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Agências são armas dos bancos para vender seguros populares

Enquanto as seguradoras independentes têm dificuldades para divulgar seus produtos, as empresas ligadas aos bancos contam com sua rede de distribuição

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h37.

A disputa no mercado de seguro popular está esquentando com a entrada de grandes bancos, como o Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (CEF). Embora sejam a minoria no segmento de seguros (há cerca de 15 seguradoras vinculadas a instituições financeiras, num universo de 120 empresas), os bancos com uma grande vantagem: a capilaridade dos canais de distribuição, como agências e homebankings. Assim, embora não sejam os primeiros a explorar os seguros populares, os bancos ameaçam conquistar uma boa fatia do mercado.

Segundo o sócio da G5 Solutions, consultoria especializada no mercado de seguros, Jorge Abel Peres Brazil, as seguradoras estão adotando duas estratégias para avançar sobre as classes C, D e E. As empresas não ligadas a bancos buscam apoio em sua rede de corretores próprios e autônomos, enquanto os bancos apostam em seus próprios canais. Isso cria dificuldades à atuação das seguradoras independentes.

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Algumas empresas estão buscando soluções criativas para vender seus produtos. A ACE Insurance, por exemplo, está transformando seus clientes corporativos em canais de distribuição para popularizar o seguro. Entre as companhias que atende, está a Telefônica. Mesmo assim, não é sempre que a seguradora consegue uma saída deste tipo. "A falta de capilaridade dos canais é o grande problema das seguradoras. Às vezes, a empresa é uma gigante no exterior, mas têm operações pequenas no Brasil", afirma Brazil. A saída é recorrer aos corretores, que nem sempre têm recursos ou disposição para divulgar os lançamentos. "As seguradoras ficam um tanto reféns da situação", diz Brazil.

Clientes na base

É neste ponto que as companhias ligadas aos bancos levam vantagem. Com a regulamentação dos seguros populares, em estudo pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), espera-se que a concorrência aumente. Mas as instituições financeiras possuem dois pontos a seu favor: a capilaridade e a grande base de correntistas que ainda não tem nenhum tipo de seguro. Ampliar a porcentagem de correntistas segurados, aliás, é a principal meta dos bancos. "A concorrência no mercado de seguros está ligada ao poder de vendas, isto é, aos canais de cada competidor", afirma o superintendente de Marketing e Relacionamento do Bradesco Vida e Previdência, Jorge Nasser.

Segundo dados da G5 Solution, em média, apenas 13% dos correntistas dos grandes bancos possuem algum tipo de seguro, plano de capitalização ou previdência privada. E, como era previsível, a concentração ocorre nas classes A e B. "Na realidade, os produtos apresentavam valores intangíveis para a maioria dos brasileiros. O mercado popular é um grande filão", diz Nasser, do Bradesco.

Estima-se que, dos 175 milhões de brasileiros, apenas 45 milhões possuam conta corrente. Desse total, só 4 milhões têm renda mensal acima de 10 mil reais e consomem produtos de vida e previdência. Neste segmento de alto poder aquisitivo, os clientes mantêm, em média, 2,5 contas correntes. Com o encarecimento das tarifas bancárias, a tendência é que essa proporção caia e os bancos aumentem a disputa para conquistá-lo. "É um mercado de troca de clientes, não de aumento de carteira", afirma Brazil, da G5 Solutions.

O aumento da carteira de seguros, capitalização e previdência só virá, segundo Brazil, com a popularização dos produtos. "Para ser um produto realmente popular, voltado para quem ganha até três salários mínimos, o valor pago pelo cliente não pode superar 3,5 reais por mês", diz. A cifra está bem abaixo dos prêmios praticados hoje. O Vida Segura Bradesco, por exemplo, cobra 9,90 reais por mês. Já o Caixa Vida da Gente, da CEF, sai por 25 centavos ao dia (cerca de 7,5 reais por mês).

Iscas

Ciente de que é possível baratear ainda mais os produtos, a CEF está trabalhando numa nova versão dos seus produtos. "A idéia é ter uma apólice ainda melhor", afirma o vice-presidente de Negócios Bancários da instituição, Fábio Lenza. Experiente em lidar com o público de baixa renda, a CEF acredita que atendê-lo é mais rentável quando se observam todas as necessidades do cliente. "Não podemos apenas abrir uma conta e ampliar a bancarização dessas classes. Há algumas peculiaridades", diz Lenza.

Entre elas, está a oferta de algumas "iscas" para atrair o público. O principal deles é o sorteio de prêmios. Com isso, os seguros populares funcionam de modo semelhante aos chamados produtos de acumulação (capitalização e previdência privada, por exemplo). E isto também favorece a atuação das seguradoras ligadas aos bancos. "Cerca de 85% do faturamento dos produtos de acumulação vem dos bancos. É um tipo de produto que cresce muito devido à atuação dos bancos.", afirma Brazil, da G5 Solutions.

Na prática, os ganhos das empresas com o segmento popular se baseiam na escala de vendas. "Só tem sentido pensar em milhares de clientes, quando se atua nas classes C, D e E", diz Nasser, do Bradesco. No Bradesco, por exemplo, a meta é atingir 2 milhões de vidas seguradas até dezembro, dos quais, 400 mil com o seguro popular. No final de junho, havia 250 mil apólices vendidas para esse mercado, num total de 1,480 milhão de contratos. "Uma participação de 20% do mercado popular sobre nossos negócios é um bom ponto de partida, mas podemos crescer mais", diz Nasser. Traduzindo: a briga pelo mercado popular está longe de terminar.

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