Ajustes reforçam previsão de 2015 difícil para o Brasil
O ano será de duros ajustes que vão afetar a vida de todos os brasileiros
Da Redação
Publicado em 28 de novembro de 2014 às 08h35.
São Paulo - Em suas projeções, economistas de diferentes matizes podiam discordar das medidas que deveriam ser adotadas em relação à economia no próximo ano, mas sempre houve uma unanimidade entre eles: 2015 seria um ano difícil.
Na quinta-feira, 27, a fala conjunta dos futuros ministros da Fazenda, Joaquim Levy , e do Planejamento, Nelson Barbosa, ao lado do reconduzido presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reafirmou a projeção.
O ano será de duros ajustes que vão afetar a vida de todos os brasileiros. Pode parecer um contrassenso, mas a mensagem foi bem recebida pelos economistas.
Isso ocorreu porque, diferentemente da atual equipe econômica, a nova mostrou que reconhece o cenário ruim e sinalizou que vai trabalhar para corrigir a rota.
"A nova equipe econômica é uma clara mudança de rumo", diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso.
"E é uma mudança correta, porque os resultados do primeiro mandato se mostraram ruins. Então, agora não tem mais sentido qualquer análise catastrófica para a economia no ano que vem."
Segundo ele, um dos efeitos imediatos é o de que o mercado de trabalho, que começava a dar sinais de arrefecimento, não vai piorar tanto como o esperado.
O economista Eduardo Giannetti, que trabalhou na campanha da candidata à presidente Marina Silva (PSB), ainda tem dúvidas sobre se haverá espaço político para a nova equipe trabalhar, mas concorda com a visão.
"Caso o novo ministro possa colocar em prática suas ideias, é possível que o cenário de turbulências comece a mudar."
Ano duro
Uma boa pista sobre qual será o impacto de um eventual ajuste no dia a dia das pessoas está no valor anunciado do superávit primário (a economia do governo para pagar os juros da dívida). Levy falou em 1,2% de primário.
Ele é conhecido por ser um ortodoxo, então, a expectativa é de que faça um primário sem truques, que dependa de uma arrecadação mais robusta e de um legítimo corte de gastos.
"Nesse cenário, não tem mágica: teremos aumento de impostos e cortes de subsídios", avalia Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria Integrada.
Já se prevê aumento da Cide, que hoje está zerada, o que vai elevar o preço da gasolina. Também existe a expectativa de que as passagens de metrô e de ônibus, hoje represadas, sejam reajustadas.
O mesmo vai ocorrer com a energia. Pelas expectativas da Tendências Consultoria, o reajuste médio da conta de luz será de 18%.
O aumento das tarifas vai pressionar a inflação, que já encostou no teto da meta (de 6,5%). Assim, para fazer a inflação ceder, será preciso segurar o consumo.
A Selic, a taxa básica de juros, com certeza será elevada, encarecendo o crédito. As prestações, do calçado mais básico ao carro mais luxuoso, vão ficar maiores.
Gastos públicos
Há porém uma expectativa positiva em relação ao outro lado da equação do ajuste: o lado do gasto público.
"Se Joaquim Levy cortar gastos ou ao menos segurá-los para que parem de subir acima da receita, teremos dois efeitos benéficos", diz Marina Santos, economista-chefe da gestora Mauá Sekular.
O primeiro, diz ela, é aliviar a alta dos juros. A Selic ainda seria elevada, mas em pontos porcentuais menores. Assim, o tranco sobre o crédito tenderia a ser menor.
Isso é possível porque, para cada ponto porcentual a mais que o governo poupa, representa um ponto porcentual a menos para se elevar na Selic.
O outro fator positivo é que um governo mais austero será capaz de resgatar a confiança de consumidores e, principalmente, de empresários e investidores.
"O cenário para 2015 vinha se deteriorando há meses e tudo indicava que o País caminhava para a recessão, aumento do desemprego, queda da renda, com inflação e perda do grau investimentos: poderíamos retroceder uns 10 anos", diz Marina.
"Ainda não temos os detalhes sobre o ajuste, mas se o discurso for posto em prática, pode recuperar a confiança."
