Aposentar cedo tem custo alto para a sociedade, diz Meirelles
Para o ministro da Fazenda, o problema é que a idade mínima para a aposentadoria não aumenta e, além disso, os brasileiros têm se aposentado cedo
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de março de 2017 às 13h16.
São Paulo - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles , afirmou a jornalistas nesta quinta-feira, 9, em São Paulo, que a evolução das despesas da Previdência segue numa "escala crescente", porque a população brasileira vive cada vez mais.
Ao mesmo tempo, o problema é que a idade mínima para a aposentadoria não aumenta e, além disso, os brasileiros têm se aposentado em idade menordo que em vários países europeus e do resto do mundo.
O número de anos que os brasileiros passam aposentados está aumentando, ressaltou Meirelles, citando um evento na quarta, 8, em Brasília em que um amigo comemorava 20 anos de aposentadoria.
"É bom pra ele, mas isto custa caro. Já existem pessoas, raras hoje, que têm quase o mesmo tempo de aposentadoria do que o tempo trabalhado", comentou o ministro, que veio a São Paulo para participar do Fóruns Estadão que trata justamente da reforma da Previdência.
A aposentadoria é algo positivo, ressaltou o ministro, e todos deveriam se aposentar. "Mas isto tem um custo para a sociedade e o custo tem que ser compatível", disse ele, ressaltando que o governo pensou na proposta de reforma para permitir que outros custos, como saúde e educação, continuem evoluindo.
Meirelles disse que se encontrou nos últimos dias com bancadas de vários partidos no Congresso. "A reforma da Previdência não é um objeto de decisão, de desejo de alguém. Idealmente manteríamos a Previdência como está, mais generosa", disse o ministro. "A questão é que a sociedade brasileira é que paga isso", afirmou aos jornalistas.
'Reforma já'
O ministro da Fazenda destacou que os números das contas públicas impõem uma reforma da previdência já. "As despesas do INSS crescem nos próximos anos de maneira impressionante", disse.
Meirelles ressaltou na entrevista a jornalistas o que havia dito em sua palestra, que a população brasileira está envelhecendo, mas as pessoas se aposentam cedo.
"Se não se fizer nada, apenas a previdência, sem falar dos outros benefícios sociais, apenas o aumento (do gasto com aposentadoria) consome em dez anos 8% do PIB (Produto Interno Bruto), o que é claramente insustentável", afirmou.
"Não há como aumentar a tributação no País neste porcentual", disse Meirelles. O ministro ressaltou ainda que a Previdência brasileira é mais generosa, com idade média de aposentadoria de 59,4 anos.
O único país em que as pessoas se aposentam mais novas que o Brasil é Luxemburgo. Já um país mais próximo ao Brasil, como o México, a idade média é 72 anos.
Juros
O ministro da Fazenda afirmou que a reforma da Previdência visa evitar o aumento dos gastos públicos ao longo do tempo e, assim, também impedir que o País tenha uma alta taxa de juros. "Quanto maior as despesas públicas, maior a taxa de juros."
"Em qualquer país do mundo a reforma da Previdência é uma discussão complexa e não é fácil, mas há uma evidência numérica. Preferia não estar discutindo esse assunto, mas há necessidade, porque senão não vamos controlar trajetória da dívida, não vamos sair da crise, e não vamos reduzir a taxa estrutural de juros no Brasil', completou.
Espaço de outros gastos
O ministro da Fazenda disse a jornalistas que, se os gastos com previdência continuarem crescendo no ritmo atual, eles vão tirar espaço de todas as despesas públicas, principalmente saúde e educação.
Ele reconheceu que a reforma da Previdência é um tema que afeta a todos os brasileiros e, portanto, é legítimo que seja discutido pela sociedade de forma abrangente.
Por isso, é necessário o governo ter uma comunicação cada vez mais forte sobre a reforma. "É uma decisão da sociedade brasileira, não é vontade de ninguém. Ou se equilibra as contas públicas ou haverá despesas de previdência que vão custar cada vez mais."
Questionado pelos jornalistas sobre se é preciso comunicar melhor à sociedade que a reforma vai lidar com os privilégios de determinadas classes, Meirelles respondeu: "Sem dúvida."
"Se decidir não fazer nada, é legítimo. Mas vamos ter um problema grave de incapacidade do governo de financiar a previdência no futuro como já está acontecendo em alguns Estados", comentou o ministro.