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Adeus, doçura

O difícil caminho do açúcar brasileiro

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h23.

Qual é o futuro de uma indústria que enfrenta queda de demanda justamente no país que concentra o maior número de consumidores ricos do planeta? Nos Estados Unidos e, em menor grau, na Europa, não falta quem alardeie supostos danos à saúde causados pelo açúcar. Para o inglês Jonathan Drake, diretor mundial de açúcar da Cargill, uma das grandes traders do setor, isso não tem o menor efeito sobre o Brasil, o maior produtor e exportador mundial do produto. Afinal, gostando ou não de doces, americanos e europeus já barram a entrada do produto brasileiro em seus países. Segundo Drake, as oportunidades para o Brasil estariam em regiões como o norte da África e o Oriente Médio. Ele esteve recentemente em São Paulo para participar de uma conferência internacional promovida pela consultoria Datagro por ocasião do Sugar Dinner, o tradicional jantar do setor, criado há 55 anos em Londres e organizado pela segunda vez no Brasil. Na ocasião, Drake falou a EXAME.

O AÇÚCAR SOB SUSPEIÇÃO

A visão de que o produto faz mal à saúde surgiu na parte rica do mundo, onde o consumo é exagerado. Se alguém, como os americanos, consome 74 quilos de açúcar ou de adoçantes por ano, é realmente um exagero. No mundo, o consumo médio per capita é de apenas 25 quilos. No Brasil, chega a 52 quilos. O mesmo critério se aplica a qualquer outro alimento. Se alguém comer muito pão, acabará prejudicando a saúde.

O FUTURO DO NEGÓCIO DO AÇÚCAR

Nos últimos dois anos, o consumo anual nos Estados Unidos caiu de 74 para 72 quilos. Vem daí talvez a percepção de que não haveria grande futuro para esse mercado. Os usineiros brasileiros estão preocupados. Mas a maioria da população mundial -- na África, na China ou na Índia -- não acha que o açúcar é prejudicial à saúde. Ele é a fonte de energia mais barata hoje disponível.

AS DIFICULDADES DE ACESSO AOS MERCADOS

No grupo das 20 nações mais populosas do mundo, só uma não produz açúcar e apenas duas não alcançaram a auto-suficiência. Evidentemente, os produtores brasileiros adorariam ter acesso aos mercados dos países ricos onde o produto subsidiado é vendido por um preço seis vezes maior do que no Brasil. Em dez anos, a União Européia deixará de ser grande exportadora de açúcar. Isso não quer dizer que exista aí uma oportunidade para o Brasil. Os europeus comprometeram-se a ajudar um grupo de 46 nações menos favorecidas, como Sudão, Zâmbia, Tanzânia e Moçambique, que passarão a comercializar o produto sem restrições de preço ou de cotas.

ONDE ESTÃO AS OPORTUNIDADES

Em países como Nigéria e Iêmen, o consumo cresce 5% ao ano. Em alguns desses lugares, 50% da população tem menos de 15 anos de idade e, como se sabe, os jovens tendem a consumir mais doces. Nessas regiões, a taxa de crescimento demográfico e o PIB per capita têm aumentado. Na China, a cada ano, 1% da população muda-se para as cidades. No campo, o consumo médio de açúcar é de 2 quilos anuais ante 22 quilos do cidadão urbano -- anualmente, são novos 10 milhões de chineses que passam a consumir nas cidades uma quantidade de açúcar dez vezes maior. O efeito disso para o Brasil é nulo. A produção chinesa tende a cobrir a demanda crescente.

COMO LUCRAR COM O COMÉRCIO DE AÇÚCAR

Quem quiser uma fatia maior dessa riqueza deve comprar uma refinaria no protegido mercado europeu. Não é certo pensar que é fora do Brasil que o setor realmente faz dinheiro. Nos últimos dois ou três anos, os investimentos no Brasil foram imensamente lucrativos. A eficiência do setor deixou os preços tão competitivos que fizeram do país uma superpotência do açúcar.

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