Argentina quer relaxar controle cambial se acordo com credores avançar
Mesmo com controles duros, pagamento de dívidas suspenso e isolamento contra Covid-19, dólares ainda saem do país e reservas têm menor nível em quatro anos
João Pedro Caleiro
Publicado em 1 de junho de 2020 às 11h54.
Última atualização em 1 de junho de 2020 às 12h03.
O banco central da Argentina pretende relaxar as restrições cambiais a partir de 30 de junho, caso o governo consiga fechar um acordo com credores que seja bem recebido pelos mercados, disse o presidente da instituição, Miguel Pesce.
“Espero que possamos liberar mais o mercado quando essa negociação for resolvida”, disse Pesce em entrevista por telefone na noite de quinta-feira. “Temos que ver como o mercado responde ao estímulo se a negociação for bem-sucedida”, afirmou.
Pesce e autoridades do banco central implementaram novos controles na quinta-feira à noite, restringindo o acesso de empresas ao mercado de câmbio para pagar obrigações no exterior em dólares ou outras moedas.
As empresas que liquidam títulos do governo denominados em pesos para obter moeda estrangeira devem aguardar 90 dias antes e 90 dias após qualquer transação. As novas restrições fazem parte de um mês de controles das taxas de câmbio não oficiais do país.
A Argentina enfrenta uma crise cambial. Apesar de controles rígidos, suspensão de pagamentos de dívidas e medidas e isolamento contra o Covid-19, os tão necessários dólares ainda saem do país.
As reservas internacionais do governo caíram para o menor nível em quatro anos na semana passada, ficando abaixo do volume quando o Fundo Monetário Internacional iniciou um programa de empréstimos de US$ 56 bilhões em 2018.
“O que você vê hoje são pressões especulativas e oportunistas”, disse Pesce, acrescentando que a taxa de câmbio atual é competitiva. “Nenhum líder empresarial reclama da taxa de câmbio.”
Importadores
No entanto, importadores argentinos, que frequentemente precisam pagar por embarques em dólares, estão reclamando. A maioria dos preços de importação está atrelada à taxa de câmbio não oficial, que nas últimas semanas, dobrou em relação à taxa oficial que empresas devem usar para converter receitas obtidas no exterior em pesos.
A taxa não oficial disparou quando o banco central começou a financiar alguns gastos fiscais, despertando preocupações com o avanço da inflação, já que o país está em default.
A chamada base monetária da Argentina aumentou 24% desde o início da quarentena em 20 de março, embora flutue dia a dia. Esse crescimento em momento de forte retração econômica e fraca demanda por pesos preocupou o mercado.
Segundo pesquisa, os argentinos esperam inflação de 47% nos próximos 12 meses, o nível mais alto de expectativas desde pelo menos 2006. Essas projeções levam argentinos a buscar dólares.