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Alemanha prepara plano de estímulo contra possível recessão

Com Merkel e Banco Central admitindo que a economia entrou em estágio difícil, país dá sinais de que pode abrir os cofres para estimular o consumo

Pedestres caminham em rua de compras de Bonn, na Alemanha: sinais estão aumentando de que rígida aderência do país à política de orçamento equilibrado está diminuindo. (Krisztian Bocsi/Bloomberg)

Ligia Tuon

Publicado em 19 de agosto de 2019 às 13h52.

Última atualização em 19 de agosto de 2019 às 17h09.

O governo alemão se prepara para reforçar a maior economia da Europa, ao programar medidas de estímulo fiscal que poderiam ser ativadas em caso de uma recessão profunda, segundo duas pessoas com conhecimento direto do assunto.

O programa teria com objetivo reforçar a economia doméstica e os gastos do consumidor de modo a evitar o desemprego em larga escala, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque as discussões são privadas.

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Semelhante aos bônus criados na crise de 2009 para estimular os alemães a comprar carros novos, o governo está estudando incentivos para melhorar a eficiência de energia das residências, promover contratações de trabalho de curto prazo e aumentar a renda através do bem-estar social, disseram as pessoas.

Títulos da dívida da Alemanha caem nesta segunda-feira, com correlata alta das taxas. Euro chegou a subir 0,2%, para US$ 1,1114 na máxima, antes de desacelerar movimento.

Os sinais estão aumentando de que rígida aderência da Alemanha à sua política de orçamento equilibrado está diminuindo. No domingo, o ministro das Finanças, Olaf Scholz, sugeriu que o governo poderia ter gastos extras de 50 bilhões de euros (US$ 55 bilhões) em caso de crise econômica. Na semana passada, a chanceler Angela Merkel disse que a economia está “caminhando para uma fase difícil” e que seu governo reagirá “dependendo da situação”.

O Banco Central da Alemanha alertou na segunda-feira que a economia pode estar prestes a entrar em recessão, aumentando a pressão sobre os políticos para elevar o apoio.

Com a maior economia da Europa desacelerando e a coalizão de Merkel se tornando cada vez mais impopular, a pressão aumentou no âmbito doméstico e no exterior para que alemães abram os cofres. Manter uma política de orçamento equilibrado por quase uma década permitiu que a Alemanha reduzisse a dívida pública de 83% para 60% do PIB na última década.

“Considerando que a fraqueza industrial persiste por um ano e meio, é notável como o debate se desevolveu tão lentamente até agora”, disse Greg Fuzesi, economista do JPMorgan Chase, em uma nota. “Isso se deve em parte ao fato de que o desejo de cortar a dívida do governo é profundamente defendido por todos os principais partidos e porque a desaceleração econômica tem sido ‘estranha’ até o momento, com repercussões no mercado de trabalho apenas começando a surgir agora e em escala modesta.”

Os obstáculos para um programa de estímulo continuam altos. O governo exige que a Câmara declare uma crise para que ele possa emitir dívida além das diretrizes normais autorizadas durante uma recessão. Sem um sentimento de mal-estar generalizado, a aprovação poderia ser difícil de justificar, e a Alemanha ainda está prevendo oficialmente uma recuperação econômica antes do final do ano.

“Até o final do ano estimamos que a economia alemã esteja cerca de 1% menor do que poderia ter sido se a desaceleração tivesse sido evitada. Isso pode demandar gastos entre 30 bilhões e 110 bilhões de euros para reverter esses danos”, diz Jamie Rush, economista da Bloomberg.

Mesmo com a contração do PIB da Alemanha no segundo trimestre, as autoridades da administração Merkel estão preocupadas com o fato de que uma farra de gastos incentivaria importações e poupança, em vez de estimular a produção industrial e proteger os empregos, disseram as pessoas.

A utilização da capacidade industrial teria que diminuir significativamente para que o estímulo fiscal tivesse um impacto relevante, disseram as pessoas. Atualmente, gastos no montante de 1% do PIB impulsionariam o crescimento em menos de 0,5 ponto percentual, o que elas consideram insuficiente.

(Com a colaboração de Carolynn Look e Jana Randow).

 

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