Mercados

Dólar fecha em alta apesar de exterior positivo e intervenções do BC

Na contramão do resto do mundo, real se desvaloriza com cenário político no radar

Dólar: moeda americana perde força no mundo, menos no Brasil (halduns/Getty Images)

Dólar: moeda americana perde força no mundo, menos no Brasil (halduns/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 1 de junho de 2020 às 17h10.

Última atualização em 1 de junho de 2020 às 17h15.

O dólar fechou em alta contra o real, nesta segunda-feira 1, refletindo a maior cautela com o cenário interno, após os protestos contra e a favor do presidente Jair Bolsonaro, que terminaram em confronto, neste fim de semana. A desvalorização do real ocorreu na contramão do enfraquecimento da moeda americana no mundo. Por aqui, o dólar comercial subiu 0,8% e encerrou cotado a 5,484 reais, enquanto o dólar turismo avançou 0,9%, a 5,67 reais.

Vanei Nagem, analista de câmbio da Terra Investimentos, avalia que o cenário interno está “muito delicado”. “A manifestação um pouco mais aguerrida contra o Bolsonaro, apesar de muito isolada, pode sinalizar uma mudança de pensamento e comportamento das pessoas", disse Nagem.

A apreciação do dólar ocorreu mesmo após o Banco Central fazer duas intervenções no mercado à vista. Na semana passada, membros da autarquia haviam sinalizado que poderiam atuar de forma mais firme para evitar distorções no câmbio.

Jefferson Ruik, diretor de câmbio da Correparti Corretora, avalia que tipo de manifestação “assusta”, principalmente, o investidor estrangeiro. “Eles estão saindo gradualmente, mas agora está sendo com valores maiores”, disse

EXAME Research — 30 dias grátis da melhor análise de investimentos

Segundo Ruik, a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) promova novo corte da taxa básica de juros Selic na próximo reunião, em meados de junho, também acelera os ganhos do dólar contra o real. Na ata do último encontro, o Copom deixou claro que poderia promover novo corte de até 0,75 pontos base, o que renovaria a mínima histórica para 2,25%.

Nesta segunda, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Netto, disse que a política monetária ainda não está “exaurida”, sinalizando que pode voltar a reduzir os juros.

Além dos fatores locais, Fernando Bergallo, presidente da FB Capital, também considera a recente depreciação do dólar como causa para a alta de hoje. “O dólar vem de um movimento de desvalorização muito forte [em relação às máximas de maio]. Talvez tivesse chegado em um nível muito baixo, levando em consideração a crise política e fiscal”, afirmou.

No mundo, o dólar perdeu força, com o maior otimismo sobre a recuperação econômica, após o índice de gerente de compra (PMI, na sigla em inglês) industrial de maio ter saído acima das expectativas na China e, na Europa, melhor do que o mês anterior.

Apesar dos dados sugerirem que o pior do impacto econômico pode ter ficado para trás, o clima nos mercados internacionais ainda é de cautela, tendo em vista a escalada de tensões entre China e Estados Unidos.

A relação entre os dois países, que já vinha azeda, se deteriorou ainda mais na semana passada, quando o parlamento chinês aprovou a lei de segurança nacional sobre Hong Kong, visto como uma tentativa de aumentar o controle sobre o território autônomo. Nesta segunda, a agência Bloomberg informou que o gigante asiático ordenou que suas estatais interrompessem compras de produtos agrícolas americanos

A retaliação chinesa ao setor agrícola dos Estados Unidos pode colocar em xeque a primeira fase do acordo, visto que a importação de soja americana fazia parte das negociações. "Ameaça [a "fase 1"] sim . O Trump adora ter uma reação meio radical. A gente não sabe como vai ser interpretado", disse Nagem.

 

Acompanhe tudo sobre:CâmbioChinaDólarEstados Unidos (EUA)Protestos

Mais de Mercados

Ibovespa opera em queda com petroleiras caindo em bloco

BofA tem lucro e receita acima do esperado no 3º tri; ações sobem no pré-mercado

Lucro do Citi cai 9% no 3º tri, mas supera expectativa e ações sobem no pré-mercado

Queda do petróleo, prévia da Vale, balanços do BofA, Citigroup e Goldman Sachs: o que move o mercado