Tombini: na equipe econômica sempre se lembra que o presidente do BC manifestou publicamente diversas vezes, nos últimos meses, sua preocupação com a inflação (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2013 às 08h34.
Rio de Janeiro - Apesar da afirmação do Banco Central (BC) de que está preocupado com a inflação, os analistas ainda veem ambiguidades na comunicação da autoridade monetária sobre uma possível alta da Selic, a taxa básica, nos próximos meses. "Estou na dúvida, e acho que boa parte do mercado está confusa", diz Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP. Esta semana, numa série de entrevistas, o BC esforçou-se para mostrar que está preocupado com a alta da inflação. O movimento mexeu com o mercado futuro, onde as taxas de juros, que já indicam alta da Selic este ano, chegaram por um momento a subir ainda mais.
Por outro lado, permanece em alguns a percepção de que o Banco Central está atrelado a diretrizes do Planalto, que cerceiam - embora não impeçam - a livre utilização da Selic para frear a alta dos preços. "O BC é submisso e não está livre para aumentar o juro quando desejar", diz o economista e consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC.
Na equipe econômica, porém, sempre se lembra que Alexandre Tombini, presidente do BC, manifestou publicamente diversas vezes, nos últimos meses, sua preocupação com a inflação. Nota-se que ele tem repetido que o ciclo monetário não está abolido - em outras palavras, a Selic ainda vai oscilar, embora em intervalo mais baixo que no passado.
Eleições
Alguns analistas acham que poderia haver cálculo eleitoral nas deliberações do Copom e do governo sobre o futuro da Selic. Assim, se fosse para aumentar os juros, haveria algum incentivo para fazê-lo logo, de forma que os efeitos negativos sobre a atividade econômica e o emprego já pudessem estar dissipados - possivelmente já com um novo ciclo de baixa - na campanha eleitoral de 2014. O que pode levar o BC a não elevar a Selic, por outro lado, são fatores que teoricamente devem levar à moderação da inflação ao longo do ano, especialmente no segundo semestre - quando Tombini aposta que ela cairá no acumulado de 12 meses. Além dos efeitos das medidas sobre preços específicos), os serviços podem ceder, com os salários subindo menos (o reajuste do salário mínimo em 2013 foi bem menor que em 2012), os alimentos - grandes responsáveis pelo repique inflacionário no segundo semestre do ano passado - recuando, e o câmbio também contribuindo. Há sinalizações do governo e do BC de que não haverá em 2013 desvalorizações como a perda de 20% do valor do real entre março e novembro de 2012. Outro fato que pode dar um alívio psicológico é que a inflação em fevereiro e março deve ser metade do altíssimo IPCA de 0,86% em janeiro. Mas isso não deve reduzir a inflação acumulada em 12 meses.
Por outro lado, a política fiscal em 2013 pode ser expansionista: o governo pode fazer descontos no superávit primário estipulado de 3,1% do PIB que, na prática, o reduziriam para 1,8%.
Em relação às medidas macroprudenciais de controle de mercados de crédito - acionadas em 2011 -, analistas dizem que o governo está, na verdade, estimulando o crédito. "E não é no crédito que estamos vendo pressão neste momento", avalia Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.