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Ajustes duros não tiram Brasil da crise, diz economista

Para Laura, a crise pode ser revertida se a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff fizer mudanças no regime fiscal e na meta de inflação

Segundo a economista, o governo deveria aproveitar a recessão, que reduz a arrecadação, para fazer uma reforma no regime fiscal (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de julho de 2015 às 09h56.

Brasília - A crise econômica brasileira não será resolvida com ajustes duros. Essa é a avaliação da economista Laura Carvalho, professora da Universidade de São Paulo (USP), doutora pela New School for Social Research, em Nova York (EUA) e voz do pensamento desenvolvimentista.

Para Laura, a crise pode ser revertida se a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff fizer mudanças no regime fiscal e na meta de inflação.

Laura é coautora do recém-lançado livro Indústria e Desenvolvimento Produtivo do Brasil, feito em parceria com os economistas Nelson Marconi e Maurício Pinheiro, além do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.

Laura divide com o ministro a mesma bagagem acadêmica: ambos fizeram graduação e mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado na New School, berços desenvolvimentistas no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente.

"A meta fiscal deste ano claramente não será cumprida, mesmo depois de todos os esforços até aqui, que envolveram fortes cortes de investimentos públicos, o aumento de alguns impostos e a restrição de benefícios trabalhistas. Agora, o governo deve reduzir a meta, mas isso não resolve o problema estrutural", disse Laura, em entrevista ao Estado.

Segundo ela, o governo Dilma deveria aproveitar a recessão, que reduz a arrecadação, para fazer uma reforma no regime fiscal.

Bandas

De acordo com a economista, o governo deveria introduzir um regime de metas fiscais em que o volume do superávit primário (a economia de recursos públicos voltada ao pagamento dos juros da dívida pública) é ajustado ao ciclo econômico e conta com "bandas" para administração.

Isto é, caso o País atravesse uma recessão, como ocorre agora, a meta fiscal pode ser administrada de acordo com as circunstâncias.

"Apesar de todo o ajuste que foi conduzido no primeiro semestre, a confiança dos empresários e dos consumidores continuou caindo. É hora de o governo aumentar o investimento público e sinalizar que haverá uma melhora, e não de buscar mais ajuste", disse Laura, para quem esse aumento de gastos com investimentos poderia ser financiado com o aumento de impostos sobre a renda e sobre a herança - como parte do governo defende.

A professora da USP entende que o atual patamar das metas fiscais deste ano e do próximo "impõe" ao governo o caminho das manobras contábeis e das "pedaladas fiscais", combinadas com a busca incessante de receitas extraordinárias.

"Esse foi um caminho que deu errado, mas como chegar em uma meta fiscal tão alta vivendo uma recessão? O governo deveria seguir o caminho atual, que acaba com as manobras e pedaladas, mas aprofundar uma nova estratégia, mudando todo o regime", disse ela.

Segundo a economista, as reformas na política econômica deveriam atingir também o regime de meta de inflação, que, tal qual o superávit primário, foi introduzido em 1999 e faz parte do "tripé macroeconômico", que é completado com o câmbio flutuante.

O mercado financeiro estima que a inflação deve fechar o ano com um avanço próximo a 9%, o maior em 12 anos. No esforço para reduzir a alta de preços, o Banco Central (BC) vem elevando a taxa básica de juros há mais de um ano.

Hoje, o juro básico está em 13,75% ao ano e o mercado projeta novos aumentos. Para Laura, no entanto, essa política do BC reforça o ajuste fiscal ao "inibir" os investimentos privados, sem ter efeito preciso sobre os preços.

"O próprio BC registra em seus relatórios e atas que a inflação está alta pela correção dos preços controlados e pelo efeito câmbio. Com recessão, a demanda caiu, então como que continua subindo tanto os juros para controlar aumento de preços que não estão reagindo à demanda?", questiona.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Brasília - A crise econômica brasileira não será resolvida com ajustes duros. Essa é a avaliação da economista Laura Carvalho, professora da Universidade de São Paulo (USP), doutora pela New School for Social Research, em Nova York (EUA) e voz do pensamento desenvolvimentista.

Para Laura, a crise pode ser revertida se a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff fizer mudanças no regime fiscal e na meta de inflação.

Laura é coautora do recém-lançado livro Indústria e Desenvolvimento Produtivo do Brasil, feito em parceria com os economistas Nelson Marconi e Maurício Pinheiro, além do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.

Laura divide com o ministro a mesma bagagem acadêmica: ambos fizeram graduação e mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado na New School, berços desenvolvimentistas no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente.

"A meta fiscal deste ano claramente não será cumprida, mesmo depois de todos os esforços até aqui, que envolveram fortes cortes de investimentos públicos, o aumento de alguns impostos e a restrição de benefícios trabalhistas. Agora, o governo deve reduzir a meta, mas isso não resolve o problema estrutural", disse Laura, em entrevista ao Estado.

Segundo ela, o governo Dilma deveria aproveitar a recessão, que reduz a arrecadação, para fazer uma reforma no regime fiscal.

Bandas

De acordo com a economista, o governo deveria introduzir um regime de metas fiscais em que o volume do superávit primário (a economia de recursos públicos voltada ao pagamento dos juros da dívida pública) é ajustado ao ciclo econômico e conta com "bandas" para administração.

Isto é, caso o País atravesse uma recessão, como ocorre agora, a meta fiscal pode ser administrada de acordo com as circunstâncias.

"Apesar de todo o ajuste que foi conduzido no primeiro semestre, a confiança dos empresários e dos consumidores continuou caindo. É hora de o governo aumentar o investimento público e sinalizar que haverá uma melhora, e não de buscar mais ajuste", disse Laura, para quem esse aumento de gastos com investimentos poderia ser financiado com o aumento de impostos sobre a renda e sobre a herança - como parte do governo defende.

A professora da USP entende que o atual patamar das metas fiscais deste ano e do próximo "impõe" ao governo o caminho das manobras contábeis e das "pedaladas fiscais", combinadas com a busca incessante de receitas extraordinárias.

"Esse foi um caminho que deu errado, mas como chegar em uma meta fiscal tão alta vivendo uma recessão? O governo deveria seguir o caminho atual, que acaba com as manobras e pedaladas, mas aprofundar uma nova estratégia, mudando todo o regime", disse ela.

Segundo a economista, as reformas na política econômica deveriam atingir também o regime de meta de inflação, que, tal qual o superávit primário, foi introduzido em 1999 e faz parte do "tripé macroeconômico", que é completado com o câmbio flutuante.

O mercado financeiro estima que a inflação deve fechar o ano com um avanço próximo a 9%, o maior em 12 anos. No esforço para reduzir a alta de preços, o Banco Central (BC) vem elevando a taxa básica de juros há mais de um ano.

Hoje, o juro básico está em 13,75% ao ano e o mercado projeta novos aumentos. Para Laura, no entanto, essa política do BC reforça o ajuste fiscal ao "inibir" os investimentos privados, sem ter efeito preciso sobre os preços.

"O próprio BC registra em seus relatórios e atas que a inflação está alta pela correção dos preços controlados e pelo efeito câmbio. Com recessão, a demanda caiu, então como que continua subindo tanto os juros para controlar aumento de preços que não estão reagindo à demanda?", questiona.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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