: CEO da Swatch disse que o BNS provocou um “tsunami”
 (Andrey Rudakov/Bloomberg)

Relógios de luxo da Swatch: CEO da Swatch disse que o BNS provocou um “tsunami” (Andrey Rudakov/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 20h38.

Zurique - O Banco Nacional da Suíça (BNS) estragou a festa dos fabricantes de relógios de luxo do país enquanto eles se preparavam para uma das mais extravagantes comemorações do ano, que ocorrerá na próxima semana durante a exibição anual de relógios, em Genebra.

A decisão de acabar com a taxa mínima de câmbio entre o franco suíço e o euro significa que esse será um dos anos mais difíceis para as relojoarias do país alpino.

As ações da Richemont, a companhia controladora de marcas de relógio como a Vacheron Constantin e a IWC, despencaram 16 por cento anteontem em Zurique, a maior queda em mais de duas décadas, ao passo que o franco disparou mais de 15 por cento em relação ao euro.

“É um desastre total”, disse Jon Cox, analista da Kepler Cheuvreux, em Zurique. “As relojoarias suíças têm uma base de custo volumosa. Haverá um impacto negativo na margem, que será traduzido nos lucros. As relojoarias terão que aumentar os preços ou reduzir os custos”.

Para um setor que conquista seu atrativo através da etiqueta “Fabricado na Suíça”, a produção local está dando dor de cabeça, pois os custos de montagem dos relógios aumentam.

O CEO da Swatch Group AG, Nick Hayek, disse que o BNS provocou um “tsunami”.

Dezesseis das marcas dos relógios mais caros do mundo, dos quais três quartos são produzidos pela Richemont, vão exibir seus novos modelos no Salão Internacional da Alta Relojoaria, que ocorre uma vez por ano. Os fabricantes de relógios gastam um total de até 30 milhões de francos (US$ 35 milhões) em marketing no evento, estima René Weber, analista do Bank Vontobel AG.

Festa da IWC

Um dos maiores destaques depois do pôr-do-sol é o jantar de gala da IWC, onde distribuidores e clientes se misturam com celebridades como Ewan McGregor e a modelo brasileira da Victoria’s Secret Adriana Lima. A marca de 147 anos está se preparando para dar uma festa exclusiva para cerca de 800 convidados na noite de 20 de janeiro.

Agora, a conta da festa ficou mais cara. Além disso, cerca de metade dos custos da Richemont com os itens vendidos e até 30 por cento dos gastos operacionais são em francos, estima Thomas Chauvet, analista do Citigroup Inc. A Swatch, proprietária das marcas Omega e Breguet, está ainda mais exposta, com 85 por cento dos custos de produção computados em francos, disse ele.

“Com certeza, não é uma boa notícia que sua moeda fique tão forte se você é exportador”, disse Jean-Claude Biver, diretor da unidade de relógios da LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SA.

Para exportação

Apenas uma pequena fração dos relógios suíços não é exportada, e quase um terço das exportações se destina à zona do euro, disse Biver, em entrevista.

As exportações dos relógios suíços poderiam diminuir neste ano, disse Patrik Schwendimann, analista do Zuercher Kantonalbank, que anteriormente tinha previsto um pequeno aumento.

A indústria relojoeira suíça está saindo do que provavelmente tenha sido seu segundo pior desempenho desde 2009. Os dados do ano completo ainda não foram divulgados, mas as exportações de relógios suíços aumentaram 2,3 por cento nos primeiros 11 meses de 2014, algo muito diferente das taxas de crescimento que chegaram a 22 por cento em 2010. A marca Cartier, da Richemont, começou no ano passado a reduzir a carga horária semanal de trabalho de 230 funcionários para se adaptar ao enfraquecimento da demanda.

Único consolo

O único consolo para as relojoarias é que elas nunca entraram com tanto dinheiro em uma crise. A posição de caixa líquido da Richemont aumentou para o recorde de 4,9 bilhões de euros (US$ 5,7 bilhões).

A valorização de 10 por cento do franco em relação ao euro reduz os lucros da Swatch em até 18 por cento e da Richemont em até 9 por cento, disse Helen Brand, analista da Barclays.

A reação da Richemont será aumentar os preços, disse Melanie Flouquet, analista do JPMorgan Cazenove, quem reduziu 16 por cento da meta de preço da ação, para 80 francos.

“Ainda é cedo para fazer alarde para aumentar demais a exposição na nossa perspectiva, considerando-se o suave crescimento das vendas orgânicas para o setor de luxo como um todo”, disse ela.

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