Em outras palavras: o ajuste vai doer em 2015, mas pode deixar a economia mais saudável a partir de 2016. Colaborou Carmem Pompeu, especial para o jornal O Estado de S.Paulo.
São Paulo - Em suas projeções, economistas de diferentes matizes podiam discordar das medidas que deveriam ser adotadas em relação à economia no próximo ano, mas sempre houve uma unanimidade entre eles: 2015 seria um ano difícil.
Na quinta-feira, 27, a fala conjunta dos futuros ministros da Fazenda, Joaquim Levy , e do Planejamento, Nelson Barbosa, ao lado do reconduzido presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reafirmou a projeção.
O ano será de duros ajustes que vão afetar a vida de todos os brasileiros. Pode parecer um contrassenso, mas a mensagem foi bem recebida pelos economistas.
Isso ocorreu porque, diferentemente da atual equipe econômica, a nova mostrou que reconhece o cenário ruim e sinalizou que vai trabalhar para corrigir a rota.
"A nova equipe econômica é uma clara mudança de rumo", diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso.
"E é uma mudança correta, porque os resultados do primeiro mandato se mostraram ruins. Então, agora não tem mais sentido qualquer análise catastrófica para a economia no ano que vem."
Segundo ele, um dos efeitos imediatos é o de que o mercado de trabalho, que começava a dar sinais de arrefecimento, não vai piorar tanto como o esperado.
O economista Eduardo Giannetti, que trabalhou na campanha da candidata à presidente Marina Silva (PSB), ainda tem dúvidas sobre se haverá espaço político para a nova equipe trabalhar, mas concorda com a visão.
"Caso o novo ministro possa colocar em prática suas ideias, é possível que o cenário de turbulências comece a mudar."
Ano duro
Uma boa pista sobre qual será o impacto de um eventual ajuste no dia a dia das pessoas está no valor anunciado do superávit primário (a economia do governo para pagar os juros da dívida). Levy falou em 1,2% de primário.
Ele é conhecido por ser um ortodoxo, então, a expectativa é de que faça um primário sem truques, que dependa de uma arrecadação mais robusta e de um legítimo corte de gastos.
"Nesse cenário, não tem mágica: teremos aumento de impostos e cortes de subsídios", avalia Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria Integrada.
Já se prevê aumento da Cide, que hoje está zerada, o que vai elevar o preço da gasolina. Também existe a expectativa de que as passagens de metrô e de ônibus, hoje represadas, sejam reajustadas.
O mesmo vai ocorrer com a energia. Pelas expectativas da Tendências Consultoria, o reajuste médio da conta de luz será de 18%.
O aumento das tarifas vai pressionar a inflação, que já encostou no teto da meta (de 6,5%). Assim, para fazer a inflação ceder, será preciso segurar o consumo.
A Selic, a taxa básica de juros, com certeza será elevada, encarecendo o crédito. As prestações, do calçado mais básico ao carro mais luxuoso, vão ficar maiores.
Gastos públicos
Há porém uma expectativa positiva em relação ao outro lado da equação do ajuste: o lado do gasto público.
"Se Joaquim Levy cortar gastos ou ao menos segurá-los para que parem de subir acima da receita, teremos dois efeitos benéficos", diz Marina Santos, economista-chefe da gestora Mauá Sekular.
O primeiro, diz ela, é aliviar a alta dos juros. A Selic ainda seria elevada, mas em pontos porcentuais menores. Assim, o tranco sobre o crédito tenderia a ser menor.
Isso é possível porque, para cada ponto porcentual a mais que o governo poupa, representa um ponto porcentual a menos para se elevar na Selic.
O outro fator positivo é que um governo mais austero será capaz de resgatar a confiança de consumidores e, principalmente, de empresários e investidores.
"O cenário para 2015 vinha se deteriorando há meses e tudo indicava que o País caminhava para a recessão, aumento do desemprego, queda da renda, com inflação e perda do grau investimentos: poderíamos retroceder uns 10 anos", diz Marina.
"Ainda não temos os detalhes sobre o ajuste, mas se o discurso for posto em prática, pode recuperar a confiança."
Em outras palavras: o ajuste vai doer em 2015, mas pode deixar a economia mais saudável a partir de 2016. Colaborou Carmem Pompeu, especial para o jornal O Estado de S.Paulo.